Khodorkóvski não tem previsão de retorno à Rússia

Coletiva de imprensa com Khodorkóvski aconteceu em Berlim neste domingo Foto: Reuters

Coletiva de imprensa com Khodorkóvski aconteceu em Berlim neste domingo Foto: Reuters

O ex-proprietário da empresa de petróleo Yukos, Mikhail Khodorkóvski, foi libertado na sexta-feira passada e voou à Alemanha para se encontrar com familiares. Observadores dizem que libertação de empresário foi feita sob uma série de condições com o Kremlin.

Na véspera do encontro de Khodorkóvski com os jornalistas, o assessor de imprensa de Vladímir Pútin, Dmítri Peskov, disse que, apesar da partida do empresário para a Alemanha, “ele é um homem para voltar à Rússia quando quiser”. No entanto, na coletiva de imprensa deste domingo (22), o próprio Khodorkóvski garantiu que, apesar do decreto, ele ainda tem uma ação judicial de caráter financeiro ainda em curso.

“No momento, não tenho nenhuma garantia”, disse o empresário recém-libertado. “Do ponto de vista formal, o Supremo Tribunal da Rússia tem que confirmar a decisão do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, que anulou a ação judicial iniciada relativamente ao primeiro processo da Yukos contra mim e meu parceiro Platon Lebedev. Por enquanto isso não aconteceu e, por isso, ainda não posso voltar.”

O empresário pretende permanecer em Berlim, onde sua mãe está passando por um tratamento, mas admitiu que gostaria de defender os direitos de presos e que não pretende se envolver em política.

“Se o empresário vai defender os direitos daqueles que estão atrás das grades, ele não terá como evitar a política”, disse o comentarista político Aleksandr Nekrásov ao canal Russia Today.

Bem-bolado do Kremlin

Alguns especialistas sugeriram que a libertação de Khodorkóvski pressupõe certas condições. “As relações entre Pútin e Khodorkóvski são plenamente guiadas pelo presidente”, afirma o professor da Escola Superior de Economia e analista político Nikolai Petrov. “Obviamente foram postas condições ao ex-dono da Yukos, e se ele violar o combinado as autoridades têm como agir.”

A libertação do empresário também traz uma série de benefícios para o Kremlin. “Por um lado, o perdão a Khodorkóvski serve para desviar as atenções dos problemas do governo, da desaceleração da economia e da generosa assistência de US$ 15 bilhões proposta à Ucrânia. Por outro, com isso a Rússia melhora a sua imagem no exterior frente aos Jogos Olímpicos”, diz Kirill Petrov, da consultoria Minchenko. 

“Na década de 90, ele nem sequer estava envolvido na luta política. Ele chegou ao governo como vice-ministro da economia e depois disso a sua empresa começou a crescer rapidamente”

Mandela de araque

O analista político Dmítri Babitch refuta todas as opiniões que comparam Khodorkóvski a Nelson Mandela. “Na década de 90, ele nem sequer estava envolvido na luta política. Ele chegou ao governo como vice-ministro da economia e depois disso a sua empresa começou a crescer rapidamente”, diz. “Ele é um típico produto dos anos 90, que aumentou a sua fortuna usando todos os meios. A sua única atividade política foi apoiar o Partido Liberal Democrático Iábloko e o Partido Comunista nas eleições.”

Segundo Babitch, antes da briga de Khodorkóvski com Pútin, a sua imagem no Ocidente era ruim. “Mas, por alguma razão, hoje ninguém se lembra disso”, aponta. “Por volta de 2000-2001, a Yukos quis privatizar várias empresas na Alemanha, mas os acordos não foram concluídos porque o proprietário russo não estava dispostos a pagar salários decentes aos trabalhadores. Ele era visto como um oligarca.”

Foi somente nos últimos 10 anos que os jornalistas estrangeiros se esforçaram para melhorar a imagem de Khodorkóvski, garante o cientista político.

 

Com materiais da Russia Today, Neft Rossii e Gazeta.ru

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