Berezóvski, um símbolo dos anos 90

Boris Berezóvski, Foto: AP

Boris Berezóvski, Foto: AP

Apelidado de “padrinho do Kremlin”, o ex-político e empresário morreu em exílio, deixando uma marca na história recente da Rússia.

Boris Berezóvski, cujo nome tornou-se um forte símbolo da influência negativa e, por vezes até criminosa, dos detentores dos grandes negócios russos sobre o poder público nos anos 90, faleceu aos 67 anos no sábado passado (23), em Londres.

O homem, que no final do século passado adquiriu a fama de “padrinho do Kremlin”, devido a sua habilidade de resolver questões de ordem política e negócios empregando recursos do poder, já não possuía mais a antiga influência política e financeira. Nos últimos anos de vida, as informações que o cercavam eram marcadas por escândalos ligados à partilha de ativos e disputas judiciais com seus ex-sócios.

“O seu nome é mitificado. Ele era o herói dos escândalos e das provocações; por isso, com a morte do herói vai-se embora também essa enxurrada de informações negativas”
Irina Hakamada, ativista social

“Na última década, Berezóvski não possuía influência alguma e, hoje, sua figura pouco interessa à sociedade”
Aleksêi Makárkin, primeiro vice-presidente do Centro de Tecnologias Políticas

“O mais importante é o exemplo de sucesso pessoal. Para muitos ele é o símbolo do homem que, sobre as ruínas do Estado, alcançou um grande sucesso”
Aleksandr Goldfarb, companheiro de batalha de Berezóvski e diretor da Fundação Internacional para Liberdades Civis

Nascido em Moscou no ano de 1945, Berezóvski se formou em matemática e começou trabalhar com sistemas de controle. Aos 37 anos, defendeu sua tese de doutorado e, oito anos mais tarde, tornou-se membro-correspondente da Academia de Ciências. Até o início dos anos 90, a carreira de Berezóvski evoluía de forma comum para um profissional da esfera científica soviética.

Isso porque Berezóvski não se manteve indiferente às novas possibilidades que surgiram com a liberalização do regime econômico na URSS no final da década de 1980. Graças aos contatos pessoais com os dirigentes da gigante automotiva soviética VAZ, assumiu a posição de diretor do empreendimento coligado “LogoVAZ” em 1989.

Lançadas as bases do seu império financeiro, Berezóvski começou a “brincar” de política em 1995. A intimidade com o Kremlin lhe deu acesso aos leilões de empréstimos, isto é, a série de privatizações pelas quais alguns dos maiores empreendimentos russos, principalmente dos setores de petróleo e metalurgia, passaram para as mãos de grupos financeiros selecionados. Ao grupo de Berezóvski coube a companhia Sibneft, que se transformou em peça central de seus negócios.

O interesse de Berezóvski também pela companhia aérea Aeroflot acabou levando o empresário aos tribunais. Segundo as autoridades, ele havia tentado privatizar os fluxos financeiros da empresa aérea por meio de mandatários, sem uma privatização formal, gerando prejuízo financeiro em detrimento dos interesses do governo. Depois de alguns anos de julgamento sobre o caso, Berezóvski foi condenado, à revelia, a seis anos em 2007.

“Até certo ponto, sua morte carrega um caráter simbólico: é o final da era dos anos 90” Aleksêi Mitrofanov, deputado da Duma de Estado e chefe do Comitê da Duma para Meios de Comunicação e Políticas de Informação

“Foi uma época histórica, aventureira, ousada, infame, grandiosa, mesquinha e leviana. Enquanto pessoas assim estão vivas, fala-se delas com raiva; depois que morrem, acabam virando tema de livros e filmes”
Aleksandr Arkhangelsk, publicitário

O próprio Berezóvski nunca declarou oficialmente o valor nem o volume de seus ativos. Já nos últimos meses de sua vida, a imprensa noticiava com frequência que o empresário estava sendo obrigado a vender seus ativos para quitar as dívidas mantidas com sócios, tribunais e ex-esposas.

Política

A influência política de Berezóvski se converteu em diferentes cargos públicos. Ele foi secretário-adjunto do Conselho de Segurança Russo em 1996 e 1997, secretário- executivo da CEI (Comunidade dos Estados Independentes) em 1998 e 1999, e deputado da Duma de Estado (câmara baixa do parlamento russo) nos anos 1999 e 2000.

Acredita-se, inclusive, que Berezóvski tenha ajudado Boris Iéltsin a se reeleger para o cargo de presidente em 1996.

Em 1999, o empresário passou a exercer o cargo deputado na Duma, porém, em menos de um ano, renunciou às funções e partiu de uma vez por todas para Londres, onde recebeu asilo político. Berezóvski justificava a mudança por suas divergências com Pútin, que, apesar de ter recebido seu apoio inicial, estaria “conduzindo a Rússia pelo caminho errado”.

Os cientistas políticos, entretanto, explicaram a fuga de Berezóvski pela resistência excessivamente forte que vinha sofrendo no Kremlin diante das tentativas de preservar sua influência sobre a tomada de decisões.

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