Em entrevista à Gazeta Russa, vice-primeiro ministro Arkádi Dvorkovich fala sobre a conjuntura econômica e o ambiente de negócios no país Foto: Rossiyskaya Gazeta
Em entrevista à Gazeta Russa, o vice-primeiro ministro Arkádi Dvorkovich falou sobre os problemas da economia russa, do acesso de empresas estrangeiras à plataforma continental e das perspectivas do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, que ocorre em junho.
Gazeta Russa - Como o senhor se sente sobre o fato de ter recebido muitas críticas na mídia recentemente?
Arkádi Dvorkovich - Só não é criticado aquele que não faz nada. Outros governos também são criticados quando, ao estarem em busca de um modelo de crescimento em condições de duras restrições orçamentárias, são obrigados a tomar decisões difíceis, às vezes controversas.
Para o primeiro ano, me coloquei a tarefa de gerar a condições jurídicas estáveis necessárias para os ramos industriais sob a minha responsabilidade [Dvorkovich é formalmente responsável pelas questões de desenvolvimento de combustível e do complexo de energia, comunicações, transportes, agricultura, entre outros].
Em alguns dos temas, o trabalho ainda não está completo. Refiro-me em primeiro lugar à gestão dos recursos do solo e de exigências ambientais e condições fiscais para o setor de petróleo e gás. Para fazer investimentos significativos, as empresas que trabalham no setor devem entender os termos e condições de trabalho para os próximos anos.
É difícil para um vice-premiê trabalhar com empresas privadas que possuem posições próprias? Especialmente aquelas como a Rosneft, cujo presidente, Ígor Sechin, mantém pontos de vista contrários aos seus.
Não penso, por exemplo, que para o secretário de energia dos Estados Unidos seja fácil trabalhar com as gigantes americanas. Elas também têm um poderoso suporte de lobby e defendem os seus interesses. A minha missão é fazer com que o setor trabalhe.
Sobre o desenvolvimento da plataforma continental, foi tomada a decisão da atribuição de licenças maiores às empresas Rosneft e Gazprom.
Ele [Ígor Sechin, presidente da Rosneft] ainda não decidiu o que fazer com as áreas que não serão de seu interesse: se vai entregá-las a empresas particulares ou simplesmente segurá-las em um fundo não distribuído, como reserva estratégica para as gerações futuras.
Discutimos muito sobre isso, o que é normal. Mas em muitas das questões o presidente do conselho da diretoria da Rosneft e eu concordamos. Nas questões chinesas, por exemplo, agimos na mesma direção.
Se as empresas particulares da Rússia tiverem permissão para o acesso à plataforma, isso facilitará o acesso das companhias estrangeiras a estes depósitos?
Em qualquer caso, os estrangeiros poderão trabalhar lá somente como sócios minoritários de empresas russas.
Em 2011, em uma entrevista para o repórter de TV americana Larry King, o senhor disse que “a economia russa tem uma interferência muito grande do Estado e sobra pouco lugar para o negócio real privado”. Em dois anos, a situação mudou?
Até certo ponto, sim. Foi adotado o programa de privatização dos ativos do Estado até 2018, que está sendo implementado com sucesso.
Em setembro do ano passado, foram vendidos 7,58% das ações do Sberbank [o maior banco russo], por US$ 5,2 bilhões.
As empresas Vneshtorgbank, Russian Railways, Alrosa, Sofkomflot estão se preparando para a entrada no mercado de ações. As datas exatas das colocações ainda não foram definidas porque as empresas serão vendidas tendo em conta a conjuntura do mercado.
Portanto, vemos a privatização como um instrumento de competitividade e eficiência. A reposição do orçamento é a segunda tarefa mais importante. Os recursos ganhos irão para o financiamento de programas de investimentos de longo prazo.
Nos últimos anos, o governo falou muito sobre a necessidade de diversificar a economia. No entanto, de acordo com os dados do serviço federal alfandegário, em 2012 o percentual de exportações de outros produtos que não óleo e gás diminuiu em 4%. Por quê?
Enquanto a fatia das exportações do setor de petróleo e gás é historicamente alta, a taxa de crescimento é significativamente menor do que nos outros setores da economia. A nossa indústria de processamento está em rápido crescimento; o setor de TI tem mostrado um crescimento anual de 15% a 20% nos últimos dez anos.
O valor monetário da fatia da indústria do petróleo, na verdade, aumentou porque os preços de petróleo subiram. Se o preço do barril estivesse entre US$ 70 e US$ 80, ao invés de US$ 105 a US$ 110, o equilíbrio poderia deslocar-se para os domínios de produtos outros que não óleo e gás. Mas, concorde, é bom que os preços não estejam caindo [risos].
Quando a Rússia será capaz de sair do foco do petróleo?
Para isso é necessário reduzir setores não eficientes da economia e alavancar novas produções eficientes, algo que não ocorre rapidamente.
Mas nós estamos tentando criar condições para o desenvolvimento de negócios e atrair os investimentos. Damos incentivos fiscais para certas indústrias (de TI, por exemplo). Para as empresas produtoras localizadas em Zonas Econômicas Especiais, construímos infraestrutura nos parques industriais. Há cinco anos, praticamente não havia interesse em projetos inovadores na Rússia –agora, centenas de startups são desenvolvidas.
Criamos o Technopark Skolkovo –graças a ele, empresas estrangeiras têm sido atraídas para cá. Algumas já começaram a trabalhar não só em Moscou, mas também em Novosibirsk, São Petersburgo, Rostov, Kazan e em outras cidades.
O que impede um investidor estrangeiro de se sentir tranquilo na Rússia?
Os investimentos na Rússia nem sempre são competitivos em comparação com investimentos em outros países por uma série de razões. O presidente e o presidente do governo colocaram como alvo a mudança dessa situação. O objetivo especial é entrar para a lista de 20 países mais bem colocados no índice “Doing Business” do Banco Mundial até o ano de 2018.
Estamos nos movendo nessa direção –já simplificamos significativamente, por exemplo, os procedimentos para os registro de negócios.
O que compensa as nossas falhas?
Temos um mercado de 150 milhões de pessoas, que, somado aos vizinhos, alcança um total são 250 milhões de pessoas. Isso atrai fabricantes de bens de consumo.
Veja como a produção de automóveis se desenvolve na Rússia. Há seis ou sete anos, as empresas líderes mundiais, como Ford e Toyota, começaram a abrir montadoras aqui. Agora, foi iniciada a segunda onda de fixação, com a construção de fábricas de produção de componentes na Rússia.
Em março de 2013, o Ministério de Desenvolvimento Econômico da Rússia assinou 31 acordos de “montagem industrial” de meios de transporte com os principais grupos automobilísticos internacionais.
Naturalmente, em outros setores nem tudo ocorre tão rápido quanto desejamos.
Em junho, São Petersburgo sediará o Fórum Econômico da Europa Oriental e da Rússia. Para este ano, já foi registrado um volume recorde especial de negócios celebrados, no valor de € 15 bilhões (em 2010). Pelas suas previsões, o valor será recorde?
Este é realmente um dos maiores eventos do nosso país, mas na minha opinião, o Fórum Econômico de São Petersburgo não é feito para quebrar recordes. Trata-se de uma plataforma de comunicação, onde se encontram os chefes de empresas globais e russas.
Os eventos mais importantes normalmente acontecem à margem das conversações sobre projetos específicos e de decisões de investimento. O negócio pode ser concluído fora do âmbito do fórum, um mês mais tarde ou seis meses depois.
Este ano seremos visitados por delegações de Alemanha e Holanda. Penso que o fórum vai ser muito rico.
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