A família da xamã Sagalákova é grande. Para suprir suas necessidades, ela mantém uma horta e um jardim, leva o gado para pastar, cozinha, arruma a casa e toma conta das crianças pequenas no verão. Diz a lenda que sua linhagem teve origem a partir de um grande xamã, e a própria Maria herdou o poder de seu pai.
Ainda criança Maria já possuía uma incrível intuição, mas suas reais habilidades de xamã revelaram-se somente aos 40 anos, após o nascimento de seu filho caçula: a toda hora, em vez de uma canção de ninar, um canto gutural saía de seus lábios. Três anos mais tarde, Maria ficou completamente paralisada durante nove meses, e nesse período ela sempre tinha o mesmo sonho. Nem os médicos, nem um psicanalista, nem a igreja puderam ajudá-la. Finalmente Maria decidiu recorrer aos xamãs. Eles disseram que o seu destino era ajudar as pessoas e que se ela não se abrisse aos espíritos morreria aos 50 anos.
Ela não tinha ninguém que pudesse ajudá-la nesse processo. Seu pai, que era xamã, não podia transmitir-lhe seus conhecimentos diretamente, pois naquela época, na Rússia soviética, os xamãs eram fuzilados ou enviados para campos de trabalhos forçados; por isso, ele exercia sua prática em segredo. Hoje em dia, pensando em ajudar as futuras gerações de xamãs, ela faz anotações de seus rituais, para que seja mais fácil repassar os ensinamentos a seus descendentes.
O maior manuscrito de sua coleção é o livro de visitantes, já que as pessoas procuram Sagalákova quase todos os dias. Mesmo que ninguém apareça, ela deve trabalhar, pois do contrário os espíritos irão puni-la.