Surkov afirmou não pretender participar do movimento da oposição Foto: ITAR-TASS
Antigo ideólogo do Kremlin e ex-vice-premiê, Vladislav Surkov concedeu à revista “Russian Pioneer” sua primeira entrevista após ter pedido demissão. Na conversa, disse não ter a intensão de passar para o lado da oposição. Confessou ainda que não gosta de fazer amigos e ter certeza de que conhecer a si mesmo só é possível depois de passar por uma situação difícil de estresse.
Decisão
Surkov diz ter renunciado ao cargo de vice-primeiro ministro por decisão própria, apesar de políticos e cientistas políticos terem visto motivação na decisão por uma falta de cumprimento das diretrizes do chefe do país.
“A decisão foi emocional. Assim como acontece com todas as decisões sérias tomadas por pessoas normais.”
Oposição
O político afirmou não pretender participar do movimento da oposição.
“Depois de tudo o que houve entre nós, ou eles são meus rivais ou simplesmente inimigos. Não lhes darei suporte algum. Nenhum descanso. Claro que agora os meus recursos não são os mesmos. Mas não importa, vou combater sozinho. Se suas ideias são tóxicas, se mentem para as pessoas do bem e se, como hipócritas, passam a imagem de santos, o que fazer com eles? Precisam ser combatidos.”
Amizades
O antigo vice-premiê também afirmou não gostar de fazer amigos.
“A palavra amigo está sobrecarregada de um sentido romântico pesado para mim. A amizade tem algo de antiquado e totalitário. Sem motivo aparente, você de repente é declarado amigo e já deve isso e aquilo. Por quê? Prefiro relações por meio de acordos. Estes são claros e podem ser dissolvidos em comum acordo e sem emoções.”
Sem experimentos
Surkov falou que a Rússia não deve passar por experimentos atualmente. Para ele, é preciso resolver os problemas cotidianos.
“Nessa obsessão pela mudança, existe algo estupidamente monótono. Quando uma pessoa nada tem para ver dentro de si mesma, ela fica encarando a janela. Na esperança de ver uma briga, por exemplo. Ou vai ao circo. Hoje, as mudanças são diárias e tão rotineiras que chegam a dar tédio. Entendo melhor o sentido da inovação tecnológica –novos materiais de construção, medicamentos e máquinas. O motivo é compreensível. Mas sobre as mudanças em geral, quando voa em um avião, você não sobe na asa para consertá-la com uma serra.”
Amar a Rússia
Com ironia, Surkov também observou que a moda agora é amar a Rússia.
“Veja os novos bolsões de luxo. E por trás de tudo isso, os oligarcas do petróleo. É impossível não amar”, diz.
Entender a si mesmo
Para entender a si mesmo é preciso passar por uma situação de estresse, explica Surkov.
“Ponha-se em uma posição difícil. Insuportável. Ou pelo menos em uma situação ridícula, se estiver com medo. Permaneça nesta situação pelo tempo mais longo possível. Em seguida, saia dela. Observe o que sobrou de você. É provável que reste pouco. Mas este pouco, na verdade, é você”, diz Surkov.
“A vida como é vista pela humanidade seja, talvez como um todo, desprovida de sentido. Todos, é claro, mostram-se corajosos e não confessam. Irradiam animação. Vivemos por isso, por aquilo, por aquilo outro. Mas dentro de cada um, a alma repete –não, não é isso. Porque o homem não vive para si mesmo. Percebeu que não é ele que importa. Mas o que importa, ele não sabe. Afinal, fala-se que atualmente enxergamos através de um vidro opaco. E que depois veremos claramente. Então, a nossa causa não está perdida. Logo, encontraremos um sentido.”
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