Ilustração: Iólkin
Na Rússia contemporânea, os conflitos interétnicos, como aconteceu recentemente na cidade de Pugatchev, são a prova viva da necessidade de formulação de uma consistente política étnica. Mas as autoridades russas ainda preferem resolver as situações desse tipo seguindo as políticas herdadas da União Soviética, que tratavam aa questão com pouca importância e davam preferência à resolução dos problemas ligados à desigualdade social.
Sob o regime socialista adotado pelas repúblicas da União Soviética, o conceito de “amizade entre os povos” e da solidariedade entre as classes sociais prevalecia sobre a origem étnica da sua população. Naquela época, o povo russo assumia a imagem do “irmão mais velho”, que deveria contribuir para o desenvolvimento econômico e tecnológico das pessoas de outras nacionalidades, assim como se responsabilizar por elas.
Um exemplo claro dessa prática foi a campanha de exploração das terras virgens do Cazaquistão nos anos 1950. Mas a política de dar prioridade às periferias, em vez de focar nas regiões centrais ocupadas por russos nativos, perdurou até a queda da União Soviética. Durante esse período, o povo russo se sentiu prejudicado e essa sensação deu origem ao nacionalismo.
A solução moderna para os conflitos étnicos foi proposta pelo presidente russo Vladímir Pútin em seu artigo “Rússia: assunto étnico”, publicado durante a sua campanha eleitoral. No documento, o país é chamado d e “Estado-civilização” único, cuja identidade se baseia na manutenção da “cultura russa dominante”. Segundo o presidente, o povo russo tem um papel fundamental na formação desse Estado e a “grande missão de mantê-lo unido”.
No entanto, Pútin não esclareceu as dúvidas relativas à aplicação prática desse ideal. Os políticos apontam a necessidade de estabelecer a igualdade social e econômica entre todos os cidadãos russos, enquanto os especialistas afirmam que o problema étnico não existe, o que existe é injustiça social. Embora ronde a ideia de que boa renda e qualidade de vida podem evitar conflitos, o conceito atual não leva em consideração as diferenças culturais que nos últimos anos têm estimulado a violência.
É preciso criar um programa de educação interétnica para que as pessoas conheçam melhor os seus vizinhos, assim como prosseguir com o projeto de centros culturais proposto pelo Ministério das Regiões. As diferenças devem ser exploradas, assim como os principais aspectos da cultura russa que servem de elo entre os povos.
Os conflitos na cidade de Pugatchiov, em Saratov, estimularam diversas forças políticas nacionais diferentes a desenvolver propostas para a resolução dos conflitos étnicos. A “Frente do Povo Russo”, por exemplo, propõe a criação de um centro de monitoramento dos processos interétnicos e imigratórios, que iria monitorar os conflitos existentes e avaliar os motivos para que o governo possa tomar as medidas preventivas.
Os resultados de uma análise da situação atual também levaram os representantes da Câmara Pública russa a propor a criação de milícias interétnicas nas cidades problemáticas, assim como à fundação de uma agência para os assuntos étnicos, submetida ao governo federal. Os especialistas se mostram favoráveis às sugestões, mas acreditam que somente uma combinação delas poderá contribuir para a elaboração de políticas nacionais eficazes.
As propostas dos políticos e entidades sociais devem ser coletadas por um centro de coordenação – de preferência, controlado pelo próprio presidente. Em seguida, as possíveis opções serão discutidas abertamente e submetidas a análises com a participação ativa da câmara dos deputados, entidades governamentais e órgãos do poder Executivo de vários níveis. Desse modo, o projeto poderá ser elaborado e encaminhado para votação já na segunda metade deste ano.
Leonid Poliakov é diretor do departamento da Ciência Política da Escola Superior de Economia.
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