Na TV, Pútin aborda relação instável com EUA

Loja de departamento em Moscou exibia sessão de perguntas e respostas com Pútin Foto: AFP / East News

Loja de departamento em Moscou exibia sessão de perguntas e respostas com Pútin Foto: AFP / East News

Em uma sessão de perguntas e respostas transmitida pela TV, presidente Vladímir Pútin destacou seu compromisso em cooperar com os EUA no combate ao terrorismo e condenou a interferência estrangeira na política interna da Rússia.

Até o final da sessão anual de perguntas e respostas com cidadãos russos nesta quinta-feira (25), o presidente Vladímir Pútin recebeu mais de 3 milhões de questões. Com cinco horas de duração, o programa foi transmitido ao vivo pelos dois maiores canais de TV nacionais e pelas três principais estações de rádio.

A agenda internacional de Pútin esteve focada sobretudo nas relações da Rússia com o Ocidente. Pútin agradeceu os EUA por ajudar a Rússia em sua adesão à OMC (Organização Mundial do Comércio) e por revogar a emenda Jackson-Vanik, restaurando as relações comerciais entre os dois países depois de uma ruptura de 40 anos.

Por outro lado, Pútin condenou os EUA pela aprovação da lei Magnítski no final do ano passado, que impõe restrições de visto a um grupo de oficiais russos, e classificou-a como “outra lei antirrussa”.

“É um estilo autoritário de conduzir a política externa”, acrescentou Pútin. “E nos avisamos que haveria retaliação.”

O presidente também criticou a imprensa e os governos ocidentais pela abordagem do atentado envolvendo os jovens Talerman e Djokhar Tsarnaev, mas ressaltou que o recente ataque terrorista em Boston deve “nos encorajar a trabalhar mais duro para evitar ameaças mútuas”.

Debate ao vivo

Doze minutos do programa foram ocupados por um debate com o ex-ministro das Finanças, Aleksêi Kudrin, um aliado de longa data de Pútin, que foi demitido pelo então presidente Dmítri Medvedev em setembro de 2011, depois de criticar o governo por causa dos altos gastos com defesa.

Kudrin provou Pútin ao dizer que “fatores internos tiveram mais influência sobre a economia russa do que os globais”. O presidente havia salientado anteriormente que a recessão na União Europeia, o maior parceiro comercial da Rússia, tinha sido o motivo da desaceleração do crescimento econômico nacional.

Pútin e Kudrin concordaram, entretanto, que é de vital importância superar a dependência econômica em relação ao petróleo. Mais tarde, o chefe de Estado se citou a “revolução do gás de xisto”, assegurando ao público que a Rússia não perdeu essa corrida e que o país tem gás natural suficiente. Mesmo assim, assinalou que o custo do gás de xisto ainda é muito alto e sua produção envolve um alto risco de poluição ambiental.

Medvedev sob pressão

Pútin rejeitou as especulações sobre uma eventual remodelação do gabinete de Medvedev diante de sua suposta performance negativa, lembrando os telespectadores de que o governo havia iniciado os trabalhos há menos de um ano.

“Eles devem ter a chance de mostrar o seu potencial. A remodelação causaria mais danos do que benefícios”, declarou o presidente.

Quando questionado se estava satisfeito com as medidas tomadas pelo governo até então, Pútin rebateu que “até agora não houve quaisquer medidas específicas”.

O líder russo aproveitou para citar as conquistas do governo, incluindo aumento da taxa de natalidade e dos salários, fixação das pensões em fevereiro e abril, e introdução de bolsas no valor de 7 mil rublos (cerca de US$ 224) para mulheres que derem à luz o terceiro filho em algumas regiões russas. 

No entanto, Pútin assumiu que o governo tinha falhado ao não garantir que todo o dinheiro alocado dos cofres públicos para salários fossem recebidos por funcionários do Estado.

Influência estrangeira

Enquanto isso, em um tribunal de Moscou, a agência de fiscalização eleitoral independente Golos foi multada em US$ 10 mil por se recusar a fazer registro como “agente estrangeiro”.

No ano passado, Pútin assinou uma lei que obriga as ONGs financiadas pelo exterior a se registrar como “agentes estrangeiros”, visto por alguns observadores como um equivalente ao termo “espiões”.

“Saudamos o trabalho das ONGs, mesmo aquelas dos nossos colegas da oposição”, disse Pútin durante o programa. “Se essa atividade for financiada do exterior, não tem problema, mas é preciso nos informar de onde eles recebem dinheiro e onde é aplicado.”

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