Estados Unidos obtiveram a oportunidade única de construir uma ampla coalizão de países para combater o EI Foto: Reuters
Atualmente, o Oriente Médio vive uma situação extremamente rara para a região: surgiu um inimigo comum a todos.
"O EI é uma séria ameaça para a segurança de todos, até mesmo para os países da região hostis entre si. Os adversários Irã e Arábia Saudita dizem isso abertamente, a Jordânia e a Turquia admitem-no de modo menos acentuado, enquanto o Iraque e a Síria já estão, no geral, em guerra com o EI”, diz a analista da agência Política Externa, Tatiana Tiukaeva. “Este grupo tem uma ideologia muito radical, que, em particular, se contrapõe a todos os Estados sunitas com objetivo de conquista do poder no mundo muçulmano. Para o xiita Irã, o grupo sunita EI é também um inimigo por definição –seguidores fieis da história do conflito entre xiitas e sunitas na região, os seus militantes aniquilam maciçamente xiitas no seu território."
Com isso, os Estados Unidos obtiveram a oportunidade única de construir uma ampla coalizão de países para combater o EI, fato que foi referido mais do que uma vez pelo secretário de Estado, John Kerry, e pelo presidente Barack Obama. No entanto, torna-se necessário não apenas combater no território do Iraque, mas também na Síria. E aqui Obama se vê em uma situação muito interessante: na Síria, os Estados Unidos têm um outro inimigo, o regime de Bashar al-Assad. E para a Casa Branca existem aqui dois modelos de abordagem possíveis: um de confronto ou o construtivo.
O primeiro é o de perdedor em qualquer cenário. Se os Estados Unidos estiverem inclinados para o confronto terão que combater os dois lados ao mesmo tempo (o que exigiria uma grande quantidade de energia e armamento) ou apenas um dos lados (uma guerra seletiva que inevitavelmente levará à vitória e ao fortalecimento do seu inimigo interno). No entanto, se os Estados Unidos assumirem um posicionamento construtivo, passaria a existir a chance de estabelecer relacionamento com uma das forças no interior da Síria. Assim, teoricamente, a guerra contra o EI poderia permitir aos Estados Unidos sair com dignidade da armadilha síria.
As próprias autoridades sírias já declararam estarem prontas a cooperar com os Estados Unidos.
"A Síria está pronta para coordenar o combate ao terrorismo a nível regional e internacional. Mas qualquer tentativa de luta contra o terrorismo deverá ser acordada com o governo sírio", disse o ministro das Relações Exteriores sírio, Walid Muallem.
Luta contra os terroristas
Mas aqui surge um problema: o governo de Obama não está disposto a cooperar com al-Assad por uma questão de imagem do país. Por isso, os Estados Unidos recusaram a via construtiva e, não podendo também escolher o modelo do confronto, optaram por uma terceira via. O Congresso aprovou uma lei para o fornecimento de armas ao Exército Livre da Síria (ELS), da oposição secular, que está lutando contra al-Assad e contra os islamistas.
Essa variante de atuação não satisfaz a Rússia. Primeiro de tudo, Moscou não gostou da escolha do contra-agente americano: ele é demasiado fraco e tendencioso.
"É extremamente arriscado confiar no fato de que a luta contra o EI será feita pela chamada oposição moderada", diz o representante permanente da Rússia junto da ONU, Vitáli Tchúrkin.
Atualmente, o ELS é fraco demais para essa luta.
Guerra contra EI precisa ser global, dizem especialistas
Iraque recebe helicópteros russos para combater EI
Iraque adquire caças russos para lutar contra radicais islâmicos"No meio das duas principais forças na Síria –o exército sírio e o EI–, todos os outros grupos simplesmente desvanecem. Incluindo o Exército Livre da Síria. Nos primeiros anos, o grupo se sentia bastante confiante, todas as suas frações tinham em comum o fato de se oporem a Bashar al-Assad. Mas depois, quando começaram a surgir questões sobre a distribuição de poder e gestão de um ou outro território ocupado, o grupo praticamente se desfez. Houve membros seus que se entregaram durante a anistia e outros que, em busca de dinheiro e poder de verdade, passaram para o lado do EI", diz o estudioso arabista e pesquisador da Escola Superior de Economia Leonid Issaev.
De acordo com ele, as armas que os Estados Unidos vão entregar a esses grupos simplesmente serão tomadas pelo EI, que acabarão ficando com elas.
Possíveis exigências
Em segundo lugar, a Rússia teme que os Estados Unidos acabem por sucumbir aos persistentes pedidos do ELS e os aliados norte-americanos na região bombardeiem não só posições dos islamistas, mas também unidades leais a Bashar al-Assad. É por isso que, de acordo com o vice-chanceler russo, Mikhail Bogdanov, Moscou está a favor da "consolidação dos esforços internacionais para combater os grupos terroristas na Síria, Iraque e outros países do Oriente Médio com estrito respeito pela soberania dos Estados da região e em coordenação com os seus governos legítimos".
A Rússia acredita que, uma vez que os americanos não conseguem chegar a um acordo com o governo de Bashar al-Assad, então a realização da operação terá de ser convocada pelo Conselho de Segurança da ONU e ter os seus parâmetros claramente formulados.
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