Moscou e Washington ampliam cooperação na luta contra o EI

Países já adotaram um formato semelhante de cooperação no início da operação da Otan no Afeganistão Foto: Eduard Pessov/Ministério das Relações Exteriores da Rússia

Países já adotaram um formato semelhante de cooperação no início da operação da Otan no Afeganistão Foto: Eduard Pessov/Ministério das Relações Exteriores da Rússia

Durante as negociações de três horas em Paris, os ministros das Relações Exteriores da Rússia e EUA concordaram em ampliar a cooperação na luta contra os militantes do Estado Islâmico. Mudança na política de sanções poderia levar ao fortalecimento da participação de Moscou na luta contra os terroristas.

O chanceler russo, Serguêi Lavrov, e o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, se reuniram nesta terça-feira (14) em Paris, onde concordaram em ampliar a cooperação na luta contra o terrorismo no Oriente Médio.

Após as conversações, o chefe do Ministério das Relações Exteriores russo reconheceu a validade do encontro com o seu homólogo norte-americano, apesar da relutância ocidental em levantar as sanções impostas contra a Rússia.

Ao final da reunião, o tom das declarações conjuntas foi contido, porém construtivo: Rússia e EUA têm que resolver as suas diferenças, mas devem focar os esforços conjuntos em questões onde os pontos de vista de Moscou e Washington convergem.

Força retomada

Moscou e Washington concordaram em aumentar a troca de informações para combater os terroristas do grupo radical Estado islâmico, que invadiu parte do Iraque e da Síria. Cerca de 500 cidadãos russos estão atualmente combatendo nas fileiras do EI.

“Em muitos casos podemos interagir com maior sucesso para aumentar a eficácia dos esforços de toda a comunidade internacional”, disse Lavrov. “Isso se aplica, acima de tudo, à luta contra o terrorismo, que está se tornando a principal ameaça para uma grande área do Oriente Médio, bem como à luta contra o vírus ebola.”

De acordo com o especialista militar independente Dmítri Litóvkin, os países adotaram um formato semelhante de cooperação no início da operação da Otan no Afeganistão, em 2001. “As agências de inteligência de ambos os países efetuaram uma interação plena na luta contra o Talibã desde 2001, e no caso do EI vai acontecer algo parecido.”

A Rússia, que mantinha um centro de inteligência na Síria para interceptar a rádio das organizações terroristas na região, começará a efetuar uma troca conjunta de dados sobre as posições dos combatentes, garante o observador. “Porém, muita coisa mudou nas relações entre Moscou e Washington desde 2001, e ainda é cedo para esperamos uma cooperação mais profunda. O levantamento das sanções aumentará significativamente a assistência da Rússia e de sua inteligência na luta contra o EI.”

Diálogo X Sanções

Na véspera da reunião entre Lavrov e Kerry, a imprensa russa sugeriu que o objetivo do secretário de Estado nas conversações em Paris seria convencer Moscou a exercer pressão sobre as milícias do sudeste da Ucrânia, para que entregassem alguns dos postos de controle às autoridades de Kiev. A tentativa norte-americana de persuadir o líder sírio Bashar al-Assad a renunciar também foi apontada como causa do encontro.

“Nenhuma declaração do gênero foi feita após a reunião. Acho que no tempo que lhe resta é muito pouco provável a administração Obama mudar a ordem estabelecida das coisas e a percepção da sua política externa na sociedade norte-americana”, disse à Gazeta Russa o presidente do Conselho de Política Externa e Defesa, Fiódor Lukiánov.

De acordo com o analista, o principal objetivo das conversações foi manter contatos mútuos e o diálogo sobre questões críticas da política mundial. “O pior que pode acontecer agora é se perder a linha de contato. Mas não aconteceu nenhum grande acordo entre os Estados Unidos e a Rússia, e nem acontecerá.”

A posição de Moscou na retomada da cooperação com Washington também foi comentada pelo primeiro-ministro russo Dmítri Medvedev, em uma entrevista ao canal americano CNBC. Segundo ele, as sanções contra a Rússia causaram perdas para ambos os países e é impossível falar do reinício das relações sem abolir tais medidas.

“Vamos falar sem rodeios: não fomos nós que inventamos essas sanções, elas foram inventadas pelos nossos parceiros da comunidade internacional”, disse Medvedev. “Vamos sobreviver a essas sanções. Não tenho dúvidas de que dentro de algum tempo elas (...) simplesmente deixarão de existir. Mas claro que causaram dano nas relações.”

 

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