Não são só os moradores locais que integram as fileiras das milícias em Donbass, há também um grande número de voluntários oriundos de outras áreas Foto: RIA Nóvosti
Desde o início do conflito armado no sudeste da Ucrânia começaram a aparecer na mídia fotografias de pessoas com a aparência característica dos nativos do Cáucaso, segurando armas nas mãos e sorrindo corajosamente para as câmeras. A Gazeta Russa investigou como essas pessoas oriundas da região do Cáucaso ingressaram nas milícias separatistas.
Em 2013, de acordo com dados das diásporas étnicas da cidade de Donetsk, 37 mil armênios, 21 mil azeri, 9.000 ossetas, 4.700 tchetchenos, 2.700 daguestaneses e cerca de 3.000 georgianos residiam permanentemente na capital de Donbass, bem como nas cidades de Górlovka, Makeievka e Kramatorsk. Essas pessoas, cujas famílias já vivem na região há algumas gerações, consideram Donetsk como sendo a sua pátria. Confira abaixo os depoimentos de alguns desses moradores.
Zaur, daguestanês, 27 anos, é integrante da milícia desde março de 2014: “Sou de Górlovka, entrei para a milícia quase imediatamente após o início dos eventos. Quando surgiram os resultados do movimento Maidan ficou claro que não seria possível simplesmente ficar parado esperando as coisas se assentarem. Eraprecisodefender-seouentãoirembora".
Artchil, georgiano, 46 anos, é integrante da milícia desde meados de maio de 2014. "Eu nasci e cresci em Donetsk. Aqui eu tenho uma esposa, filhos, mais um pouco e serei avô. O que eu deveria fazer? Simplesmente ficar olhando e aguentando, esperando alguém chegar e ficar me dizendo o que devo falar e o que devo vestir? Até a minha alma doía quando eu via todas essas coisas acontecerem enquanto Donetsk estava simplesmente sendo pisoteada. Por isso meus amigos e eu decidimos que iríamos lutar. Eu, pessoalmente, estou pensando nos meus filhos”.
Aslan, osseta, 31 anos, é integrante da milícia desde maio 2014: "Fui me alistar no dia seguinte ao massacre que aconteceu no dia 2 de maio, em Odessa. Alistei-me para que não acontecesse uma coisa dessas na minha Donetsk. Essas criaturas desumanas devem ser detidas e desencorajadas de maneira bem enérgica. Elas não compreendem outra linguagem além da força. Elas sentem o cheiro do sangue, esse tipo de criatura deve ser detido através das armas, não há qualquer outra opção".
Não são só os moradores locais que integram as fileiras das milícias em Donbass. Há também um grande número de voluntários oriundos de outras áreas. De acordo com dados das autoridades da autoproclamada República Popular de Donetsk, cerca de 93% dos combatentes são do local, o restante é formado por voluntários. A maioria dos voluntários é composta por russos oriundos de diferentes regiões do país. Alguns se juntaram às milícias por razões ideológicas, outros têm parentes em Donbass, muitos viveram ali anteriormente e continuam a considerar o sudeste da Ucrânia como sua pátria.
Oleg, 42 anos, vem da cidade de Omsk. Integra a milícia desde junho de 2014, como operador de metralhadora: "Eu nasci aqui, esta é a minha terra natal. Até os 23 anos morei em Kramatorsk, depois toda a minha família mudou-se para a Rússia. Quando o conflito começou, ainda no inverno, liguei para os meus amigos e parentes, todos estavam com medo. Não sabiam o que iria acontecer com eles e qual seria o desfecho de tudo isso. Depois os "ukri" (ucranianos) enviaram o exército para cá, surgiram as primeiras vítimas e eu compreendi que havia começado, que agora a “limpeza” teria início. Arrumei as minhas coisas e vim para cá. Metade dos meus amigos de infância já estava na milícia, então não tive problemas para me alistar. Quando éramos crianças, meus amigos e eu brincávamos de guerra no quintal, mas agora a guerra é real, e as pessoas morrem de verdade. E é muito doloroso ver tudo isso, mas não há outra alternativa, não fomos nós que começamos isso".
Nikolai, 34 anos, veio de Moscou. Integra a milícia desde maio de 2014 e realiza missões de reconhecimento: “É evidente que você poderia ficar sentado em casa se lamentando porque agora os russos e os russófonos vão ser "massacrados" na Ucrânia. Desde o início estava claro que se Donbass fosse derrotada isso teria consequências muito ruins para a Rússia. Eu acredito que aqui nós estamos defendendo os russos, os nossos irmãos ucranianos e a Rússia. E tenho certeza de que não seremos derrotados. Aqui, como no tempo da União Soviética, todas as nacionalidades estão reunidas e todos compreendem pelo que estão lutando".
Todos os voluntários vieram para Donbass com recursos próprios e muitos deles estão correndo o risco de serem perseguidos em sua terra natal. Isto se aplica em primeiro lugar aos voluntários que vieram de países mais distantes. Entre eles há sérvios, tchecos, alemães, italianos, palestinos, franceses, israelenses e árabes sírios.
Predrag, sérvio, 34 anos, é integrante da milícia desde junho de 2014: "Tudo isso é culpa da OTAN. Nós da Sérvia sabemos muito bem como isso funciona. Eles fizeram a mesma coisa em nosso país. Primeiro a guerra civil, em seguida, os bombardeios e as tropas da OTAN. A nossa Iugoslávia foi simplesmente despedaçada, até agora não conseguimos nos recuperar. Agora eles estão vindo para cá, para a Ucrânia, mas estão mirando a Rússia. E aqui irmão está lutando contra irmão. Olho para as tropas ucranianas e vejo que as pessoas que estão lá são as mesmas que estão do nosso lado – os mesmos ucranianos e russos. A metade dos nossos prisioneiros são russos. Esta é uma verdadeira guerra civil. Mas até mesmo na Iugoslávia ninguém pensou em utilizar o sistema GRAD (sistema de lançamento múltiplo de foguetes com uma grande área de destruição – N. do E.). E aqui estão usando-o para atacar a cidade, sendo que essa arma é terrível. Isso é feito para que haja o ódio, para que surja o desejo de matar e para que todos se sintam como inimigos. Eu vim para cá e encontrei muitos dos nossos, outras pessoas que vieram da Sérvia, e nós não recebemos dinheiro. Recebo alimento, deram-me uniforme e armas, e eu sou grato por isso. Simplesmente nós sabemos que se o mesmo cenário que tivemos em nosso país se concretizar aqui, então estará tudo acabado, não haverá mais esperanças para nós. Porém, se a Rússia resistir, também nós teremos uma chance de recuperarmos a nossa independência. Hoje, somos como um apêndice da União Europeia, eles nos tratam como se fossemos uma colônia deles. Não podemos permitir que o mesmo ocorra aqui. Nos primeiros dias saíamos para enfrentar os tanques quase que de mãos vazias. Mas agora apreendemos muitos armamentos e não conseguirão fazer mais nada conosco”.
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