Ilustração: Ígor Demkóvski
Os debates sobre a opção da Ucrânia de aderir à União Europeia levaram a tumultos em massa e ao agravamento de confrontos internos. Não está claro por que foi necessário dispersar os partidários da integração com a UE na Praça da Independência, no centro de Kiev, mas tudo aponta para um conflito de poderes com foco nas eleições presidenciais de 2015.
O presidente ucraniano Viktor Ianukovich impediu o colapso socioeconômico que inevitavelmente teria acontecido se tivesse aceitado os termos do contrato com a UE. As futuras negociações com a Rússia não prometiam a solução de todos os problemas, mas teriam permitido que país continuasse flertando com os povos europeus.
A oposição, no entanto, ganhou um excelente slogan para sua campanha: “Roubaram o nosso futuro europeu”. Para piorar o quadro, Iúlia Timochenko permanece atrás das grades, o que, na prática, vai de encontro aos interesses dos atuais protagonistas do protesto.
O que se vê agora é que o cenário moderado está se dissipando. As autoridades no poder não terão como recuar, pois isso seria uma demonstração de fraqueza. Nas fileiras dos manifestantes prevalecem as forças radicais, e é impossível firmar um compromisso com elas. Também não está mais claro sobre qual questão seria assinado um compromisso, já que não se trata mais da adesão à UE, e sim do poder em si.
A luta interna está adquirindo uma dimensão geopolítica. Os representantes da União Europeia ficaram descontentes com Ianukovich por causa do fracasso da Cúpula de Vilnius, e é provável que apoiem qualquer força que se manifestar contra o atual líder ucraniano. Nem que seja necessário dar suporte ao partido nacionalista Liberdade e seu líder Oleg Tiagnibok.
Em primeiro lugar, a repressão aos protestos pode não levar ao contrário da estabilização. Paralelamente, Ianukovich se verá obrigado a buscar apenas a solidariedade de Moscou, o que definitivamente o priva de manobras.
A Rússia, por sua vez, terá que se envolver novamente na política ucraniana, situação que já deixou o país atolado em um “pântano turvo”. A sensação que fica é de que não existem cenários favoráveis para a Ucrânia. A tentativa de obrigar um país que ainda não se conscientizou de seus interesses nacionais a se definir terminantemente soa como um teste de resistência – e o risco envolvido nesse processo é inversamente proporcional às garantias.
Fiódor Lukianov é presidente do Conselho de Política Externa e Defesa da Rússia
Publicado originalmente pelo Kommersant
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