A história do comércio entre Rússia e Brasil

Relações comerciais entre Brasil e China expandiram em 57% no ano passado, alcançando o montante de US$ 56, 3 bilhões Foto: Lori / Legion Media

Relações comerciais entre Brasil e China expandiram em 57% no ano passado, alcançando o montante de US$ 56, 3 bilhões Foto: Lori / Legion Media

Às vésperas do 55º aniversário das relações comerciais entre Rússia e Brasil, a Gazeta Russa relembra a história e ressalta os principais momentos da cooperação entre os dois países na área comercial.

Em 1814, chegaram ao Brasil os dois primeiros navios mercantes da Rússia, de propriedade da Casa de Comércio Brandt-Rodde & K. Nos anos seguintes, o comércio se desenvolveu apenas através de intermediários e alcançou uma cifra entre 3 milhões e 4 milhões de rublos (entre US$ 65 mil e US$ 87 mil) . O volume de exportação da Rússia foi cinco vezes menor do que o de importação, composta principalmente por algodão, café, couro, borracha e baunilha. Na costa brasileira, por sua vez, os russos entregavam trigo, madeira, petróleo, adubos minerais, vodka, álcool, ouro, esmalte e louça.

“O período de 1814 a 1917 foi caracterizado pelo grande interesse e esforço mútuo em se estabelecer o comércio perene. Mesmo assim, os empreendimentos sofreram diversas dificuldades, em primeiro lugar, da grande influência negativa da Inglaterra, fornecedora e compradora de produtos coloniais e das exportações russas, bem como do pequeno tamanho da frota mercante russa e da total dependência de intermediários, impedindo de forma significativa a expansão do comércio Brasil-Rússia”, explica o economista e historiador Aidar Shakírov.

Totalmente diferente foi o período entre 1917 e 1991, caracterizado em um primeiro momento por um grande impulso e depois pelo congelamento total do comércio entre os dois países. Eventos políticos, militares e revolucionários ocorridos tanto na URSS quanto no Brasil tiveram efeitos nótaveis nas relações comerciais. Em 9 de dezembro de 1959 foi assinado entre os dois países o Tratado sobre Comércio e Pagamentos, que colocou as relações bilaterais de URSS e Brasil em um novo patamar histórico.

Primeiramente, logo em 23 de novembro de 1961, as relações diplomáticas foram reestabelecidas. Em dois anos, escritórios de representação comercial foram abertos em Moscou e no Rio de Janeiro. Entre 1959 e 1963, o comércio aumentou 12 vezes, de 5,6 milhões para a 65,6 milhões de rublos (de US$ 122 mil para US$ 1,4 milhão). A participação da URSS no comércio exterior brasileiro em 1963 chegou a 3%.

Mas com a subida dos militares ao poder no Brasil em 1964, as relações comerciais congelaram: um pouco de petróleo russo em troca de algumas sacas de café e mais nada.

Durante a segunda metade da década de 1970 observou-se novamente um aumento no volume dos negócios, partindo de 125,8 milhões de rublos (US$ 2,8 milhões) em 1973 a 445,5 milhões (US$ 9,7 milhões) em 1978. O Brasil manteve regularmente o saldo positivo da balança comercial com a URSS, enquanto que “com as nações desenvolvidas o país constantemente apresentava um déficit comercial”, afirma Shakírov em sua obra “Rússia-Brasil: relações econômicas internacionais”. Naqueles anos, o Brasil adquiria sobretudo produtos de engenharia soviética, tais como turbinas e geradores que ainda hoje funcionam nas usinas hidrelétricas de Capivara e Sobradinho.

Cooperação

Nos anos 80 observa-se a transição das relações econômicas pautadas em acordos comerciais para o status de cooperação econômica. Nessa época, foi dado início aos trabalhos da Comissão Intergovernamental sobre Comércio e Cooperação Econômica e Técnico-Científica. Como resultado, já em 1984, uma equipe técnica composta por especialistas soviéticos prestou assistência à construção de uma usina para a produção de álcool etílico. Além disso, siderúrgicas brasileiras compraram tecnologia russa para alguns processos de fundição.

A última década do século 20 foi marcada por uma queda nas relações econômicas e pela estagnação em muitas áreas de indústria e comércio. A razão reside na reestruturação da vida e das atividades econômicas na Rússia, tanto no plano interno quanto no externo. No que toca à cooperação técnico-militar, apesar da compra pelo Brasil de mísseis antiáereos “Iglá” em 1994, não é possível considerar um sucesso os esforços nesta área.  

Recuperação

Sinais de recuperação começam a despontar na primeira década do século 21. As relações comerciais apresentam um crescimento de 42% em 2010, com as trocas alcançando o montante de US$ 6 bilhões. Este progresso se deu após uma acentuada queda de 46% durante o ano de 2009, sob os US$ 8 bilhões anteriores à crise financeira global de 2008.

Em 2012, as trocas comerciais batiam a cifra de US$ 6,7 bilhões. Declarações recentes dos líderes russos afirmam que em breve os valores irão ultrapassar os US$ 10 bilhões. Enquanto isso não ocorre, vale ressaltar que as relações comerciais entre Brasil e China expandiram em 57% no ano passado, alcançando o montante de US$ 56, 3 bilhões.

Apesar de a China também estar localizada geograficamente longe do Brasil, ela é considerada um importante parceiro comercial. Por mais que os empresários russos reclamem da fragilidade do sistema de transporte e de logística, esses não são os problemas principais. A China foi capaz de estabelecer e fortificar uma conexão direta com a comunidade empresarial brasileira, enquanto os russos ainda utilizam serviços intermediários.

Por que não existem voos diretos entre Brasil e Rússia? Perguntas como essas formaram a crítica do presidente da União Russa de Industriais e Empresários, Aleksândr Chókhin, em uma palestra a empreendedores durante a visita de Dilma Rousseff a Moscou no ano passado. Da mesma forma se manifestou o vice-presidente do Sindicato da Indústria de Turismo, Iúri Barzíkin, durante a Exposição Internacional de Viagem e Turismo de Moscou, ocorrida em março do ano passado.

Mesmo com a ausência de voos diretos entre os dois países, o número de turistas russos cresceu: em 2010, 15 mil visitaram o Brasil. E 2012, o dobro.

“Podemos alcançar o patamar de 100 mil turistas sem problemas”, diz o empresário brasileiro Gilberto Ramos, “precisamos apenas organizar voos diretos”, completou.

“Venham trabalhar com o mercado russo, ficaremos felizes com isso. Precisamos não apenas fortalecer o comércio mútuo de alguns produtos específicos, como fertilizantes e carnes, mas encontrar novas formas de cooperação. É necessário investirmos uns nos outros”, afirmou o primeiro-ministro russo, Dmítri Medvedev, durante sua visita ao Brasil.

Para isso não é preciso grandes esforços: concretizar na Rússia a política de exportação e importação de bens, serviços e capitais provenientes da América Latina. Temos de agir agora, enquanto o equilíbrio de interesses poderá servir à solução de problemas do Brasil e da Rússia.

 

Confira outros destaques da Gazeta Russa na nossa página no Facebook

Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies