Ilustração: Dmítri Dívin
Os líderes chineses querem ocupar o espaço dos EUA no mundo financeiro. Para o isso, o país asiático deve aumentar significativamente o volume de comércio internacional em yuan, e pode contar com a ajuda da Rússia. Embora Moscou não consiga evitar a forte influência do FMI, a política externa russa, orientada para a diminuição do papel do dólar nas transações comerciais, encontra apoio na China.
A decisão do FMI permitirá, assim, que a Rússia perpetue a diversificação das reservas cambiais, refletindo a geografia do comércio exterior no mundo. Durante os últimos dez anos, a China representou cerca de 9% a 13% do comércior exterior russo, o que significa que cerca de 13% das reservas cambiais russas devem ser em yuans. Com as sanções financeiras contra Moscou, o volume das reservas em yuans pode ser ainda maior.
A inclusão do yuan na cesta de moedas de reserva do FMI vai também alterar a estrutura do Fundo de Reservas do Brics, que presta ajuda financeira aos países-membros do grupo. Por meio do yuan, o fundo poderá realizar transações em outras moedas nacionais dos Brics.
O novo status do yuan aumentará o peso do Banco Asiático de Investimento na Infraestrutura (AIIB, na sigla em inglês), considerado um concorrente do FMI e do Banco Mundial. O ABII, com 57 membros e ativos superiores aos US$ 100 bilhões, tem tido participação ativa da Rússia, que planeja receber empréstimos do AIIB em yuans.
A decisão do FMI vai ainda intensificar o uso de moedas nacionais nas operações entre os países da Comunidade dos Estados Independentes, e aumentará a liquidez dos mercados de moedas nacionais. Como resultado de uma política monetária coordenada, espera-se que os mercados de moedas nacionais evoluam, assim como os processos de integração no espaço pós-soviético.
A inclusão do yuan na cesta de moedas de reserva é, sobretudo, um acontecimento de peso para a futura integração da economia chinesa ao sistema financeiro global. Pelos critérios do FMI, a China deve cumprir uma série de parâmetros fundamentais: aumentar a economia nacional, manter estabilidade monetária e desenvolver mercados financeiros líquidos e de alta capacidade.
Pequim já cumpriu quase todas as exigências do FMI, exceto o último ponto. Apenas um país capaz de garantir a plena conversão das moedas nacionais pode desenvolver mercados financeiros líquidos. A taxa de câmbio yuan permanece fixa, a política monetária na China continua a ser bastante restritiva, e o acesso ao mercado acionário chinês ainda é limitado.
A decisão do FMI de incluir a moeda chinesa na cesta de moedas de reserva revela, portanto, o desejo dos investidores de acesso livre ao mercado chinês. Hoje, a China não pode, porém, abrir as porteiras, já que muitos sucessos econômicos do país e sua relativa estabilidade financeira dependem da estrita regulação econômica.
Os bancos centrais regionais poderão, por outro lado, reconstituir suas reservas em yuan, e investidores do mundo todo vão realizar mais operações nos mercados de ações da China.
De acordo com estimativas da Swift (da sigla em inglês, Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais), o yuan se consolidou como uma das moedas mais comuns em transações ao longo dos últimos três anos, embora ainda não seja comparável à norte-americana (44,,8% dos pagamentos no mundo) e à europeia (27,2%).
O novo estado do yuan vai aumentar a influência da China sobre a economia mundial. Os chineses não querem repetir os erros dos japoneses, que perderam seu mercado devido aos ataques contra os ativos financeiros. Sabe-se que a decisão do FMI implicará, inevitavelmente, em certa perda de soberania, mas a China está tentando evitar esse destino.
Vassíli Iakímkin é professor na Escola de Finanças da Academia Presidencial da Economia Nacional e Administração Pública da Rússia.
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