Crise ucraniana foi utilizada não apenas para fortalecer as relações entre a Ucrânia e a Otan", mas também para "dar mais músculos à Otan" perto das fronteiras da Rússia Foto: Reuters
Durante a cúpula realizada no País de Gales nos dias 4 e 5 de setembro, os líderes dos países membros da Otan (Aliança do Atlântico Norte) elaboraram uma declaração final na qual a aliança diz estar “empenhada na cooperação com a Rússia e no desenvolvimento de relações construtivas” com o país. Segundo o documento, a interação com Moscou prevê o fortalecimento da "confiança mútua e o aumento da compreensão bilateral relativa às forças nucleares não estratégicas na Europa, que deverá se basear nos interesses comuns de segurança do continente".
"Lamentamos que atualmente não existam condições para o desenvolvimento de tais relações", afirma a Otan na declaração. Por outro lado, a aliança avalia que os canais políticos com a Rússia "continuam abertos".
Vale ressaltar que Moscou também não quer desistir do diálogo com a Otan. "Estamos prontos para cooperar com a aliança em condições que levem em conta os nossos interesses nacionais", disse o representante permanente da Rússia junto à Otan, Aleksandr Gruchko.
Durante a cúpula a Otan não decidiu apenas pela condenação do posicionamento da Rússia no cenário internacional. Foram tomadas decisões concretas de contenção que fizeram lembrar os tempos da Guerra Fria. "Concordamos com um plano de atuação para o fortalecimento da defesa coletiva da Otan. Esta é uma demonstração da nossa solidariedade e determinação", disse o secretário-geral da aliança, Anders Fogh Rasmussen, durante uma entrevista coletiva após a reunião do conselho da Otan.
No âmbito desse plano, os países da aliança manterão o reforço das tropas nas fronteiras orientais do bloco. "Vamos manter, em uma base rotativa, a presença contínua do mar, no ar e em terra na parte oriental do território", disse Rasmussen.
Além disso, muitos aliados prometeram aumentar os seus orçamentos de defesa e parte desse dinheiro vai para a criação de uma força de reação rápida que será colocada o mais perto possível das fronteiras da Rússia: nos Estados bálticos, na Polônia e na Romênia. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse que as novas bases ao lado da Rússia se enquadram na política de pressão sobre Moscou para forçar o Kremlin a desistir do seu apoio aos separatistas do leste da Ucrânia.
A reação russa foi previsível. De acordo com Aleksandr Gruchko, citado pela agência RIA Nóvosti, "a crise ucraniana foi utilizada não apenas para fortalecer as relações entre a Ucrânia e a Otan", mas também para "dar mais músculos à Otan" perto das fronteiras da Rússia.
Força de reação rápida
Aleksandr Konoválov, presidente do Instituto de Estudos Estratégicos, disse a Gazeta Russa que a Otan não precisa ter tropas de reação rápida junto às fronteiras com a Rússia. "Para a aliança, esta é uma forma de mostrar aos países da Europa Central e Oriental a determinação do bloco em cumprir as suas obrigações nos termos do artigo quinto do Tratado de Washington, que preconiza que ‘o ataque a um é o ataque a todos’", disse ele.
Ainda segundo Konoválov, estes são os dias de ouro para os países do leste europeu membros da Otan. "Eles levaram vário anos tentando provar que, para sua proteção, era necessário gastar mais dinheiro e ser mais incisivo nas decisões, uma vez que a Rússia é muito mais perigosa do que parece à primeira vista. Agora o momento é oportuno, e eles estão usando-o cem por cento, para arrancar da Velha Europa e dos Estados Unidos o maior número possível de promessas e de ações concretas a fim de garantir a sua segurança", explicou.
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"No entanto, no geral, a implantação da força de ação rápida, bem como a eventual criação de bases militares, nada mais é do que um sinal para a Rússia. Essa decisão também não afeta particularmente o equilíbrio de poder na Europa: é mais o barulho do que o efeito", disse Konoválov. Segundo ele, o futuro das relações entre a Rússia e a Otan dependerá da resposta de Moscou.
"A declaração de Rasmussen não é outra coisa se não uma demonstração de que a Otan está mudando em resposta a novos desafios e ameaças dos seus membros”, disse a Gazeta Russa o especialista militar independente Víktor Litóvkin. “Nestes últimos anos, a existência do bloco não fazia sentido. Não havia ameaça. Por outro lado, este é um gesto reconfortante para os ‘novos membros’ da aliança na Europa Oriental e para os Estados bálticos, com seu medo paranoico da Rússia. Esta é uma espécie de afirmação de que a Otan não abandona os seus. Mas como isso será implantado na prática levanta uma série de questões.”
Segundo Litóvkin, a força de reação rápida pressupõe mobilidade, mas é difícil assegurar isso. "A Otan não tem sua própria aviação militar de transporte. A movimentação das forças da Otan para o Iraque e o Afeganistão foi assegurada pela empresa russo-ucraniana Volga-Dnepr. Os EUA também não poderão ajudar, porque não possuem aviões próprios de transporte militar na região, alugando aeronaves da Rússia."
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