Ilustração: Niiaz Karim
As políticas de Estado na Rússia ainda criam um contexto importante para a atividade econômica, determinam o desenvolvimento industrial e têm impacto direto na rentabilidade das empresas. Para alguns, os chamados setores industriais estratégicos, o Estado é o fator determinante de quanto essas indústrias vão crescer e quão rentáveis serão para os investidores e empresas.
Em quase todos os países existem indústrias que são altamente reguladas, por serem consideradas essenciais para o bem-estar da economia e da população. As instalações de energia e gás na Rússia se enquadram nessa categoria e o Estado é quem determina as tarifas e questões de concorrência. Este ano, como uma das grandes prioridades é reduzir a inflação anual para abaixo de 5%, o governo está segurando os aumentos das tarifas de eletricidade e gás. Isso repercute diretamente na rentabilidade, no retorno sobre o investimento e nos planos de despesas de capital no setor. Esse controle rígido não deve mudar em um futuro próximo.
O Estado também determinou uma lista de indústrias que considera estratégicas para o desenvolvimento da economia. Essa questão foi esclarecida durante a recessão de 2008-09 e como parte dos termos de adesão do país à Organização Mundial do Comércio. O governo deixou claro quais setores pretende proteger da concorrência externa e fornecer apoio financeiro e político para estimular o crescimento.
O setor automotivo foi um excelente exemplo em meados de 2009, quando o Estado ajudou a criar várias joint-ventures entre fabricantes nacionais e estrangeiros, ofereceu ajuda financeira direta a esses empreendimentos e indiretamente ajudou a impulsionar a demanda de consumidor final por meio de subsídios e crédito barato. Essa indústria vem crescendo desde então, e a Rússia agora se gabe de possui o 2º maior mercado de veículos da Europa. Apoios estatais diretos e indiretos também estão sendo disponibilizados ou previstos para a agricultura, fabricação de alimentos, farmacêutica, setores de tecnologia e construção naval. Estes estão entre os setores considerados muito importantes para a segurança econômica do país e seu futuro desenvolvimento.
O Estado também tem um papel indireto forte em indústrias dominadas pelas empresas públicas ou controladas pelo governo. A produção de petróleo, os setores de transporte e telecomunicações de linha fixa, e os serviços financeiros, estão incluídos nessa categoria. As grandes estatais dão as cartas em termos de preços e condições operacionais. O Estado, por sua vez, define as principais metas operacionais e parâmetros para as empresas controladas por ele. Qualquer outra empresa que entrar nesses setores deve se adaptar às condições estabelecidas pelas empresas controladas pelo Estado ou, como tem sido o caso no setor da energia, buscar estreitas relações de cooperação com a estatal dominante.
Indiretamente, o Estado também tem um enorme papel a desempenhar na definição das condições de crescimento em toda a economia. Até certo ponto, isso não é diferente do observado na maioria das grandes economias, já que o governo frequentemente estabelece metas para a inflação e outras metas fiscais e monetárias. O próprio governo tem uma influência direta, por meio das despesas de orçamento e políticas fiscais, enquanto as agências estatais independentes, como o Banco Central da Rússia, tem como objetivo cumprir as políticas monetárias do Estado, fixando as taxas de juro e administrando a moeda. É assim que os governos trabalham ao redor do mundo.
Nas economias emergentes, não há dúvida de que existe uma relação mais estreita entre o governo e as agências independentes, como o Banco Central. Nesse locais, o governo dá diretrizes mais rígidas e orientação mais óbvia do que ocorre nas economias desenvolvidas. é normal, pois as economias em desenvolvimento precisam de mais intervenção política. Na Rússia contemporânea, vemos que a prioridade do governo é manter a estabilidade fiscal e monetária contra insegurança externa e risco de contágio. Isso significa que a moeda está sendo administrada de perto, e as taxas de juros continuam altas, enquanto a inflação é lentamente empurrada para o nível abaixo de 6% até o final deste ano. Para as empresas, isso quer dizer que têm um ambiente de crescimento relativamente estável, porém baixo, e custo elevado de empréstimos.
No próximo ano, assumindo que a percepção de risco global é menor e as perspectivas de comércio estão mais robustas, o governo deverá relaxar a sua estratégia de política monetária rígida e, em vez disso, vai pressionar para a queda das taxas de juros. A despesa orçamental deverá aumentar 4% em 2014 e até 10% em 2015; poderemos ver mais incentivos para fortalecer os investimentos e a atividade empresarial. Mas, ainda assim, essa mudança vai continuar dependendo do governo.
Chris Weafer é fundador-sócio da Macro Advisory, consultoria para investidores estrangeiros na Rússia.
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