Pútin culpa forças externas pela crise ucraniana

Os protestos na Ucrânia foram além das manifestações maciças dos moradores de Kiev Foto: Reuters

Os protestos na Ucrânia foram além das manifestações maciças dos moradores de Kiev Foto: Reuters

De acordo com o presidente russo Vladímir Pútin, os recentes protestos na Ucrânia, conhecidos como “Euromaidan”, têm influência externa. Especialista, contudo, acredita que as manifestações são apenas reação à política das autoridades nacionais.

“Os protestos que acompanhamos na Ucrânia são orquestrados a partir de fora”. Esse foi o comentário do líder russo Vladímir Pútin sobre as manifestações que tomaram as ruas de Kiev e outras cidades ucranianas, depois de as autoridades nacionais anunciarem o fim das negociações para integração da Ucrânia à União Europeia na semana passada.

“Tudo o que está acontecendo não tem relação direta com a integração europeia. Trata-se de um processo da política interna, uma tentativa da oposição de abalar o poder legítimo do país”, continuou Pútin, ao dizer que os protestos não são exatamente “espontâneos”. “Tais ações bem delineadas estavam reservadas não para agora, mas para a campanha presidencial da primavera de 2015.”

Além disso, o líder russo reiterou que a oposição ucraniana tem potencial de se tornar um biombo político para os extremistas. Os protestos contra a decisão do gabinete de ministros ucraniano já se prolongam há 10 dias e, durante confrontos com as forças policiais, mais de 300 pessoas ficaram feridas.

Os recentes protestos na Ucrânia ficaram conhecidos como “Euromaidan” em referência à chamada “Revolução Laranja” na Praça da Independência (Maidan Nezalejnosti), que ocorreu em Kiev no ano de 2004.

Enquanto a oposição ucraniana alega que tais confrontos no centro de Kiev foram arquitetados pelas autoridades, obedecendo o “roteiro de políticos pró-russos”, o primeiro-ministro ucraniano, Nikolai Azarov, declarou os responsáveis pelos tumultos já foram identificados.

O presidente do Comitê para Assuntos Internacionais da Duma de Estado (câmara baixa do Parlamento russo), Aleksêi Puchkov, está certo de que as autoridades ucranianas se tornaram reféns da oposição radical. “Vimos em Kiev deputados do Parlamento Europeu e o presidente da câmara dos deputados do Parlamento da Lituânia incitando os manifestantes contra o governo”, disse. “A fonte disso tudo é a oposição, os radicais que estão bloqueando os edifícios governamentais e tomando conta dos espaços públicos, com apoio de representantes da UE.”

Revolta epidêmica

Os protestos na Ucrânia foram além das manifestações maciças dos moradores de Kiev. Na segunda-feira passada (2), a população das cidades ucranianas de Lvov e Ivano-Frankovsk decretou greve geral, e outras regiões acabaram sendo influenciadas pelo movimento “Euromaidan”.

Ao contrário das declarações de Pútin, o presidente do Centro de Pesquisa Analítica Polititcheskaia Analítica, Mikhail Tulski, garante que a situação na Ucrânia representa uma reação da sociedade em relação à política governamental.

“Em primeiro lugar, mais de metade da população da Ucrânia encara com bons olhos a União Europeia. Além disso, as eleições presidenciais, marcadas para 2015, não estão assim tão próximas”, destacou Túlski.

Para Andrêi Kortunov, diretor-geral do Conselho Para os Assuntos Internacionais da Rússia, há na Ucrânia forças que vão complicando a situação e acusando a Rússia de ingerência. Por outro lado, não é de excluir que as autoridades peçam ajuda económica à Rússia.

Socorro russo

Segundo Túlski, se a situação na Ucrânia piorar, é provável que os dirigentes ucranianos solicitem concessões à Rússia, sobretudo no fornecimento de gás e em medidas práticas para diminuir a tensão social e acabar com os protestos.

Depois de 350 mil ucranianos cercarem os principais prédios do governo em Kiev, o presidente Víktor Yanukovitch retomou no início desta semana as negociações sobre um pacto de adesão à União Europeia.

Mesmo assim, Kortunov acredita que trata-se de um processo complexo e que levaria algum tempo para os resultados se materializarem. “Será preciso estipular alguns prazos, e é provável o processo também exija certas condições suplementares”, diz.

 

Com informações do Kommersant, Vzgliad e agência de notícias RIA Nóvosti

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