Ministro do Interior russo defende que terroristas têm a mesma atitude negativa em relação a russos e americanos Foto: Kommersant
Após os atentados de Boston no mês passado e diante dos Jogos Olímpicos de Inverno em Sôtchi em fevereiro de 2014, as autoridades norte-americanas estão ampliando seu trabalho com o Ministério do Interior da Rússia, concedendo aos russos acesso a algumas informações do FBI.
A iniciativa, que surgiu durante uma visita do ministro do Interior, Vladímir Kolokoltsev, aos EUA na semana passada, ressalta o desejo dos Estados Unidos de reconhecer melhor as ameaças terroristas e extremistas, mesmo impondo simultaneamente uma lista negra de funcionários do Ministério do Interior.
O Ministério do Interior também enfrenta um novo exame detalhado de sua independência após a Interpol rejeitar na última sexta-feira (24) seu pedido para colocar o gestor de fundos britânico William Browder em uma lista de busca internacional.
O diretor do FBI, Robert Mueller, prometeu a Kolokoltsev em Washington na semana passada abrir alguns dados do FBI para os russos. “Esses recursos poderiam ser úteis para as autoridades policiais russas, tendo em vista os Jogos Olímpicos de Sôtchi”, disse o Ministério do Interior em um comunicado.
Cerca de 15 mil cidadãos norte-americanos poderão assistir às Olimpíadas de Sôtchi, segundo Mueller.
Mueller também agradeceu o lado russo por sua ajuda na investigação do atentado da Maratona de Boston, que os investigadores norte-americanos acreditam ter sido idealizado e realizado pelos irmãos Tamerlan e Djokhar Tsarnaev, ambos de origem tchetchena e daguestanesa. Tamerlan Tsarnaev morreu durante um confronto da polícia dias após o ataque de 15 de abril, enquanto seu irmão mais novo foi preso e pode enfrentar pena de morte sob a acusação de usar uma arma de destruição em massa.
A investigação sobre o ataque Boston, que matou três pessoas e deixou dezenas de feridos, revelou uma falta de coordenação no trabalho entre os órgãos policiais dos dois países quando se descobriu que o Serviço Federal de Segurança tinha alertado o FBI que Tamerlan Tsarnaev poderia estar envolvido com grupos islâmicos, mas não forneceu mais informações depois do jovem visitar a Rússia durante seis meses no ano passado.
A falha de comunicação no caso Tsarnaev tem sido amplamente criticada pela mídia e por uma série de parlamentares norte-americanos.
Paralelamente, a Rússia vê a polícia dos EUA como um modelo a imitar. Durante uma passagem em Nova York no início da semana passada, Kolokoltsev disse ao chefe de polícia Raymond Kelly que o Ministério do Interior russo havia estudado de perto o departamento de polícia de Nova York durante o cumprimento das reformas da polícia nacional no ano passado.
“Um dos princípios que empregamos hoje é fazer com que oficiais superiores sejam diretamente responsáveis pelas ações de seus subordinados”, disse Kolokoltsev a disse Kelly, segundo a agência Interfax. Como consequência, segundo ele, Moscou está agora mais segura do que Nova York quando se trata de crimes como roubo e estupro.
Em uma reunião em particular com o chefe do Departamento de Segurança Nacional, Janet Napolitano, Kolokoltsev sugeriu que a Rússia e os EUA formem um grupo de trabalho conjunto para combater ameaças de crimes comuns. “Sempre ressaltei que extremistas e terroristas têm a mesma atitude negativa em relação aos russos, americanos e representantes de outros Estados. Por isso, é importante unir forças na luta contra eles”, acrescentou Kolokoltsev.
O ministro russo também se reuniu com o Procurador Geral dos EUA, Eric Holder, e recomendou que o Ministério do Interior russo assine um acordo de cooperação jurídica com o Departamento de Justiça dos EUA.
“Desde o início deste ano, trocamos 827 documentos com as agências de aplicação da lei dos EUA”, disse Kolokoltsev aos jornalistas, ressaltando que os EUA é um dos cinco principais países com os quais a Rússia coopera no âmbito da Interpol.
As agências policiais dos EUA e da Rússia têm encontrado novas maneiras de trabalhar juntas nos últimos anos, e a viagem de Kolokoltsev aos EUA representa o mais recente passo nesse processo, disse Guennádi Gudkov, ex-vice-chefe do Comitê de Segurança da Duma de Estado.
“A cooperação em termos de segurança entre os dois países tem evoluído gradualmente há anos, porque temos muitos problemas e inimigos comuns”, disse Gudkov, um político da oposição que foi afastado da Duma no outono passado por questões éticas.
Porém, acrescentou Gudkov, os fatores de natureza política vão dificultar uma cooperação mais estreita.
“Não deve haver ilusões. Ambos os lados ainda vai ter muito cuidado em cooperar um com o outro”, disse Gudkov por telefone. “Mesmo as agências policiais dos países da Otan não compartilham todas as informações que têm umas com as outras. Acredito que o volume de dados trocados não será grande.”
Publicado originalmente pelo The Moscow Times
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