Ilustração: Pototski Dan
Em seminário recente do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington, foi apresentado o relatório intitulado “Os Estados Unidos e a Ásia Central após 2014”, esboçando dois pontos de vista opostos quanto aos objetivos, perspectivas e o papel dos Estados Unidos na região.
Um deles é que a Ásia Central tem um significado independente para os Estados Unidos e que mesmo após a retirada do Afeganistão, a região continuará de grande interesse para a política externa americana.
O outro, apoiado por mim e pela maioria dos analistas, é que esta região tem uma importância periférica para a política externa americana.
Hoje, os Estados Unidos enfrentam um grande número de desafios internos de natureza sócio-econômica e um número não inferior de desafios externos, vindos de regiões mais importantes para o país, como o Norte da África, o Oriente Médio e o Extremo Oriente.
Tendo em conta a diminuição de recursos e possibilidades dos Estados Unidos no mundo, é óbvio que após a retirada das tropas americanas do Afeganistão, os interesses de Washington na região irão reduzir significativamente.
Com isso observou-se que os americanos ainda vão tentar conseguir dois objetivos na região, mesmo diante da redução de suas oportunidades: por um lado, continuar a reforçar a soberania e a independência dos países da Ásia Central e, por outro lado, evitar um aumento de influência da Rússia e da China.
Tendo em conta o crescente poder e a expansão econômica da China na região num futuro previsível, os Estados Unidos provavelmente não irão considerar a Rússia como a principal ameaça à soberania dos países da Ásia Central.
Dado o declínio de seu potencial para conduzir uma política ativa nesta região e ciente de que o crescimento excessivo da China ali é uma ameaça para seus interesses a longo prazo, Washington estaria mais interessada em formar uma parceria com a Rússia e criar um equilíbrio para conter a China.
Parece-me que a preocupação da Rússia com a presença dos Estados Unidos nesta região em grande parte estava relacionada ao fato de que nos anos de 1990 e no início de 2000, a Rússia ter recursos insuficientes e não possuir um poder consolidado de Estado suficiente para ser um jogador independente e eficaz na região.
Os russos, portanto, temiam que os Estados Unidos não somente fossem reforçar suas posições nestes países, mas que de lá exerceriam um impacto nos processos políticos internos russos, tentando mantê-la como um sócio minoritário obediente, como foi o caso nos anos 1990.
Hoje a Rússia é forte o suficiente para não temer uma possível influência americana de dentro desta região e para desempenhar o papel de um parceiro independente e eficaz no triângulo Rússia-EUA-China.
Tendo em vista a mudança da relação de forças em decorrência da crescente presença chinesa e uma redução das capacidades e recursos dos EUA, uma certa presença americana na região, mesmo depois da retirada das tropas do Afeganistão, pode ser perfeitamente aceitável para Moscou, para evitar, além de um excessivo aumento da influência chinesa, também uma expansão do extremismo islâmico.
Uma vez que a Rússia não tem o desejo nem os recursos para a dominação unilateral na região, pelo menos nos próximos anos, uma política para a formação de um equilíbrio vantajoso seria bastante desejável.
Mudanças
Não é possível, neste contexto, deixar de mencionar as possíveis mudanças nas posições dos países da Ásia Central.
Após o colapso da União Soviética, eles lutavam para manter e reforçar a sua própria independência e soberania. Ainda sob o efeito da inércia, temiam uma restauração da União Soviética. Neste aspecto, a Rússia ainda era percebida como uma ameaça potencial.
No entanto, perante as atuais ameaças para a estabilidade e a independência da região, atualmente provenientes do fundamentalismo islâmico (Taleban, Al-Qaeda etc.) e, por outro lado, da excessiva dominação chinesa, os líderes destes países também serão obrigados a procurar um equilíbrio de forças entre as grandes potências envolvidas na região, a fim de preservar a sua independência e soberania.
Nesse sentido, o fortalecimento do Taleban e de grupos radicais islâmicos nos países vizinhos e o enfraquecimento do desejo e da capacidade dos Estados Unidos de serem um fator decisivo na região, provavelmente empurrarão os líderes desses países para uma busca de relações mais estreitas com a Rússia.
Oportunidades especiais para reforçar a influência russa também poderão ser criadas em um futuro próximo pelo processo de transferência de poder para os novos governantes na Ásia Central, o que é sempre acompanhado de um forte crescimento de instabilidade política, que, como regra, no âmbito dos regimes existentes na Ásia Central, os políticos não são capazes de resolver sem uma séria interferência externa.
Publicado originalmente pelo Izvéstia
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