Um porto seguro para Sôtchi-2014

Ilustração: Iólkin

Ilustração: Iólkin

Em fevereiro de 2014, o resort russo à beira do mar Negro sediará os 22° Jogos Olímpicos de Inverno. Instabilidade regional obriga autoridades russas – e estrangeiras – a repensarem estratégias de segurança para os próximos Jogos Olímpicos de Inverno.

Para a Rússia, os próximos jogos não serão apenas um teste de realização atlética, mas a prova de seu retorno à primeira divisão da política mundial, após uma complicada transição do sistema soviético para as novas realidades. E para que esse retorno seja bem sucedido, é indispensável que uma série de problemas seja solucionada.

Entre essas questões, está a melhoria da infraestrutura de transporte, problemas ecológicos, preservação da tradição turística e, é claro, a segurança são vistos como sendo os mais importantes. Ao contrário das capitais que sediaram as Olimpíadas anteriores, Sôtchi localiza-se próximo a mais problemática região da Rússia, o Cáucaso do Norte.

Se ainda há algumas décadas, a república vizinha de Kabardino-Balkária foi chamada de “Bela Adormecida do Cáucaso”, hoje em dia essa região aparece frequentemente nas notícias relacionada aos atos terroristas e sabotagem. Vale a pena notar que as ameaças dos jihadistas do Cáucaso do Norte de impedir a realização dos Jogos Olímpicos de Inverno no litoral do mar Negro surgiram quase que imediatamente após o Comitê Olímpico Internacional (COI) ter tomado à decisão de que a Rússia sediaria a Olimpíada de Inverno em 2014.

Além disso, a Grande Sôtchi tem acesso à fronteira com a Abecásia. Para Tbilisi. Trata-se de uma fronteira russo-georgiana e, para Moscou, é a fronteira entre dois países – a Rússia e Abecásia, cuja independência a Rússia reconheceu em agosto de 2008. Ao contrário das repúblicas do Cáucaso do Norte, nesse Estado parcialmente reconhecido mantém-se um nível de estabilidade maior. Mas também se pode desconsiderar a atividade criminosa na região. Basta lembrar da tentativa de assassinato do líder da Abecásia, Aleksandr Ankvab, no ano passado. Embora o islamismo radical não tenha raízes fortes e recursos de influência na Abecásia, em maio do ano passado, no seu território foi descoberta uma célula do “Jamaat da Abecásia”, cujos membros eram suspeitos de preparar um ataque terrorista durante os preparativos dos Jogos Olímpicos de Sôtchi.

Atualmente, as relações entre a Rússia e a Geórgia, diferentemente da situação de dois ou três anos atrás, encontram-se em um estágio de lenta normalização. O Comitê Olímpico Nacional da Geórgia votou, por unanimidade, a favor da participação nos próximos Jogos Olímpicos de Inverno, enquanto o primeiro-ministro Bidzina Ivanichvili declarou que se deve separar os esportes da política. Mesmo assim, permanecem as suspeitas mútuas, e o nível de confiança entre as partes deixa muito a desejar, sem falar das posições diametralmente opostas em relação ao status da Abecásia e da Ossétia do Sul.

Nesse contexto, não é coincidência a atenção que as autoridades russas estão dispensando à segurança em Sôtchi. Ainda em dezembro de 2007, por meio de uma lei federal especialmente aprovada “sobre a organização e realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Inverno”, as autoridades locais receberam amplos poderes para a introdução de zonas de controle e de exclusão, assim como de restrições à entrada e de medidas de aumento da segurança. Recursos significativos já foram gastos e outros ainda serão gastos na utilização de sistemas de proteção da costa marítima e das áreas da região montanhosa.

Qualquer que seja a qualidade da ação dos serviços de segurança russos, é evidente que sem amplas consultas tanto aos colegas de outros países (especialmente aos EUA) quanto às agências privadas, envolvidas na garantia da segurança nos jogos em Londres ou em Vancouver, será difícil alcançar o efeito desejado. E aqui está o ponto mais importante: compreender que os benefícios estratégicos desse tipo de cooperação estão acima das diferenças táticas existentes. A interrupção dos jogos em Sôtchi ou a repetição do cenário de 1972, em Munique, não representaria apenas um golpe para a Rússia e sua reputação. Isso seria uma provocação à segurança mundial como um todo, uma prova de sua extrema vulnerabilidade e ineficiência. 

 

Serguêi Markedonov é pesquisador convidado do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington (EUA).

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