Líder informal do Ródina, Rogózin deve usar partido para se manter na política Foto: ITAR-TASS
No início de junho, foi realizado um congresso do partido nacionalista conservador Ródina (Pátria), que se autodenomina “força especial” do presidente Vladímir Pútin. O evento aconteceu no Museu do Armamento, em Moscou, onde filiados vestindo um uniforme militar, embora a maioria deles não tivesse nenhuma ligação com o serviço militar, foram recebidos ao som de marchas militares.
Em meados da década passada, o então líder do Ródina e atual vice-primeiro-ministro responsável pela indústria bélica, Dmítri Rogózin, era visto como favorito do presidente Vladímir Pútin. Em 2003, o nacionalista moderado Rogózin e seu partido (ou melhor dizendo sua aliança eleitoral, transformada com o tempo em um partido) obtiveram assentos na Duma de Estado (câmara baixa do parlamento russo).
Porém, dois anos mais tarde, seu credo nacionalista que havia rendido a Rogózin fama e sucesso lhe custou sua carreia política. Em 2005, durante a campanha para as eleições municipais em Moscou, o Ródina sob sua liderança passou dos limites, lançando na TV um vídeo de propaganda eleitoral com o slogan “Limpemos nossa cidade do lixo!”, em que a autoridade máxima da sigla prometia limpar a capital russa dos trabalhadores migrantes originários do Cáucaso Meridional e da Ásia Central.
A sigla foi imediatamente retirada da disputa eleitoral, e o Kremlin começou a afastar Rogózin da Duma de Estado e do cenário político russo. Em virtude dessas circunstâncias, o Ródina deixou de existir em 2006, e foi incorporado, juntamente com dois outros partidos, ao partido de centro-esquerda Rússia Justa, liderado pelo ex-presidente do senado russo, Serguêi Mironov. Rogózin, por sua vez, foi nomeado representante permanente da Rússia na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em 2008.
No entanto, a liderança política do país decidiu recriar o partido em 2011, já que, segundo analistas, as opiniões da elite política e de Pútin se tornaram muito mais conservadoras do que em 2005. Em meio às manifestações de protesto em Moscou contra a suposta fraude eleitoral nas eleições legislativas em dezembro de 2011, Pútin chamou Rogózin de volta de Bruxelas para colocá-lo à frente da indústria bélica do país na qualidade de vice-primeiro-ministro.
Um ano mais tarde, o Ministério da Justiça registrou o partido Ródina. “Nosso programa são os sete artigos de campanha do presidente Vladímir Pútin. Eles definem uma estratégia nacional a qual compartilhamos e apoiamos sem ressalvas”, disse o líder oficial do partido, Aleksandr Juraviev, durante o recente congresso.
“Tenho certeza que em um futuro próximo o partido poderá começar a concretizar o programa presidencial. O partido Ródina é uma força especial do presidente. Cada patriota deve apoiar o governo e Pútin deseja fortalecer a Rússia”, acrescentou Juraviev.
Os analistas políticos acreditam que, como líder informal da sigla, Rogózin quer se reservar o nicho nacionalista patriótica. O presidente da Fundação Política de São Petersburgo, Mikhail Vinogradov, acredita que, apesar de o vice-primeiro-ministro não ter planos claros para o futuro, ele não quer perder a oportunidade de continuar sua carreira como líder político. Vinogradov sugere que a sigla será apoiada pelos eleitores que se opõem ao partido governista Rússia Unida, mas apoiam a política de Pútin.
"Rogózin atuou de forma correta. Por um lado, ele disse que esse projeto é seu. Por outro, não fez declarações bombásticas nem atraiu demasiada atenção", afirma o diretor do Instituto Internacional de Perícia Política, Evguêni Mínchenko. Ainda é cedo para falar sobre as perspectivas da sigla recriada, mas a liderança do Ródina afirma que o partido está pronto para disputar vagas nas assembleias legislativas regionais já em setembro deste ano. Do outro lado, os analistas políticos se dizem céticos em relação a suas chances. “Duvido que eles obtenham resultados impressionantes agora, mas como projeto para o futuro esse partido pode ser interessante”, adianta Mínchenko.
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