A primeira coisa que vem à mente quando se pensa no primeiro projeto de ônibus espacial soviético, intitulado Buran (Nevasca, em russo), é como a União Soviética era ambiciosa quando se tratava de exploração espacial. Naquela época, o Buran representava a resposta russa ao ônibus espacial da Nasa.Em 15 de novembro de 1988, depois de dar duas voltas em torno do planeta, a nave espacial reutilizável (não tripulada) pousou em Baikonur, no Cazaquistão. No entanto, apesar da grande expectativa, o veículo jamais voltou ao espaço. Maior e mais caro programa de exploração espacial soviética, o Buran foi cancelado em 1993.
Vitáli RaskalovSegundo analistas militares, em entrevista à revista “New Scientist”, o Buran não tinha função civil e era essencialmente destinado à implantação de armas no espaço. A URSS poderia, inclusive, ter planejado a implantação de armas nucleares.
Vitáli Raskalov“Lembro-me quão grande era... Era muito maior do que parece nas fotos. Eles tinham grandes planos para ele”, diz o roofer e fotógrafo Vitáli Raskalov, que esteve no Cosmódromo de Baikonur em meados de maio passado. Raskalov é uma das poucas pessoas que conseguiu entrar no aeródromo sem permissão, já que o acesso é vetado ao público. Até hoje, a cidade de Baikonur mantém o status de “cidade fechada” da época soviética. “Na verdade, você pode comprar um bilhete de trem de Moscou, mas apenas se você tiver uma autorização. E nós não tínhamos”, conta Raskalov.
Vitáli RaskalovO roofer russo, junto com outros quatro britânicos e dois ucranianos, optou por uma rota alternativa. “Encontramos informações na internet – de pessoas que trabalharam lá a turistas como nós. Houve um motociclista que, sem querer, dirigiu até o cosmódromo. Ele foi pego, mas nada aconteceu com ele. O que a polícia pode fazer?”
Vitáli RaskalovO grupo voou para Almati, de lá pegou um trem para Kizilorda e então finalizou a viagem de táxi. “Nada de especial! Aqui é o Cazaquistão...as pessoas já viajam entre as cidades de táxis. Dissemos ao motorista que éramos fotógrafos e queríamos tirar fotos das estrelas”, diz Raskalov. “Ele nos deixou no meio da estepe. Estávamos completamente sozinhos ali”, acrescentou o roofer.O território que abrange o cosmódromo é, porém, fortemente protegido. “Claro que o Baikonur é bem protegido. Mas não sabíamos onde exatamente os funcionários da segurança estavam posicionados. Você não pode imaginar quão grande é essa área. É como a área dentro do terceiro anel viário de Moscou. Como um território dessa proporção pode ser totalmente protegido? É bastante difícil”, diz o russo.
Vitáli RaskalovRaskalov e os colegas usaram a mesma rota que o motociclista, caminhando por duas noites. “Eu tinha comigo seis litros de água, um pouco de comida, uma jaqueta e um saco de dormir...e isso é tudo. Encontramos uma base de lançamento de mísseis balísticos intercontinentais destruída. Havia um enorme buraco no solo”, relembra Raskalov. “Como o programa Buran foi interrompido, pensamos que as autoridades tinham preenchido o buraco com concreto. Mas eles não o fizeram, já que é muito caro. Então, eles simplesmente explodiram toda a área! Isso aconteceu depois que a Rússia assinou o Tratado de Redução de Armas Estratégicas [START-І].”
Vitáli RaskalovO hangar que abriga os ônibus Buran fica a cerca de 30 km da antiga base de lançamento de mísseis. Está situado no território do cosmódromo e, além das vias, conta com um sistema de segurança com patrulha constante. “Nas primeiras horas da manhã, conhecemos um grupo de russos dentro do hangar”, diz Raskalov. “Eles tinham o mesmo objetivo – tirar fotos impressionantes. Mas também havia um guarda no hangar. Eu consegui me esconder, mas os membros do meu grupo não tiveram a mesma sorte. Mais tarde, naquela noite, eles também me pegaram.”
Vitáli RaskalovOs invasores estrangeiros “foram interrogados por agentes do FSB, e suas coisas foram totalmente vasculhadas. Isso tudo durou por cerca de 12 horas. Os agentes, enfim, convenceram-se de que os estrangeiros não eram terroristas nem espiões, e eles foram liberados. Já no meu caso, acredito que eles perceberam que eu pertencia ao mesmo grupo e decidiram, assim, não perder mais tempo”, conta Raskalov.
Vitáli Raskalov“No entanto, quase nunca me pegam. Baikonur foi um desses raros momentos. Se é legal ou ilegal, não peço permissão. Se ninguém me para, tudo bem. O objetivo principal é fazer boas imagens. Não posso dizer que estou fazendo algo arriscado. Na verdade, é mais perigoso dirigir uma moto nas ruas de Moscou”, brinca o roofer.
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