Psicologia contra a desigualdade de renda

Ilustração: Niiaz Karim

Ilustração: Niiaz Karim

Depois de pesquisa apontar que 35% da riqueza da Rússia pertence a 110 pessoas, resto da população se vê obrigada a exigir medidas que viabilizem a ascensão social.

As provas de desigualdade de renda não são novidade na Rússia. Estamos acostumados a observá-las – e depois, arquivá-las em algum lugar, já que devemos continuar com as nossas vidas. Pessoas ricas existem em qualquer lugar, isso é fato. Nem mesmo os Estados Unidos, para dar um exemplo óbvio, está tão bem assim quando o assunto é distribuição de renda.

Porém, também dá para negar que os números divulgados na semana passada pelo Credit Suisse saltam aos olhos: 35% da riqueza da Rússia está concentrada nas mãos de apenas 110 pessoas. De acordo com o mesmo relatório, a Rússia apresenta o maior índice de desigualdade de renda do mundo, tirando algumas ilhas do Caribe. Mesmo considerando que os dados referentes a propriedades não estão incluídos nesses números, o relatório não deixa de ser desanimador.

Nos últimos dias, tenho lido os comentários raivosos de muitos russos na internet sobre tal notícia. “Que vergonha”, dizem eles. “É uma catástrofe!”

Se você já se perguntou onde está a raiz do atual cinismo russo, ou se você quis entender por que as instituições sociais da Rússia são lamentavelmente subdesenvolvidas, ou até mesmo se você tinha curiosidade de saber por que o feudalismo dos tempos modernos persiste na Rússia, não resta mais qualquer dúvida. As estatísticas sobre a desigualdade de renda desnudam o problema.

A sociedade moderna não funciona adequadamente com esse tipo de desigualdade. Isso não só prejudica o desenvolvimento econômico, mas também tem um efeito psicológico sobre as pessoas. Elas se questionam por que lutar incessantemente para melhorar a sua vida quando não existem elementos para ascensão social.

Economistas russos apontam que esse tipo de desigualdade de riqueza é um fator preponderante para o “emburrecimento” do mercado de trabalho russo. Médicos e cientistas são tão mal pagos na Rússia que os mais ambiciosos se veem forçados a buscar sua sorte no exterior ou então trabalhar em outras áreas, como marketing ou vendas.

Para lidar com a questão, o governo vem discutindo desde amplas reformas fiscais (incluindo o tão comentado imposto sobre produtos de luxo) a aumentos radicais de salário. Mas também está bem claro que a desigualdade de renda não é um problema a ser resolvido do dia para a noite com medidas populistas.

É necessário não só grande vontade política, mas também uma mudança mais individual e profunda para compreender como o mundo deve funcionar. Basta fazer com que mais e mais russos entendam que merecem algo melhor – e que esse “melhor” envolve um processo gradual e trabalhoso.

 

Natalia Antonova é editora-chefe em exercício no The Moscow News

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