Um espaço ao sol no ‘reino de Pútin’

Ilustração: Konstantin Maler

Ilustração: Konstantin Maler

Morador de Chisinau, capital da Moldávia, o famoso escritor russo Vladimir Lortchenkov comenta as possíveis consequências da crise política ucraniana para a região e as hipóteses que sugerem uma nova guerra civil.

No sombrio ano de 1992, a população da Transnístria viveu momentos de terror provocados por uma guerra civil na Moldávia, desencadeada pelo movimento nacionalista e inflexibilidade do governo da república à preferência dada por indústrias locais ao mercado russo. Durante quatro meses, tiroteios levaram as vidas de cerca de 2 mil pessoas.

Ao longo dos últimos anos, porém, a Transnístria tornou-se um lugar tranquilo e receptivo para turistas estrangeiros. Hoje em dia, apesar da tensão que paira no ar, as relações entre o país e a Federação Russa podem ser consideradas pacíficas, ao contrário do envolvimento do Estado russo com seus vizinhos Armênia, Azerbaijão, Abecásia e Geórgia.  

Talvez os últimos acontecimentos na Ucrânia não sejam capazes de provocar uma nova guerra civil na Transnístria devido à sua péssima situação financeira, altos níveis de corrupção e exército falido. Mas também não é possível afirmar com toda a certeza que a região se torne mais uma república da Federação Russa.

Uma das hipóteses sugere que a anexação dos territórios costeiros da Ucrânia ao “reino de Pútin” resultaria na união da Rússia e Moldávia, enquanto a Bessarábia se juntaria à Romênia. Caso contrário, mesmo conseguindo manter a sua integridade, a Ucrânia manteria fronteiras invisíveis com a atual Moldávia. Na minha opinião, ainda que houvesse uma guerra civil na região, ela tem todas as chances de ser breve e terminar com a entrada das primeiras tropas russas ou romenas.

Isso me lembra a história do meu livro “O acampamento cigano está partindo” (em tradução livre), que retrata o desespero do povo moldávio deixando o seu país em busca de novas terras para morar. No início, pensei em um final feliz para os personagens, mas, com o tempo, as consequências lógicas dos acontecimentos narrados na obra não me deixaram escolher um desfecho otimista: a Moldávia não é apenas um local geográfico, mas um modo de pensar adotado pelos cidadãos.

As mudanças geopolíticas não serão capazes de afetar o destino dos russos nem dos moldávios. Nenhum cidadão da Moldávia sofre de discriminação étnica, pois todos são igualmente roubados e enganados pelo governo, independentemente da sua origem. A falta de perspectivas faz com que moldávios se mudem para regiões mais favoráveis.

Não podemos culpá-los pelo instinto de sobrevivência, assim como não podemos julgar os afegãos que deixam a pátria violenta, fugindo de condições miseráveis. Eu, pessoalmente, não me importo com o local da minha residência levando em conta as minhas crenças e princípios, mas preocupo-me com o futuro dos meus filhos.

 

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