Observadores da OSCE sugeriram que rebeldes pró-russos seriam responsáveis por tragédia Foto: AP
Mais um confronto no leste da Ucrânia terminou em tragédia e acusações entre ambas as partes. O ataque de artilharia a áreas residenciais em Mariupol, foi responsável pela morte de pelo menos 30 civis.
Em missão às áreas afetadas, observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) relataram no domingo passado (25) “múltiplos impactos em edifícios, lojas, habitações e em uma escola”, além de “automóveis em chamas e janelas estilhaçadas (...) de um edifício de apartamentos com nove andares”.
O relatório produzido pela OSCE não aponta diretamente a participação de milícia nos ataques, mas sugere o envolvimento de rebeldes pró-russos. “De acordo com a análise dos impactos, os mísseis Grad foram lançados de uma posição a Nordeste, na área de Oktiabr, e os Uragan foram lançados de uma posição a Leste, na área de Zaichenko, ambas controladas pela República Popular de Donetsk”, lê-se no documento.
Pouco antes do incidente, o líder da RPD, Aleksandr Zakhartchenko, havia anunciado o início da ofensiva a Mariupol. No entanto, Zakhartchenko negou mais tarde a intenção de atacar a cidade e disse que a operação havia sido uma resposta à provocação dos militares com o objetivo de “suprimir a posição das tropas ucranianas”.
Silêncio russo
O analista político e um dos diretores do Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais da Academia de Ciências da Rússia, Aleksêi Arbatov, interpreta o silêncio da Rússia em torno do ocorrido como um sinal de consentimento sobre as conclusões dos observadores da OSCE.
“Apesar de tudo, reconhecemos a objetividade da OSCE e nos baseamos muitas vezes em suas conclusões como prova – sobretudo quando registra os ataques por parte do Exército ucraniano”, diz Arbatov.
Já o diretor do Instituto Internacional de Estudos Humanitários e Políticos, Viatcheslav Igrunov, acredita que, independentemente do posicionamento russo, não será possível evitar a aplicação de “dois pesos e duas medidas” em torno de Mariupol.
“Quando a Casa dos Sindicatos, em Odessa, foi incendiada, não houve nenhuma reação por parte dos apoiantes internacionais da Maidan”, diz Igrunov. “Mas o ataque a Mariupol será usado contra a Rússia.”
Timofei Bordatchev, diretor do Centro de Estudos Integrais Europeus e Internacionais da Escola Superior de Economia, acredita que a Rússia ainda vai reagir à tragédia. “Haverá reação, e ela será, como sempre, contida e sem tocar nenhuma das partes”, disse Bordatchev à Gazeta Russa.
“Como de costume, a Rússia vai insistir em uma investigação independente. Aquilo que disseram os observadores da OSCE logo após a tragédia não é resultado de uma investigação profunda”, acrescentou o especialista.
Sanções à vista?
Se o ataque de artilharia a Mariupol deixar de ser um caso isolado e se der início a um ataque concreto a esta ou outra qualquer cidade, a reação do Ocidente será grave, segundo o analista político Aleksêi Arbatov.
“Nesse caso, não teremos como evitar uma nova onda de sanções. E elas virão acompanhadas por medidas como o fornecimento de armas à Ucrânia e o aumento da presença militar da Otan no Leste Europeu, incluindo Bulgária e Romênia”, diz.
Igrunov também não exclui a possibilidade de uma nova rodada de sanções depois do suposto ataque das milícias. No entanto, acredita que as “novas medidas serão brandas, porque a Europa está agora com seus próprios problemas graves para resolver”.
Segundo ele, a deterioração das relações com a Rússia iria apenas reduzir os indicadores econômicos da Europa, que já enfrenta uma “situação muito delicada”.
A intensificação das sanções poderá, de acordo com os especialistas, partir dos EUA. O jornal “Kommersant” divulgou, com base em fontes do Departamento de Estado dos EUA, que os americanos estão analisando a exclusão da Rússia da cooperação civil no domínio do nuclear e do sistema SWIFT.
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