Naválni anuncia intenção de concorrer à presidência

Segundo Naválni, um candidato à presidência “não precisa de nada além de não mentir e não roubar” Foto: AP

Segundo Naválni, um candidato à presidência “não precisa de nada além de não mentir e não roubar” Foto: AP

No caminho para a principal cadeira do Kremlin, ativista da oposição pode enfrentar grandes desafios, como processos penais e escasso apoio entre os eleitores.

O desejo de concorrer à presidência do país foi expresso pelo conhecido blogueiro e figura da oposição Aleksêi Naválni em entrevista ao canal de TV a cabo Dojd. “Quero ser presidente do país, mudar a vida e o sistema de governo”, disse o ativista, que se recusou a dar detalhes sobre seu programa eleitoral.

Formado em direito, Naválni se tornou conhecido pelos vários projetos de internet dedicados ao combate à corrupção, além da participação na organização de protesto em massa contra os resultados das últimas eleições parlamentares e presidenciais no país.

De acordo com um levantamento conduzido pelo Centro Levada no final de março, dos 1601 entrevistados em 45 regiões do país, 37% disseram conhecer Naválni, embora apenas 1% tenha declarado intenção de voto no ativista.

“Se um candidato tem apoio da máquina administrativa e uma equipe de governo, possui seguidores e quer realmente vencer as eleições, ele deve ter carisma e um programa eleitoral construtivo. Esse não é o caso de Naválni”, disse em entrevista à Gazeta Russa a ativista social Irina Khakamada, que disputou as eleições presidenciais em 2004.

“Acho que ele tem outros objetivos. Eu, por exemplo, me candidatei à presidência para consolidar o movimento de protesto liberal, e não para me tornar presidente”, disse Khakamada. “Se Naválni tem o mesmo objetivo, poderá obter sucesso, pois, ao contrário de outros ativistas, é carismático e já conquistou resultados concretos na luta anticorrupção”, acrescenta a ativista.

As chances de Naválni ser eleito presidente são muito pequenas, apesar de os eleitores se mostrem dispostos a expressar seu descontentamento pelas últimas eleições. “Mas quando trata de eleger o presidente do país, a maioria ainda é muito conservadora”, garantiu Khakamada.

Representantes dos partidos parlamentares também foram muito pessimistas ao avaliar as chances de Naválni se eleger presidente da Rússia. “Ele poderá ter 5%, no máximo 7%, dos votos dos eleitores com tendência liberal”, declarou à agência Ria Nóvosti o deputado federal pelo partido comunista, Serguêi Obukhov.

O deputado federal pelo Partido Liberal Democrata (LDPR, na sigla em russo), Vladímir Ovsiânnikov, acredita que a popularidade do blogueiro é de cerca de 10% a 13% entre os eleitores propensos a defender os valores da democracia liberal pró-ocidental. "”Já os  mineiros, metalúrgicos, agricultores, camponeses, ou seja, a maior parte da população, não levam Naválni muito a sério”, completou Ovsiânnikov.

Outro obstáculo que poder surgir no caminho do blogueiro para o Kremlin são as acusações criminais. Em meados de abril, Naválni vai responder a processo por desvio de bens em proveito próprio, no valor de 55 milhões de rublos (US$1,8 milhões), envolvendo a empresa comercial estrangeira Yves Rocher Vostok. Se for considerado culpado, poderá pegar até dez anos de prisão. Além disso, o ativista participa como testemunha no processo sobre os violentos protestos na praça Bolotnaia, no centro de Moscou, em maio de 2012.

Naválni rejeita todas as acusações e afirma que os processos penais contra  ele teriam sido instaurados com o objetivo de impedi-lo de concorrer às eleições. Atualmente, o parlamento do país está debatendo o projeto de lei de autoria do presidente Vladímir Pútin, que estabelece proibição vitalícia de se candidatar a deputado federal aos indivíduos condenados por crimes “de maior gravidade”.

“Ao anunciar seus planos políticos, Naválni mostra que não pretende recuar e quer ganhar dividendos políticos com essa briga”, acredita o cientista político Iúri Kurguniuk.

As próximas eleições presidenciais da Rússia serão realizadas em 2018.

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