Ilustração: Niiaz Karim
Todos os países são únicos, e, em princípio, o seu senso de particularidade não deve prejudicar as suas relações com as outras nações. Na prática, porém, as crenças das nações em sua excepcionalidade geralmente contribuem para fomentar um sentimento de superioridade racial ou arrogância cultural, que levam a consequências graves e violentas.
A crença profunda dos americanos no excepcionalismo dos Estados Unidos não costuma guiar decisões específicas de política externa, mas tende a conduzir a diplomacia dos EUA por três caminhos: repulsa a revoluções conduzidas por povos estrangeiros de “cabeça quente” que não conseguem imitar com sucesso o exemplo de uma revolução americana, supostamente organizada e moderada; isolamento em relação a conflitos e casos de corrupção em países moral e politicamente inferiores; ou esforços ambiciosos e caros para remodelar países estrangeiros à imagem dos Estados Unidos.
Porém, especialmente agora no contexto de redução de despesas, e após as experiências onerosas e decepcionantes no Iraque e no Afeganistão, o excepcionalismo americano não deverá ser muito perigoso para o mundo. Fato é que a força unilateral do excepcionalismo americano não contribui para o fortalecimento das Nações Unidas e outras instituições internacionais. A necessidade dos americanos de afirmar a superioridade moral do país os levou a ampliar os problemas em muitas outras nações.
Desde o final do século 19, os americanos definiram o excepcionalismo dos Estados Unidos por meio de contrastes com a Rússia – seja em seu modelo tsarista, soviético ou pós-URSS –, mais do que por meio de comparação com qualquer outra nação. Essa tendência muitas vezes contribuiu para representações carregadas e emotivas na mídia, além de ataques ad hominem aos líderes russos por políticos americanos, o que dificulta a manutenção dos interesses comuns entre Washington e Moscou.
Os russos, por sua vez, fazem o mesmo jogo: afirmam a sua superioridade moral pelas diferenças com os Estados Unidos, usando o materialismo e o imperialismo como suas principais armas de contestação. No passado, também se gabavam de que diferentes países (Cuba, Etiópia etc) estavam seguindo o seu exemplo exclusivo e brilhante. No entanto, desde o fim da União Soviética, os líderes russos se libertaram de tal ilusão ideológica e, no século 21, tendem a se concentrar nos interesses nacionais russos. Um exercício a ser praticado por ambos os lados.
David S. Foglesong é professor de História na Universidade de New Jersey.
Publicado originalmente pela Russia Direct
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