Especialistas alegam que Pútin utilizará nova sigla para garantir quarto mandato como presidente da Rússia Foto: AP
Nos últimos tempos, a reputação do partido pró-Kremlin Rússia Unida foi manchada por diversos escândalos, desde casos envolvidos membros implicados em plágio de teses aos políticos que possuem bens não declarados no exterior, suscitando dúvidas em relação à origem dos recursos utilizados para a sua aquisição.
De acordo com os dados do Centro Levada, o número de russos que concordam com a declaração da oposição de que o Rússia Unida é um “partido de bandidos e ladrões” aumentou de 31% para 52% ao longo do últimos dois anos.
Muitos filiados ao partidos governista que participam das eleições regionais têm se sobressaído por conta própria, e não graças ao partido. Exemplo disso é o atual prefeito de Moscou, Serguêi Sobiânin, que é membro do Rússia Unida desde 2002.
A mesma pesquisa apontou que de 12% a 16% dos seguidores do presidente Pútin não votariam na sigla no futuro.São justamente os eleitores leais a Pútin, mas que não estão dispostos a votar no Rússia Unida, que são o principal alvo da Frente Popular da Rússia (ONF, na sigla em russo).
O grupo foi criado em maio de 2011 por iniciativa do presidente apresenta uma coalizão de grupos de trabalho, bem como forças públicas e políticas, incluindo o próprio Rússia Unida. “Se você é a favor de Pútin, então você é a favor da Frente”, dispara o outdoor de propaganda da ONF.
Segundo o analista político Boris Makarenko, “o objetivo das autoridades é criar uma nova plataforma para a possível ascensão de Pútin ao quarto mandato”. Ao longo de dois anos, cerca de duas mil organizações se uniram à ONF, como, por exemplo, a empresa Russian Railways. Em abril passado, até mesmo o partido Rússia justa, que possui a terceira maior bancada da Duma, declarou a intenção de cooperar com a Frente.
Apesar da ampla representação de diversas organizações, a enquete realizada em maio pelo Centro Levada mostrou que 42% dos russos nunca tinha ouvido falar da ONF, e 39% “ouviram algo, mas não sabem o que é”.
"Na Rússia de hoje, quanto mais o eleitor se interessa pela política, mais criticamente ele se posiciona em relação às autoridades atuais”, diz o cientista político Mikhail Vinogradov. “Por isso, o apoio no qual está apostando a Frente Popular é constituído por cidadãos apolíticos que podem nem estar particularmente interessados nela, mas no momento decisivo poderão dizer que são a favor da estabilidade e contrários à mudança de poder.”
Mais do mesmo
A ONF promete criar centros públicos para monitorar a proteção dos direitos humanos, qualidade de saúde, desenvolvimento do sistema educacional, problemas com habitação e serviços comunitários, ecologia, empreendedorismo e questões de imigração, entre outros.
Nas palavras de seu líder, Vladimir Pútin, a ideia é que se torne um movimento social amplo, “para que todos os cidadãos do país tenham a oportunidade de levantar os seus próprios problemas, procurar alcançar a solução e mover aquelas questões que, por vezes, ficam atoladas no pântano burocrático”.
Porém, durante discurso na convenção da Frente, no último dia 12, o presidente não apresentou conclusões a respeito dos resultados dos dois anos de atividade da ONF. Até então, também não foi percebida a atuação dos membros da ONF em qualquer projeto de grande porte.
Durante o encontro, o presidente Pútin incentivou os seus seguidores a participarem das eleições. Um quarto dos deputados eleitos para a Duma e que eram integrantes da lista do Rússia Unida em dezembro de 2011 já representavam a ONF. Entre eles, por exemplo, Olga Batalina atuou ativamente na lei que proíbe os americanos de adotar crianças russas.
“Até as eleições deve ficar claro para os eleitores que isso está associado com o poder, que esses candidatos são a favor de Pútin”, completa Boris Makarenko.
O cientista político Stanislav Belkovski, acredita que não vale a pena esperar que a ONF substitua o Rússia Unida em pouco tempo. “Por enquanto, não querem transformar a Frente Popular em um partido, porque não pode haver mais de um partido no poder”, diz Belkovski. “Pútin é um homem conservador e nunca iria destruir um sistema que funciona, mesmo que mal, em função de outro que poderia até ser bom, mas que ainda não provou a sua eficácia.”
Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: