Ilustração: Iolkin
Na última sexta-feira (14), a Casa Branca anunciou ter provas de que o exército sírio teria usado armas químicas e, em razão disso, se declarou disposta a começar a armar a oposição. Essa declaração foi feita às vésperas da cúpula do G8, onde os países ocidentais liderados pelos EUA irão tentar convencer o presidente russo Vladímir Pútin a parar de apoiar o presidente sírio.
“Nossa comunidade de inteligência avalia que o regime Assad usou armas químicas, incluindo o agente nervoso sarin, em pequena escala contra a oposição em diversas ocasiões no ano passado”, declarou o conselheiro adjunto de Segurança Nacional do governo dos Estados Unidos, Ben Rhodes.
Segundo ele, os ataques químicos mataram 100 a 150 pessoas. “O presidente [Obama] afirmou que o recurso a armas químicas mudaria sua equação, e este é o caso”, adiantou Rhodes, revelando que o presidente norte-americano decidiu aumentar a ajuda à oposição síria, a qual, a partir de agora, incluirá também componentes militares.
É ocasião para lembrar que, há três semanas, a União Europeia não quis renovar a moratória aos fornecimentos de armas à oposição síria, o que permite ao Reino Unido e à França, países impulsionadores dessa resolução, começar a armar a oposição síria. Paralelamente, os EUA, França e o Reino Unido não dizem nada sobre as datas nem a pauta de seus fornecimentos letais.
No entanto, o problema não está em ajuda militar. Não é de mãos vazias que os rebeldes lutam há mais de dois anos contra o exército regular sírio. Só a ajuda militar do Catar aos rebeldes sírios já ultrapassou US$ 1bi, segundo os dados da imprensa.
O problema é saber se o regime de Assad utiliza mesmo armas de destruição em massa, nomeadamente químicas, consideradas em todo o mundo como meio de dissuasão. Se Assad cruzar essa “linha vermelha”, ele vira logo pária internacional.
Moscou acredita que as acusações contra Damasco são infundadas. Na última sexta-feira (14), o assessor do presidente russo para os assuntos Internacionais, Iúri Uchakov, disse a repórteres que “gostaria de confirmar que nossos representantes tiveram uma reunião com uma delegação norte-americana em que a parte norte-americana tentou nos provar que o regime Assad teria usado armas químicas. Francamente, as provas apresentadas pelo lado norte-americano não nos pareceram convincentes”.
Uchakov lembrou a esse respeito que, antes de agredir o Iraque, o então secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, havia exibido na ONU uma proveta com uma substância branca, alegando que Saddam Hussein estaria pronto para usá-la a qualquer momento. Na realidade, porém, nenhumas evidências de uso de armas de destruição em massa pelo regime iraquiano foram encontradas pelos EUA no Iraque.
Uchakov também disse que, em sua opinião, para os EUA, o fato de terem passado essas informações ao lado russo em si é mais importante para suas manobras políticas no futuro.
De fato, a declaração da Casa Branca definiu o tema principal da cúpula do G8, que acontece nos dias 17 e 18 de junho na Irlanda do Norte, e da reunião Pútin-Obama que se realizará no âmbito do evento.
“Quando nossos presidentes se reunirão dentro de poucos dias, esse (o uso de armas químicas da Síria) será um dos principais temas de seu encontro”, disse o embaixador dos EUA em Moscou, Michael McFaul, na última quinta-feira (13). Segundo o diplomata, os interesses de Moscou e de Washington são, nesse caso, os mesmos. “Quando o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, visitou Moscou, ele deixou claro que queremos trabalhar juntamente com a Rússia e não contra a Rússia no combate a nossos desafios comuns”, disse o embaixador americano.
Moscou defende que as armas químicas não sejam usadas por ninguém. A cooperação entre as duas potências nessa matéria é um dos elementos-chave de todo o sistema de relações internacionais. O Kremlin se declarou várias vezes disposto a cooperar em pé de igualdade com os EUA na busca de soluções para problemas globais.
Portanto, parece que os EUA querem proporcionar a Pútin a oportunidade de rever sua posição sobre a Síria, parar de apoiar Assad e salvar as aparências. No entanto, a julgar pelas declarações de Uсhakov, o presidente russo não se congratula com essa oportunidade e continua a ser contra o uso de forças externas para a mudança de regimes.
No entanto, os militares americanos propõem uma alternativa: dar luz verde à ajuda militar para a oposição síria que pode incluir não só o fornecimento de armas e troca de informações mas também o estabelecimento de uma zona de exclusão aérea, informou o jornal Wall Street Jornal em sua edição de sexta-feira (14).
Essas medidas podem reduzir a nada a atual superioridade militar das tropas do governo sírio e mudar o equilíbrio de poderes às vésperas da conferência de paz sobre a Síria em Genebra, idealizada pelos EUA e a Rússia. Além disso, uma intervenção militar externa na crise síria pode pôr em dúvida o próprio evento.
“Esse ainda não é o fim da conferência Genebra 2”, acredita Fiódor Lukianov, presidente do Conselho para a Política Externa da Rússia. Obama tem se encontrado sob pressão muito forte. Além disso, a hipótese de prestação de uma ajuda militar está há muito na ordem do dia. No entanto, a decisão de começar a fornecer armas não é a efetiva entrega de armas. Na verdade, todas as partes, tanto a Rússia quanto a União Europeia, dizem que iriam fornecer armas à Síria, mas primeiro querem saber o desfecho do processo de preparação da conferência. “Portanto, acho que, por enquanto, a situação não passou dos limites de um jogo diplomático”, acrescentou Lukianov.
Segundo ele, se o processo de preparação da conferência tiver um mau desfecho, uma escalada militar ativa com intensos fornecimentos de armas de todos os lados terá início. “Começará um novo período marcado pelo fim de todas as tentativas de pacificar o país”, arrematou o observador.
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