Ilustração: Niiaz Karim
A próxima cúpula do Brics acontecerá em junho na cidade russa de Ufá, onde serão identificadas novas áreas de cooperação e formuladas propostas para o desenvolvimento das cinco economias emergentes. Mas o Brics não deve ser visto como uma comunidade de integração baseada em instrumentos tradicionais, como a liberalização das economias e dos fluxos de comércio e investimentos. Tais mecanismos, neste caso, não são determinantes.
Hoje, o Brics simboliza um sistema de relações baseado na igualdade de cooperação e na possibilidade de implementação de uma estratégia unificada que leve em conta determinadas prioridades nacionais. Para colocá-la em prática, é necessário a participação ativa desses países na elaboração de documentos no âmbito do G20.
O potencial dos Brics de lançar iniciativas foi testado, por exemplo, durante os preparativos da Cúpula do G20 na cidade australiana de Brisbane, em 2014. Por isso, o próximo encontro em Ufá deve reconsiderar esta “falha” e propor a consolidação das iniciativas do grupo diante dos temas que estão sendo analisados e aplicados na esfera do G20.
Por outro lado, entendemos que as parcerias estabelecidas entre os Brics irão prosperar apenas naqueles setores e segmentos que relacionam-se com interesses e prioridades nacionais. Dessa forma, nada mais lógico do que questionar: nas atuais condições, quais são os interesses nacionais dos Brics?
Acreditamos que seja o desenvolvimento dinâmico das economias nacionais, com a consecutiva elevação dos padrões de vida das populações e a criação de oportunidades para a total realização dos potenciais individuais dos cidadãos, com o respectivo respeito a crenças nacionais, étnicas e religosas.
Também estão na lista de prioridades a garantia à estabilidade social e a segurança institucional e dos territórios nacionais, buscando nesse processo a diminuição das disparidades nos níveis de renda dos indivíduos e regiões dos países. Seria igualmente fundamental o desenvolvimento da sociedade civil e a defesa das liberdades democráticas, sem a violação das bases tradicionais da construção dos Estados.
Em outras palavras, os interesses nacionais dos Brics visam ao desenvolvimento interno de cada um dos países – não pressupõem objetivos de dominação internacional, mas buscam o estreitamento de laços econômicos regionais e transregionais para que suas metas sejam alcançadas.
Apesar do interesse mútuo dos países do Brics ser explícito quando se trata de estratégias de longo prazo, é possível notar consequências práticas aplicadas às esferas da vida particular. Exemplo disso é a utilização conjunta de recursos hídricos em obras de irrigação e drenagem, bem como a utilização econômica de fontes subterrâneas profundas. Soluções dessa natureza interessam à Índia, ao Brasil e à China, enquando na Rússia há uma reconhecida experiência em otimização do uso de recursos hídricos.
Também nos parece de real importância para as economias dos Brics o estabelecimento de padrões de ensino e treinamento conjunto em setores educacionais prioritários, particularmente os relacionados à aeronáutica, espaço, saúde, construção naval, segurança cibernética, nanotecnologia, meio-ambiente e outras áreas tecnológicas.
Por fim, o grupo deve estimular o desenvolvimento de projetos conjuntos de pesquisa e desenvolvimento, com a participação de cientistas e outros especialistas dos países-membros focados em objetivos como a substituição de importações, a unificação do ambiente jurídico empresarial, o estabelecimento de parcerias público-privadas e a criação de novos postos de trabalho.
Viktória
Pérskaia é doutora em economia e
membro da Academia de Ciências Naturais da Rússia. Mikhail Eskindarov é reitor da Universidade de Finanças sob o
Governo da Federação Russa.
Publicado originalmente pela Rossiyskaya Gazeta
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