Kremlin acredita em acordo entre Irã e Ocidente

Para especialistas, é cedo para falar em fracasso, mesmo após prorrogação das negociações  Foto: AFP/East News

Para especialistas, é cedo para falar em fracasso, mesmo após prorrogação das negociações Foto: AFP/East News

O Irã e os seis mediadores internacionais –os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas: Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Rússia, China mais a Alemanha– não assinaram o acordo global sobre o programa nuclear iraniano na fase final das negociações “devido a abordagens intransponíveis das partes relativamente ao problema” e à falta de tempo. Especialistas entrevistados pelo Gazeta Russa afirmam que ainda é cedo para falar de fracasso.

As negociações finais sobre o programa nuclear iraniano, que tiveram início em 18 de novembro, em Viena, terminaram sem as partes chegaram a um acordo em relação às datas e mecanismos de levantamento das sanções ocidentais impostas contra o Irã. Teerã insistiu no levantamento das sanções imediatamente após a assinatura do acordo –proposta que foi recusada pelos negociadores ocidentais.

Não menos crítica no processo das negociações foi a discussão sobre o número de centrífugas permitidas aos iranianos nas instalações nucleares. Como resultado, não foi possível assinar um acordo global previsto para esta segunda-feira (24).

Ainda nesta segunda-feira, o chanceler russo, Serguêi Lavrov, que estava em Viena, disse que as partes continuam na esperança de poder assinar o documento final do acordo no decorrer dos próximos três a quatro meses. Em uma conversa telefônica, os líderes da Rússia e do Irã expressaram o seu interesse em continuar o diálogo internacional sobre a questão.

Especialistas entrevistados pela Gazeta Russa acreditam que a principal razão pela qual os negociadores não conseguiram assinar o acordo final sobre o programa nuclear iraniano foi o fato de as partes fazerem pressão umas sobre as outras ao perceberem o interesse comum no sucesso das negociações.

Stanislav Príttchin, pesquisador do Instituto de Estudos Orientais da Academia de Ciências da Rússia, acredita que os mais interessados no sucesso das negociações foram os Estados Unidos e o Irã.

"Para Barack Obama, a resolução do problema iraniano serviria de compensação aos fracassos recentes da diplomacia americana no Oriente Médio. Quanto ao líder iraniano, Hassan Rouhani, é importante manter a promessa eleitoral e mostrar resultados aos iranianos, ou seja, o levantamento das sanções impostas ao país", disse.

Aleksêi Arbatov, diretor do Centro para a Segurança Internacional, do Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais, relaciona a falta de progresso nas negociações com as tensões geopolíticas globais nas relações entre a Rússia e a China, por um lado, e o Ocidente, por outro lado.

"O confronto aguçado atualmente se verifica não tanto entre o Ocidente e o Irã, quanto entre os países do grupo dos seis. O Irã entende isso e endurece as suas posições a fim de reduzir a pressão quer do Ocidente, quer da Rússia", disse o especialista.

A abordagem da Rússia

Os especialistas entrevistados pela Gazeta Russa concordam que Moscou teve, ao longo de todo o processo das negociações, uma posição construtiva e coerente sobre o Irã. Prova disso é o telefonema desta segunda-feira feito entre os presidentes da Rússia e do Irã, no qual ambos manifestaram o seu interesse em continuar o diálogo sobre o programa nuclear iraniano.

"Para nós é importante que as sanções contra o Irã sejam levantadas, o que abriria oportunidades para uma cooperação econômica mais estreita com o país", disse Stanislav Prittchin.

Já Aleksêi Arbatov, pelo contrário, acredita que o levantamento das sanções contra o Irã poderia ter consequências negativas para a economia russa: "Teerã irá inundar o mercado energético mundial com petróleo barato, o que fará cair ainda mais a economia russa."

Segundo o especialista, o Ocidente tem interesse nisso para poder obrigar a Rússia a aceitar um compromisso em relação à crise ucraniana.

Andrêi Baklítski, especialista do PIR-Centr para Estudos Políticos, não concorda com Arbatov quando este último diz que uma possível nova queda nos preços do petróleo, resultante do levantamento das sanções contra o Irã, possa ser usada como instrumento de pressão sobre a Rússia.

"Depois de Bushehr, a Rússia empreendeu a construção de novas instalações nucleares no Irã, por isso que a assinatura de um acordo final e o levantamento das sanções contra o Irã, pelo contrário, ampliam as oportunidades para a cooperação bilateral", disse o especialista.

Os especialistas concordam que um acordo provisório, no qual as partes deverão estipular a continuação das negociações, será assinado em breve.

 

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