Normalização das relações EUA-Rússia pode se arrastar ‘por anos a fio’

A reunião entre os chefes dos órgãos diplomáticos da Rússia e dos EUA foi realizada no último dia 14 Foto: Reuters

A reunião entre os chefes dos órgãos diplomáticos da Rússia e dos EUA foi realizada no último dia 14 Foto: Reuters

A reunião entre os chefes dos órgãos diplomáticos da Rússia e dos EUA, realizada no último dia 14, em Roma, mostrou que, apesar da tensão nas relações, as duas potências nucleares estão buscando pontos em comum e parecem dispostas a cooperar na solução de questões internacionais importantes. Especialistas acreditam que Moscou e Washington estão interessados em diminuir os pontos de conflito, no entanto, a completa normalização é pouco provável em uma perspectiva de médio prazo.

Apesar do esfriamento das relações entre a Rússia e os EUA, os políticos e os especialistas dos dois países continuam a dialogar e a buscar pontos em comum. A principal proposição das discussões é que a crise nas relações bilaterais já foi longe demais e está rapidamente saindo de controle.

“Se a crise continuar se aprofundando, poderá levar ao surgimento de problemas muito graves. A Rússia se transformará em um verdadeiro inimigo estratégico dos EUA”, aponta Andrêi Suchentsov, sócio-diretor da agência ‘Vnechniaia Política’ (Política Externa).

“A Rússia não representa uma ameaça para os EUA do ponto de vista militar (se não levarmos em conta o risco de guerra nuclear), mas a transferência do país para a categoria de ‘inimigos’ vai criar problemas seríssimos no que diz respeito à concretização de interesses americanos em uma série de regiões – Ásia, Europa, Oriente Médio –, bem como complicar o processo de contenção da China.”

Diante desse cenário, Washington e Moscou tentam assumir uma posição mais branda para evitar a escalada da situação na Ucrânia. “O primeiro passo com o qual todos concordam é a cessação das hostilidades no leste da Ucrânia. E agora isso está evidente, pois as partes estão dispersando as tropas”, diz Suchentsov.

Porém, segundo os especialistas entrevistados pela Gazeta Russa, ainda que seja possível os EUA e a Rússia chegarem a um acordo em relação à Ucrânia, a normalização das relações estará longe. Em primeiro lugar, porque não é fácil para os Estados Unidos elaborar um determinado modus vivendi (acordo entre partes cujas opiniões diferem, de tal maneira que elas concordam em discordar) com Moscou no espaço pós-soviético como um todo.

“As partes possuem diferentes abordagens em relação a esse espaço. Enquanto a Rússia, tanto no governo de Iéltsin, como no de Pútin, defendia e defende o reconhecimento do espaço da ex-USSR como sendo a esfera que engloba os seus interesses prioritários, os EUA não reconhecem essas reivindicações”, afirma Serguêi Markedonov, professor associado da Universidade Estatal Russa de Ciências Humanas.

Além disso, os EUA e a Rússia têm cooperado em várias frentes – no espaço, no Ártico e no Oriente Médio –, mas os países não dispõem de qualquer estrutura coerente de relacionamento mútuo que carregue consigo uma visão estratégica.

Se no futuro próximo as partes não fizerem um esforço para criar essa estrutura, restarão apenas dois cenários em que o confronto das potências poderá cessar, segundo Andrêi Epifantsev, cientista político e diretor da agência de análise Alte et Certe.

“O primeiro deles surge no caso de qualquer um dos países desistir de tentar expandir a sua esfera de influência. No entanto, para isso, ele deverá passar por uma catástrofe nacional. A segunda variante seria uma situação em que Moscou e Washington tivessem que combinar os seus esforços em face de um concorrente ainda mais potente. Não se espera um concorrente assim em um futuro próximo”, explica Epifantsev.

Nas atuais condições, a estabilização por meio do estabelecimento de um compromisso também é pouco provável. “Os dois países possuem um peso excessivamente diferente no mundo, porém, qualquer compromisso unilateral que for alcançado porque a Rússia desistiu de defender os seus interesses será apenas uma forma de derrota”, aponta o diretor da Alte et Certe.

 

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