Jovem segura fotografia de Naválni durante protesto que reuniu 10 mil manifestantes no centro da capital Foto: Iliá Krol/Gazeta Russa
As manifestações têm sido uma constante em Moscou, mas a concentração popular na quinta-feira passada (18) em prol do líder da oposição Aleksêi Naválni constituiu um fato inédito. O protesto não autorizado a 200 metros do Kremlin foi realizado porque, horas antes, Naválni havia sido condenado a cinco anos de prisão por um suposto crime económico.
Como a sentença já era esperada, os manifestantes já haviam convocado uma ação de protesto na praça Manej, a qual designavam de concentração popular, já que qualquer manifestação política pressupõe uma autorização oficial do governo.
No entanto, desde a véspera, todas as entradas para a praça foram fechadas pela polícia e forças do Ministério do Interior. Mas isso não foi uma barreira para a população, que encheu todas as ruas adjacentes e transformou a concentração em uma grandiosa manifestação a partir das 19hs. Segundo a oposição, havia 10 mil pessoas reunidas no centro da capital.
O clima era de confronto silencioso entre a multidão, e os policiais, já que não havia bandeiras, cartazes ou tumulto. De vez em quando, ouvia-se alguém gritando “Vergonha” ou “É inocente”, mas essas pessoas eram imediatamente separadas da multidão e arrastadas para o outro lado das grades, onde esperava o camburão. Ao todo, mais de 200 pessoas foram detidas.
Pouco a pouco, os gritos foram se multiplicando. Os automóveis que passavam buzinavam em sinal de apoio; os seus condutores mostravam o “V” da vitória, enquanto a multidão aplaudia. Em um dado momento, uma idosa de muletas consegui ultrapassar a barreira policial e juntou as suas auxiliares para fazer um “v” no ar. Outra idosa, do outro lado da rua, respondeu-lhe da mesma maneira.
A multidão era heterogênea e reunia pessoas que, em outras circunstâncias, dificilmente seriam vistas lado a lado. Entre os manifestantes estavam o ativista ortodoxo e nacionalista Dmítri Enteo, o conhecido poeta Liev Rubinstein e até mesmo o ex-politólogo do Kremlin, Gleb Pavlovski. As janelas e varandas dos edifícios também estavam lotadas de pessoas, que assobiavam, aplaudiam e fotogravam os acontecimentos.
“Naválni é hoje a única figura que congrega vários segmentos da oposição, sejam liberais, da direita ou da esquerda”, disse Andrei Lejnev, líder da banda rock de protesto “A Rica Vida Interior”. “Mas não se trata só dele. Ao defendermos Naválni, estamos protegendo a liberdade e a pátria dos corruptos, da máfia que ocupa os cargos dirigentes no Kremlin.”
O deputado Guennádi Gudkov, do partido da oposição “Rússia Justa”, chegou a afirmar que o Estado havia transformado Naválni “de líder de protestos de rua em um político com letra maiúscula”. “Ações de protesto e concentrações são necessárias, mas o importante é votar nas eleições e controlar o ato eleitoral. As pessoas estão aqui para defender o seu direito a eleições honestas. Nada mais do que isso”, acrescentou Serguêi Mitrokhin, do “Iábloko”.
Entres os manifestantes, ouvia-se ainda “A cidade é nossa”. E na noite do desta quinta-feira, o centro da cidade, dividido em quadrados pelas forças policiais, realmente pertencia aos cidadãos comuns. Os manifestantes dispersaram apenas às 2 da manhã, com a sensação de terem alcançado uma vitória. Na manhã seguinte, soube-se que Naválni havia sido libertado depois de o mesmo tribunal aceitar um recurso da procuradoria.
Neste sábado, o líder da oposição sábado confirma sua participação na corrida eleitoral para prefeitura de Moscou, mesmo com a possibilidade de ser preso outra vez caso a sentença da última quinta-feira seja confirmada em um novo julgamento.
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