O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Pavlô Klímkin, seu homólogos francês, Laurent Fabius, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, e o russo, Serguêi Lavrov (de esq. à dir.)Foto: Reuters
Os ministros das Relações Exteriores da Rússia, Ucrânia, Alemanha e França se reuniram no dia 17 de agosto para discutir a situação na Ucrânia, no primeiro encontro em 45 dias entre os países para falar sobre o conflito na região. As conversações realizadas em Berlim foram extremamente difíceis e as partes não conseguiram chegar a um acordo sobre o cessar-fogo no leste do país. No entanto, os quatro países pretendem continuar trabalhando em um plano de resolução do problema e na preparação para a cúpula entre União Europeia, Ucrânia e Rússia, onde esse plano poderá ser definitivamente aprovado.
A reunião foi realizada na villa Borsig, residência de hóspedes do Ministério das Relações Exteriores alemão, onde os quatro ministros permaneceram por mais de cinco horas. O anfitrião, o chanceler alemão Frank-Walter Steinmeier, havia dito na véspera que depositava grandes esperanças nas negociações que poderiam acabar com a violência no leste da Ucrânia e ajudar a levar assistência humanitária à população. Ao final do encontro, ele falou com a imprensa sobre os resultados obtidos, que, a julgar pelo tom do discurso, foram mais do que modestos.
"Nós concordamos em informar os chefes de Estado e governo dos nossos países sobre os resultados da reunião e depois – provavelmente na terça-feira – iremos definir a forma de continuar a discussão", disse o ministro. Ele definiu as negociações como difíceis, mas se manifestou confiante devido ao fato de os participantes terem conseguido obter "algum progresso".
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Pavlo Klimkin, não fez declarações, mas seus comentários no Twitter não foram particularmente animadores: "Cinco horas de conversa difícil. Mas provavelmente para sairmos do lugar serão necessárias muito mais conversas de cinco horas". Além disso, Klimkin escreveu que Kiev continuará impondo limites nas negociações: "Não existe espaço para o compromisso quando o Estado tem que cruzar a sua linha vermelha. A Ucrânia não a cruzou", declarou ele.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguêi Lavrov, compartilhou com os jornalistas a sua visão dos resultados da reunião em uma curta entrevista coletiva na segunda-feira (18) de manhã. Ele lamentou a falta de progressos na questão do cessar-fogo na Ucrânia, o que considera “a tarefa mais urgente, porque há pessoas morrendo e infraestrutura civil sendo destruída”.
"Reafirmamos a posição da Rússia de que o cessar-fogo, e isto já foi dito várias vezes, deve ser incondicional. Os colegas ucranianos, infelizmente, continuam apresentando as mais variadas condições, que são bastante vagas, incluindo, como eles mesmo dizem, a garantia da impenetrabilidade das fronteiras", continuou o ministro.
Segundo Lavrov, a Rússia não tem "nada contra o fato de o controle da passagem na fronteira ser o mais eficaz possível". É neste sentido que Moscou quer que a missão de observadores da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) na Ucrânia receba drones para monitorar a fronteira a partir do lado ucraniano.
Lavrov garantiu aos jornalistas em Berlim que os quatro países irão continuar as conversações para preparar um documento estrutural de resolução da questão ucraniana. "Nós concordamos em continuar a discussão de todas essas questões – a do cessar-fogo, da entrega da ajuda humanitária, da garantia de controle fronteiriço mais eficaz e da preparação do terreno para o início do processo político – nos próximos dias, a fim de tentar chegar a uma formulação do documento que todas as partes aceitem. Por enquanto ainda não temos essa formulação", declarou.
De acordo com o chanceler, houve progressos em algumas áreas, "em primeiro lugar, no que diz respeito ao consenso sobre a entrega da ajuda humanitária no sudeste da Ucrânia".
Lavrov negou categoricamente as acusações do Ocidente e de Kiev de que Moscou estaria fomentando tensões no país vizinho. A concentração e movimento das forças armadas no território russo, perto da fronteira com a Ucrânia, segundo ele, "estão relacionadas com exercícios militares na região e são ditadas por interesses de segurança". "Aqui todo o cuidado é pouco e nós temos que estar vigilantes. A poucos quilômetros de distância, se não a apenas algumas centenas de metros da nossa fronteira, está ocorrendo uma guerra de verdade", disse ele.
Lavrov tem a certeza de que Washington poderia fazer as coisas saírem do ponto morto. "Infelizmente, os Estados Unidos não estiveram representados na reunião de Berlim, mas nós também enviamos aos nossos parceiros em Washington um forte sinal para que eles atuem junto às autoridades de Kiev a fim de conseguirem parar esta guerra fratricida e, em seguida, iniciar o processo de negociações", disse ele.
No entanto, os esforços internacionais para resolver a situação no leste da Ucrânia serão inúteis enquanto Kiev continuar recorrendo à força, disse Lavrov. Ele também teve uma reação negativa quanto ao pedido da Ucrânia junto à Otan e à União Europeia para que estes organismos disponibilizassem assistência militar a Kiev, já que os pedidos contrariam todos os acordos "já alcançados sobre a necessidade de um cessar-fogo e de iniciar as conversações".
Uma fonte do serviço de notícias da Gazeta Russa no Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse que o encontro na villa Borsig foi o segundo do tipo: no dia 2 de julho, o mesmo grupo de chanceleres se reuniu também em Berlim. Na época, os ministros aprovaram uma declaração conjunta na qual reafirmavam o seu compromisso para alcançar a paz na Ucrânia e apelavam para a criação de um grupo de contato com participação de representantes de Kiev, da Ucrânia Oriental, de Moscou e da OSCE. No entanto, a declaração não surtiu o efeito esperado, e as novas autoridades ucranianas continuam, ainda com maior intensidade, a realizar uma operação especial no sudeste do país, recorrendo à artilharia pesada e ao uso de blindados. Kiev chama esta operação de antiterrorista, Moscou, de punitiva.
Não é, portanto, de surpreender que o presidente francês, François Hollande, tenha apelado às autoridades ucranianas para que sejam mais contidas no uso da força militar. Segundo ele, a reunião de domingo em Berlim poderia ser o primeiro passo para a realização da cúpula sobre a questão ucraniana. Em conversações no último sábado (16) com o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, Hollande disse que a França está pronta para receber os líderes da Rússia e da Ucrânia, Vladímir Pútin e Petro Porochenko, respectivamente, bem como os líderes da UE, para apoiar o processo da resolução política do conflito.
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