As chefias das repúblicas autoproclamadas duvidam que todas as unidades do Exército obedeçam às ordens do presidente da Ucrânia para parar os combates Foto: Reuters
Após uma conversa telefônica com o presidente russo, Vladímir Pútin, o presidente da Ucrânia, Petrô Porochenko, anunciou um cessar-fogo temporário na região do Donbass, de acordo com um comunicado divulgado no site do governo ucraniano.
Anteriormente, o assessor de imprensa de Pútin, Dmítri Peskov, já havia confirmado a existência da conversa telefônica entre os presidentes, mas não comentou nada sobre o acordo alcançado entre os líderes dos dois países. Segundo ele, Pútin e Porochenko tinham apenas discutido vias para a resolução da crise, mas na manhã desta quarta-feira (3) foi divulgada no site do presidente da Ucrânia e em sua página do Twitter a declaração de que Kiev vai cessar por completo os combates.
"O resultado da conversa foi o acordo sobre um cessar-fogo permanente no Donbass. Foi alcançado entendimento mútuo no que se refere às etapas que irão contribuir para a paz", disse a mensagem.
Mais tarde, a assessoria de imprensa do governo russo especificou que Pútin e Porochenko chegaram a um acordo quanto a um cessar-fogo temporário.
As chefias das repúblicas autoproclamadas duvidam que todas as unidades do Exército obedeçam às ordens do presidente da Ucrânia para parar os combates. "Porochenko não controla os batalhões punitivos, nada garante que eles irão se submeter à sua decisão", disse à agência de notícias RIA Novosti o chefe da assessoria de imprensa internacional do Departamento Político do Ministério da Defesa da República Popular de Donetsk (RPD), Vladislav Brig. Ele informou não ter conhecimento de quaisquer acordos com a RPD sobre o cessar-fogo.
Decisão de acabar com a guerra
"Este é um momento que já há muito tempo deveria ter chegado. Existem várias razões políticas internas que levaram o presidente a dar esse passo: um incontável número de vítimas entre militares e a população civil", disse ao RBTH o vice-diretor do Instituto de Estudos dos EUA e Canadá, Pavel Zolotarev.
De acordo com o analista, teve papel na decisão do presidente a mudança de liderança nas repúblicas separatistas, mas a entrada dos navios de guerra norte-americano e francês no Mar Negro não influenciou a decisão. "Esta não é a primeira vez que navios entram no Mar Negro e a presença deles de modo algum influencia o que quer que seja. Eles fazem apenas demonstração da bandeira e, em certa medida, são um elemento de apoio dos aliados da OTAN – da Bulgária, Romênia, Turquia, da Geórgia – esta última na qualidade de parceira da Aliança do Atlântico Norte – e basicamente isso é tudo. Não é essa demonstração que vai assustar a Rússia", disse o analista.
Segundo o analista militar independente Víktor Litóvkin, não foi apenas a pressão de Pútin que levou Porochenko ao cessar-fogo, mas também a série de derrotas sofridas pelo exército ucraniano nas batalhas nas regiões de Donetsk e Lugansk. "Nas últimas semanas, o exército regular só tem sofrido reveses. O principal fator a desempenhar um papel crucial na decisão do presidente foi a sua incapacidade e falta de vontade de continuar a travar uma guerra contra o seu próprio povo, ao contrário da Guarda Nacional e dos batalhões financiados pelos oligarcas", disse o analista.
Tal como salientou o especialista, o descontentamento da população da Ucrânia está aumentando, uma vez que as mães não querem enviar seus filhos para a guerra e recebê-los depois de volta em caixões de zinco ou inválidos.
"Os aspetos financeiros, econômicos e técnico-materiais da economia ucraniana também tiveram bastante influência na decisão do presidente. Das reservas humanas eu já falei: fracassaram as três mobilizações para a guerra. O país está à beira do colapso econômico", disse Litóvkin.
Segundo ele, o presidente ucraniano quer aparecer como um pacificador na próxima cúpula da OTAN, no País de Gales, e mostrar que precisamente o apoio da aliança foi uma contribuição decisiva para a trégua no leste da Ucrânia.
"O que vai acontecer a seguir é uma questão que fica no ar. É necessário manter o cessar-fogo. Contra ele vão surgir muitos fatores, incluindo sabotagem dos nacionalistas ucranianos radicais. Quanto ao estatuto da região da Novoróssia (Nova Rússia), esse é um assunto para futuras negociações. Não se exclui a hipótese de a região obter um estatuto especial dentro Ucrânia, com autonomia máxima, tendo a língua russa como língua de Estado, a possibilidade de escolher os seus líderes, de criar sua própria polícia e órgãos de aplicação da lei", concluiu Litóvkin.
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