Ilustração: Aleksêi Iórch
O presidente dos EUA, Barack Obama, tem demonstrado uma abordagem equilibrada. Em entrevista à revista “The New Republic”, ele fez uma pergunta retórica: “Será que [a intervenção militar] poderia desencadear uma violência ainda pior ou o uso de armas químicas? E como equilibrar as dezenas de milhares de pessoas que já foram assassinadas na Síria contra as dezenas de milhares de pessoas que estão sendo mortas no Congo?”
Mais tarde, em uma entrevista à rede “CBS”, Obama ofereceu uma resposta à sua própria pergunta. “A Síria é um exemplo clássico do nosso envolvimento; queremos ter certeza de que não só vai aumentar a segurança dos EUA, mas que também está sendo feito o certo para o povo da Síria e para os países vizinhos, como Israel, que serão profundamente afetados por isso”, disse o presidente norte-americano.
Em outras palavras, não haverá nenhuma intervenção direta.
Ainda assim, a
situação na Síria não é ruim porque os EUA evitaram abertamente ajudar a
oposição armada. O problema também não é o fato de a Rússia declaradamente
apoiar Damasco – ou, mais precisamente, o presidente sírio Bashar al Assad.
“Há várias medidas que a Rússia pode tomar. Os russos podem cortar de modo
consistente e público o fornecimento de armas russas para o regime [de Assad],
sobretudo helicópteros de ataque”, disse a porta-voz do departamento de Estado
dos EUA, Victoria Nuland, em 28 de janeiro. “Podem também cortar o círculo de
acesso de Assad aos bancos russos. Podem ainda apoiar ativamente uma transição
política e trabalhar conosco sobre quem poderia vir depois, quem poderia manter
o país unido e seguir o caminho da democracia.”
Essa declaração é apenas parcialmente verdadeira. Falar em guerra civil na Síria é errado, segundo Boris Dolgov, pesquisador sênior do Instituto de Estudos Orientais da Academia de Ciências da Rússia. As tropas do governo sírio não estão combatendo cidadãos armados, mas sim unidades de combate bem treinadas que recebem financiamento e armas do exterior.
É difícil argumentar com Assad, que disse ao jornal libanês “Al-Akhbar” que “fechar as fronteiras sírias para armas e o contrabando resolveria o problema em poucas semanas, porque não haveria fontes de dinheiro e armas”.
As queixas de Nuland contra a Rússia também assumem uma dimensão política. O governo de Moscou repetiu diversas vezes que não é exatamente um admirador de Assad. O ministro das Relações Exteriores russo, Serguêi Lavrov, reiterou essa posição.
“Nunca fomos fascinados pelo regime de Assad nem o apoiamos”, disse Lavrov. “Todas as medidas tomadas que tiveram como objetivo facilitar a implementação do Acordo de Genebra para a formação de um governo de transição confirmam nosso desejo de estabilizar o cenário e criar condições para que os próprios sírios determinem o destino do seu governo, povo e país. É isso que nossa posição quer dizer, em vez de apoiar qualquer lado específico nessa tragédia.”
O ponto central das divergências entre Moscou e Washington é que a Rússia se opõe a uma mudança de regime por meio de pressão externa, seja militar, política ou econômica. Os Estados Unidos, entretanto, estão aparentemente tentando influenciar Moscou a concordar sobre quem vai ser o próximo presidente da Síria – para “expulsarem” Assad juntos. Essa é certamente uma proposta tentadora, já que o Kremlin declarou abertamente sua disponibilidade de cooperação em pé de igualdade em uma ampla gama de questões.
Em uma entrevista recente, o primeiro-ministro russo Dmítri Medvedev confirmou que o futuro da Síria é um dos temas do diálogo russo-americano. “Não há contradições irreconciliáveis em nossas posições”, disse Medvedev. No entanto, o premiê repetiu que o destino de Assad deve ser decidido pelo próprio povo sírio. “Nem pela Rússia, nem pelos Estados Unidos, nem por qualquer outro país do mundo”, arrematou Medvedev.
A resposta de Medvedev não chega a entrar em conflito com o que Henry Kissinger havia dito ao ser questionado sobre a Síria em Davos. Kissinger pediu aos Estados Unidos e à Rússia para trabalharem juntos a fim de resolver a crise. Se o mundo externo intervir militarmente, disse ele, “ficará no meio de um grande conflito étnico; e se não o fizer, irá continuar presenciando uma tragédia humanitária”.
Andrêi Iliachenko é colunista da rádio “Voz da Rússia” sobre questões do Oriente Médio
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