Responsabilidade global é a chave do futuro

Ilustração:  Natália Mikhailenko

Ilustração: Natália Mikhailenko

Em artigo exclusivo à revista “International Affairs”, ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguêi Lavrov, esclarece a filosofia da política externa russa.

Em 12 de fevereiro de 2013, o presidente russo, Vladímir Pútin, aprovou a nova redação do Conceito de Política Externa da Federação Russa. Redigido com a participação de especialistas e membros do conselho científico junto ao Ministério dos Negócios Exteriores, o projeto havia sido previamente examinado pelas entidades envolvidas em atividades internacionais e pelo gabinete da Presidência.

O principal resultado dessas discussões foi o entendimento de que não há alternativa à atual política independente da Rússia no cenário internacional. Em outras palavras, em nenhuma circunstância, nem mesmo hipotética, a Rússia pode seguir atrelada a um dos líderes da política internacional.

A independência da política externa da Rússia é condicionada a suas dimensões geográficas, posição geopolítica única, tradição histórica de longa data, cultura e autoconsciência de seu povo. Essa política é fruto do desenvolvimento do país ao longo dos últimos 20 anos em um novo contexto histórico, no qual conseguimos, por tentativa e erro, formular uma filosofia de política externa mais adequada aos interesses atuais da Rússia.

O objetivo principal das atividades internacionais da Rússia é a criação de um cenário externo favorável ao crescimento de sua economia, aplicação de inovações e melhoria da vida de seu povo. É óbvio também que o aumento progressivo desse potencial só é possível em um ambiente de estabilidade internacional. Portanto, a Rússia encara a paz e a segurança universais como seu dever na qualidade de ator global e membro permanente do Conselho de Segurança e, paralelamente, como um de seus interesses-chave.

Somos acusados, muitas vezes, de conduzir uma política externa conservadora, tentando defender o status quo, cuja mudança é inevitável. Essa é uma evidente distorção da doutrina de política externa russa. Consideramos que o mundo está em momento de profundas mudanças, das quais é quase impossível de prever o resultado.

Diante disso, há apenas duas escolhas: o aumento das tensões interculturais e sua eventual transformação em um conflito aberto ou o aprofundamento do diálogo mutuamente respeitoso a fim de promover compreensão entre as civilizações. Acreditamos que a forma mais segura de evitar a transformação da concorrência global em um confronto militar é trabalhar incansavelmente para a afirmação de uma liderança coletiva e representativa em termos geográficos e civilizacionais.

As atividades da diplomacia russa visam exercer uma ação positiva sobre os processos globais tendo em vista a criação de um sistema sustentável, policêntrico e autorregulador de relações internacionais, no qual a Rússia assuma um papel legítimo. Estamos prontos para um diálogo multidisciplinar com todas as partes interessadas.

A Rússia defende firmemente o método de diplomacia de rede, que prevê a criação de associações de países flexíveis e cruzadas conforme seus interesses comuns. Um dos exemplos bem-sucedidos de tais associações com a participação de países localizados em continentes diferentes é o grupo Brics.

Assumindo a presidência rotativa do G20, do G8, da Organização de Cooperação de Xangai (SCO, na sigla em inglês) e do Brics no período entre 2103 e 2015, nosso país trabalha energicamente para aumentar a contribuição dos formatos multilaterais no reforço da governança global. Essa é uma das manifestações práticas do caráter multivetorial da política externa russa.

A Rússia continuará representando um fator de equilíbrio nas relações internacionais, e a relevância desse papel é confirmada pela maioria de nossos parceiros. Isso se explica não só pelo peso internacional do nosso país, mas também pelo fato de termos nossa própria opinião sobre os acontecimentos em curso no cenário internacional, baseada nos princípios do direito e justiça.

A atratividade crescente da Rússia se deve também ao aumento do potencial de seu “poder brando”, como um país que alia um riquíssimo patrimônio cultural e ideológico com potencialidades únicas de desenvolvimento dinâmico. Moscou acredita que as posições dos principais atores do cenário internacional têm mais coisas que os unem do que aquelas que os separam, sobretudo no que diz respeito aos objetivos finais, e não às táticas.

Hoje em dia, o mundo inteiro está interessado em reduzir as áreas de conflitos internacionais e internos, resolver os problemas da não-proliferação de armas de destruição em massa e seus vetores de lançamento e limitar as possibilidades de grupos terroristas e extremistas. Portanto, trata-se de acabar na prática, e não apenas usando palavras, com o egoísmo nacional e perceber a responsabilidade comum pelo futuro da civilização humana.

 

Publicado originalmente pela revista International Affairs

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