Ucrânia e União Europeia: tiro no pé ou dinheiro na mão?

Ilustração: Dmítri Dívin

Ilustração: Dmítri Dívin

Acordo com UE mostra que maiores prejudicados serão os próprios ucranianos, além dos russos.

No final de junho, o recém-eleito presidente da Ucrânia. Petrô Porochenko, assinou um acordo de integração do país à União Europeia. As possíveis consequências desse ato para a própria Ucrânia, União Europeia, Rússia e Estados Unidos podem ser previstas mediante análise dos objetivos e expectativas de ambas as partes.

Enquanto os Estados Unidos têm presença global e buscam exercer uma influência predominante sobre projetos internacionais de tipos diversos, de globais a regionais, a União Europeia e a Rússia possuem maior interesse em parcerias intercontinentais, dando preferência aos projetos euroafricanos (no caso da UE) e euroasiáticos (no caso da Rússia). Já a Ucrânia tem importância regional na comunidade europeia e é capaz de elevar o seu valor internacional por meio de projetos de colaboração com as grandes potências.

A localização geográfica da Ucrânia, posicionada entre a União Europeia e a Rússia, proporciona três opções de parcerias internacionais: apenas com a UE, somente com a Rússia ou com as ambas. A geografia do comércio exterior ucraniano demonstra a atual igualdade da atitude da Ucrânia para com as partes. O volume de mercadorias que circulam entre o país e a União Europeia chega a 35 a 40 bilhões de dólares, enquanto a colaboração comercial com a Rússia e outros estados da União Aduaneira (Bielorrússia e Cazaquistão) está na faixa de US$ 60 bilhões.

A União Europeia importa produtos intermediários ucranianos, tais como metais ferrosos, derivados de petróleo e grãos, assim como matéria-prima. Os países da União Aduaneira, por sua vez, usufruem dos equipamentos e mecanismos de alta tecnologia (carros, motores e equipamentos variados) fabricados em solo ucraniano.

Vale lembrar que a velocidade de crescimento econômico dos países da União Aduaneira supera a da União Europeia, sugerindo, assim, o aumento da demanda futura por produtos ucranianos em função de industrialização. A política econômica da Ucrânia deveria, portanto, incluir a colaboração simultânea com a União Europeia e com a União Aduaneira. Dessa forma, seria possível garantir os altos índices de crescimento econômico do país, mantendo as baixas taxas de desemprego e reforçando as reversas nacionais.

A assinatura do acordo de integração da Ucrânia à União Europeia demonstra justamente o contrário: a intenção do país em se associar com a economia europeia enfraquecida e sem esperança de crescimento futuro, dando preferência à venda de matéria-prima.

Três motivos, um alvo

A Ucrânia pode ter tomado essa decisão contrária aos seus próprios interesses econômicos por três motivos principais – redução da influência russo na região, abertura de novos mercados e a ilusão de melhor qualidade de vida.

Primeiramente, a integração da Ucrânia à União Europeia abrirá uma nova área de aplicação para as obrigações e limitações legais previstas no Acordo de Associação, facilitando a realização de uma série de tarefas tanto dos países da União Europeia, quanto dos Estados Unidos.

Uma delas prevê o enfraquecimento do potencial militar da Rússia nos próximos anos, que se tornará mais fácil com a redução do volume de produtos de alta tecnologia (principalmente de equipamentos destinados à indústria de defesa e ao setor espacial) fornecidos pela Ucrânia aos Estados da União Aduaneira. A indústria de fabricação dos dispositivos militares dos Estados Unidos também ganha um novo mercado no território ucraniano, enquanto o governo americana ganha a chance de desequilibrar o fornecimento do gás russo à Europa, criando, assim, um pretexto para iniciar a extração de gás de xisto em território ucraniano.

Isso também vai gerar mais enfraquecimento da economia da União Europeia, o principal concorrente global dos Estados Unidos, que será obrigada a investir bilhões na modernização da economia ucraniana, como já aconteceu com a Alemanha no período de reconstrução pós-guerra.

Em segundo lugar, a integração da Ucrânia à União Europeia abrirá novos mercados aos seus produtos e reduzirá o custo de mão-de-obra europeia por conta dos baixos salários dos trabalhadores ucranianos. A Europa via obter o volume necessário de matéria-prima com mais facilidade, se aproximará das regiões de extração de petróleo e gás, e aumentará a zona do euro.

Aparentemente, a anexação da Ucrânia à aliança dos Estados europeus trará mais benefícios do que desvantagens, porém, os trabalhadores europeus serão os principais prejudicados pelas futuras mudanças. Apesar da forte presença de sindicatos e da influência dos partidos social-democratas, ficará difícil insistir no aumento de salários. 

O último eterceiro motivo é a opinião equivocada que sugere um brusco aumento do nível de qualidade de vida da população ucraniana após a entrada do país na União Europeia. Isso garante apoio dos eleitores aos líderes políticos que prometem a rápida integração da Ucrânia ao bloco europeu.

Consequências na balança

Com a associação da Ucrânia à União Europeia, a Rússia perderá um dos seus fornecedores dos produtos de alta tecnologia, insubstituíveis por mercadoria nacional, o que reduzirá o potencial de sua defesa. Por outro lado, surgirão novas oportunidades para a importação de produtos europeus através do território ucraniano, possivelmente prejudicando a economia do país.

Pode-se afirmar, assim, que o recente acordo trará aos Estados Unidos apenas benefícios. No caso da União Europeia, serão benefícios e pequenas desvantagens, enquanto, para a Ucrânia, desvantagens e pequenos benefícios. A Rússia, no entanto, será só prejudicada pelo acordo, o que explica a sua posição contrária. Mas, como o projeto de integração ainda não foi finalizado, resta aguardar por mudanças radicais na presente situação.

 

Aleksêi Skopin é professor e diretor do Instituto Internacional de Desenvolvimento Territorial (MIRT)

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