Proteção de fontes é prioridade entre serviços secretos
Getty ImagesEmbora o ataque terrorista na Manchester Arena, no Reino Unido, tenha sido uma surpresa para os serviços especiais britânicos, não se pode descartar que os oficiais de outros países possam ter tido informações capazes de evitar a tragédia.
A mesma coisa pode ser dita - e com um alto grau de probabilidade – em relação aa explosão no metrô de São Petersburgo, que deixou 14 mortos em abril passado.
Por mais cínico que pareça, fato é que os agentes de serviços especiais raramente compartilham informações de extrema importância com seus parceiros estrangeiros, ainda que vidas humanas estejam em jogo.
Fontes mais preciosas do que vidas
Os serviços de inteligência de todo o mundo obtêm informações sobre os planos dos terroristas por meio de suas fontes – agentes infiltrados ou que operam a paisana.
Os relatórios que chegam dessas fontes são enviados para bancos nacionais de dados, pelos quais a polícia obtém informações sobre suspeitos. Na Europa, esses bancos de dados são complementadas pelo Sistema de Informações de Schengen.
O problema desses sistemas é a dificuldade de detectar qualquer terrorista ativo em meio à enorme massa de dados sem recorrer diretamente às fontes dos serviços especiais nacionais ou às contrapartes estrangeiras.
É bem provável que o autor do atentado em Manchester, Salman Abedi, já tinha seu nome em alguma lista de suspeitos de tendências radicais, mas nenhum dos aliados do Reino Unido, ao que parece, avisou os colegas britânicos sobre o perigo.
Os serviços especiais raramente compartilham esse tipo de dado com outros países por uma única razão: o compartilhamento de informações operacionais de alto valor (por exemplo, sobre a localização e o momento de um ataque terrorista planejado) aumenta o risco de “perder” a fonte que obteve os dados.
Para os profissionais de inteligência, a divulgação de informações operacionais sobre a preparação de um ato terrorista para aliados significa colocar em risco a vida da fonte. Uma coisa é quando se trata de um membro recrutado do EI; outra é quando o oficial de seu país foi especialmente plantado na organização terrorista.
A infiltração de um agente dos serviços especiais nas fileiras dos terroristas é uma tarefa extremamente difícil. Poucos profissionais da área iriam desperdiçar anos de trabalho para salvar alguns cidadãos estrangeiros. Por pior que soe, aos olhos da maioria dos oficiais dos serviços especiais, 20 vidas humanas são um preço que vale a pena pagar para manter aberto um canal de informações que poderá salvar centenas ou milhares de cidadãos de seu país no futuro.
É claro, porém, que os serviços especiais de aliados próximos (como EUA e Reino Unido) trocam informações. Mas o problema é que os dados transmitidos são, muitas vezes, cuidadosamente editados para esconder sua origem e, assim, proteger a fonte.
Centro de coordenação antiterrorista
No caso do ato terrorista em Manchester, é perfeitamente provável que os americanos estivessem informado a inteligência britânica da ameaça representada por Salman Abedi. No entanto, é possível que as informações operacionais valiosas tenham sido transmitidas de forma pouco evidente e, portanto, ignoradas pelo departamento responsável atualização dos bancos de dados antiterrorismo. É provável que dados relevantes simplesmente não tenham chegado às unidades antiterroristas locais.
O envio de informações a um usuário final, em nível internacional, só poderia ser feito por um grupo de coordenadores especialmente criado para contatar, de forma rápida e eficaz, as unidades dos serviços especiais de todos os países interessados.
A criação de um centro desse tipo – comandado não por funcionários, mas por oficiais de inteligência preparados para criptografar fontes de informação, analisar a relevância dos dados e garantir a colaboração na condução de operações antiterroristas – poderia criar uma barreira no curso da ameaça terrorista. A questão é que os serviços de inteligência preferem não compartilhar seus segredos.
Artiom Kureev é especialista em segurança e membro do Centro de Pesquisa para Apoio Econômico e Sociocultural dos países da CEI e da Europa Central e Oriental.
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