Segundo o especialista, no outono deste ano, a Rússia e a Arábia Saudita planejam assinar um acordo intergovernamental do primeiro nível Foto: Photoshot/Vostock-Photo
No outono deste ano, Rússia e Arábia Saudita planejam assinar um acordo intergovernamental na esfera de utilização de energia nuclear para fins pacíficos.
A informação é do diretor-geral da corporação estatal Rosatom, Serguêi Kirienko. A Gazeta Russa conversou com dois especialistas russos sobre a possiblidade.
O diretor do Centro de Energética e Segurança e redator chefe da revista "Iaderni Klub", Anton Khlopkov, observou que para a Arábia Saudita, a construção de uma usina nuclear é, em primeiro lugar, questão de prestígio e concorrência regional. Ao lado da Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos já constroem sua primeira usina nuclear com a ajuda dos sul-coreanos, e o Irã já explora uma usina nuclear em Bushehr.
O especialista não acredita que a construção da usina seja um indicativo do desejo da Arábia Saudita de desenvolver armas nucleares.
"A diferença entre uma usina nuclear pacífica e capacidade nuclear militar é enorme, e países que não tem a infraestrutura e pessoal demorariam várias décadas. E Riade não precisa disso."
Riade não tem pressa
Apesar das negociações que vêm acontecendo há vários anos sobre a construção de grande quantidade de blocos energéticos atômicos na Arábia Saudita, ainda não se iniciou nenhum projeto. Riade prefere desenvolver, de forma consistente, todas as instituições e instrumentos necessários para realização do programa de construção das usinas nucleares de acordo com as exigências da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea).
"A Aiea tem uma espécie de mapa de construção de usinas nucleares. Nela está tudo escrito, começando com a criação do quadro legal, de órgãos reguladores, formação ou contratação de pessoal, seleção de parceiros etc. A Arábia Saudita provavelmente seguirá tal esquema", disse Khlopkov.
O especialista explicou que, segundo as leis russas, a implementação de projetos nucleares no exterior exige a criação de um sistema legal de três níveis.
"Em primeiro lugar, é necessário celebrar um acordo intergovernamental sobre o uso pacífico da energia nuclear. Depois, de acordo com a legislação russa, segue o segundo nível, que envolve um acordo intergovernamental sobre a construção de usinas nucleares. E, finalmente, o terceiro nível é o contrato para a construção de usinas nucleares."
Hoje, a Rússia ocupa a primeira posição do mundo em construção de usinas nucleares. A Rosatom está construindo plantas na Turquia, na Índia, na Eslováquia, no Vietnã, em Bangladesh e na China. Planeja construções na Jordânia, na Finlândia, no Brasil e em outros países. Na esfera de construção de usinas nucleares, a Rússia tem mais de 16% do mercado mundial. À Rosatom pertence 40% do mercado mundial de serviço de enriquecimento de urânio e 17% do mercado de fornecimento de combustível nuclear para usinas do tipo.
Segundo o especialista, no outono deste ano, a Rússia e a Arábia Saudita planejam assinar um acordo intergovernamental do primeiro nível, que não garante a participação da Rosatom na construção da usina nuclear. A possibilidade de participação é dificultada tanto pela forte concorrência de empresas ocidentais e asiáticas, quanto pelas diferenças políticas entre Moscou e Riade sobre os problemas de Síria, Iraque e Irã.
Vantagens da Rússia
Segundo Khlopkov, a Rússia tem, de fato, grande perspectiva não na construção das usinas, mas na esfera do ciclo do combustível nuclear. O país tem potencial para não só prestar serviços de enriquecimento de urânio, mas também fornecer combustível para as usinas nucleares sauditas diretamente e retirar o combustível gasto depois da utilização do seu recurso.
Economia e política
Grigori Kosatch, especialista em Arábia Saudita, observou que se o acordo de cooperação na esfera de utilização pacífica de energia nuclear for assinado, a Rússia terá a possibilidade de entrar num mercado muito promissor.
"A Arábia Saudita há muito tem argumentado que o petróleo é uma matéria-prima muito valiosa para que simplesmente o ‘queimem’. O desenvolvimento de produtos petroquímicos é um projeto nacional há muito realizável, o que significa que o país vai reduzir o consumo de petróleo bruto. A Arábia Saudita pretende compensar esta redução com energia nuclear."
Entretanto, o especialista lembrou que o acordo, cuja assinatura está prevista para o outono, nada mais é do que uma moldura. A Rosatom já assinou tais contratos com todos os países do Golfo. Eles apenas dão à corporação a oportunidade de participar de licitações para projeção e construção das usinas nucleares, e a Arábia Saudita já assinou acordos semelhantes com França, Coreia do Sul e Argentina, e está negociando com a República Checa.
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