Naválni anunciou que recorrerá ao Tribunal Europeu contra decisão que o proíbe de concorrer a eleições presidenciais em 2018
APEle parece estar em toda parte, e rivaliza com Beyoncé e Kim Kardashian por espaço em jornais ou sites. Já foi capa de revista, é frequentemente objeto de longos perfis biográficos e não param de surgir notícias sobre suas últimas adversidades.
Enquanto a revista norte-americana “Newsweek” se pergunta se “o desbravador anticorrupção da Rússia é a kryptonita de Vladímir Pútin?”, o canal de TV britânico BBC se refere a Naválni como o “voraz líder da oposição na Rússia” e o jornal “The Guardian”, também britânico, estampa sua entrevista de sábado com o oposicionista, supostamente “determinado a parar” Pútin.
O homem em questão é Aleksêi Naválni – nome que vem se tornando rapidamente familiar. Isto é, no Ocidente. Na Rússia, os dados sugerem que ele não é tão popular como os correspondentes ocidentais em Moscou relatam a seus leitores.
Falsa apresentação
Na imprensa de língua inglesa, Naválni está ficando conhecido como uma figura progressista que pode levar “valores europeus" para a Rússia. O “Guardian”, por exemplo, descreveu-o como um “nacionalista que virou liberal” – o que simplesmente não é verdade, e algo que o próprio Naválni admitiu ao mesmo jornal semanas depois, quando insistiu que não se arrependeria de descrever os migrantes da Ásia Central como “baratas”. Esse ponto de vista não parece pertencer a um humanista fervoroso.
Uma das maiores representações falsas partiu do Global Voices, apoiado por Pierre Omidyar e George Soros. Na ocasião, uma figura sênior do “Moscow Times” nos disse “como Aleksêi Naválni abandonou o nacionalismo russo”. Tal suposição demonstra uma ignorância genuína em relação à Rússia ou uma tentativa deliberada de enganar os leitores. Ao contrário disso, Naválni tem extremo orgulho de sua capacidade de atrair o apoio de jingoístas, vendo-os como uma “força”.
Na semana passada, o instituto independente Centro Levada divulgou dados que oferecem uma amostra dos ânimos da população sobre as eleições presidenciais de 2018 e as chances de Naválni derrotar Pútin na próxima corrida.
O levantamento também fornece novos insights sobre como as pessoas estão consumindo notícias no maior país do mundo.
Você decide
A pergunta dos pesquisadores foi: “Se a próxima eleição fosse realizada neste domingo, em quem você votaria?”. Do total, 48% disseram Pútin; 3% citaram os nomes de Vladímir Jirinóvski (líder do suposto “grupo liberal”) e Guennádi Ziuganov (presidente de longa data do Partido Comunista); e apenas 1% respondeu Naválni.
Apesar da extensa cobertura de Naválni no exterior, ele atrai três vezes menos seguidores do que Jirinóvski e Ziuganov, duas figuras desgastadas no cenário político nacional, e um número 48 vezes menor do que o de apoiantes de Pútin.
Pelos cálculos do acadêmico canadense Paul Robinson, ao descontar os indecisos e as abstinências, que chegam a 42%, o resultado seria: 83% para Pútin; Jirinóvski (5%); Ziuganov (4%); Naválni (2%); e os demais somados totalizariam 6%.
Isso indica que parte da mídia ocidental tenta propagar a ideia errônea de que o “líder da oposição” é uma verdadeira ameaça para Pútin. Seria o mesmo que a imprensa russa e/ou chinesa dizer a seu público que o líder do Partido Verde americano, Jill Stein, é um potencial candidato para derrotar um candidato republicano ou democrata e se tornar o próximo ocupante da Casa Branca.
Por todos os lados
A ladainha de que “Naválni tem pouca exposição na televisão russa, que é controlada pelo Kremlin” tornou-se constante. Mas outras estatísticas divulgadas nesta semana também vão na contramão desse pensamento.
Segundo o centro de pesquisa Medialogy, citado pelo jornal “Vêdomosti”, o número de menções internas a Naválni quintuplicaram em um ano. O oposicionista é a sexta pessoa mais comentada em toda a imprensa russa logo atrás de Pútin, Donald Trump, do primeiro-ministro Dmítri Medvedev, do assessor de imprensa do Kremlin Dmítri Peskov, e do presidente ucraniano Petrô Porochenko.
Naválni recebeu, inclusive, mais cobertura que o prefeito de Moscou, Serguêi Sobiânin, que está atualmente envolvido no polêmico projeto de remanejar cerca de 10% dos moradores da capital.
O argumento do “Kremlin comanda a TV” também cai por terra abaixo com os novos dados publicados pelo Centro de Pesquisa da Opinião Pública Russo (VTsIOM). De acordo um levantamento recente, apenas 52% dos russos consideram a televisão como sua principal fonte de notícias hoje; outros 32% recorrem sobretudo à internet. Trata-se de uma inversão de vinte pontos percentuais em uma questão de dois anos.
Levando em conta que Naválni é um usuário frequente das redes sociais e esbanja milhões de seguidores no Twitter, no Facebook e no VKontakte, além de um canal popular no YouTube (o vídeo com denúncias contra Medvedev teve 21 milhões de visualizações), fica claro que acesso ao público não é o maior problema do opositor.
Sua principal dificuldade parece ser a esmagadora popularidade de Pútin, e uma incapacidade de, pelo menos por enquanto, convencer os russos a acreditar em sua plataforma e capacidade de liderar o país. Apesar do apoio razoavelmente significativo em Moscou, é óbvio que Naválni não conseguiu construir uma base considerável nas regiões, onde 90% dos eleitores russos vivem.
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