Foto: RIA Nóvosti
Os governos da Itália e dos Estados Unidos denominaram de "intromissão" nos assuntos internos da Ucrânia o desejo de Moscou em fornecer ajuda humanitária aos habitantes das repúblicas separatistas do sudeste do país. A iniciativa russa pode levar a novas sanções por parte de Washington e Bruxelas. Especialistas acreditam que os governos russo e americano estão se dirigindo muito rapidamente para um ponto de não retorno e um nível completamente diferente de confronto.
Os eventos na Ucrânia têm avaliações completamente diferentes em diversas partes do mundo: Kiev declara guerra aos terroristas, enquanto Moscou e uma série de especialistas internacionais falam de uma guerra civil e um desastre humanitário. No entanto, a ONU não reconheceu oficialmente o que está acontecendo no sudeste da Ucrânia como uma catástrofe humanitária e a iniciativa russa, em colaboração com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), para ajudar a população civil da região tem recebido fortes críticas do Ocidente. Enquanto isso, Washington mais uma vez ameaçou fazer sanções contra Moscou e busca aliados na Europa.
O serviço de notícias RBTH entrevistou uma série de especialistas russos sobre como vai se desenvolver o cenário político nas relações entre a Rússia e o Ocidente e perguntou se a iniciativa de Moscou tem ou não um caráter puramente humanitário. Confira as opiniões.
Serguêi Karaganov, cientista político, decano da Faculdade de Economia Mundial e Relações Internacionais da Escola Superior de Economia
Nos Estados Unidos acreditam que é impossível recuar, e a Rússia também não parece disposta a isso. Eu espero que os nossos países parem antes de passar para o nível seguinte do conflito que, segundo me parece, está próximo. Eu não me recordo de ver esta hostilidade nem mesmo nos anos da Guerra Fria. Os Estados Unidos jogarão no campo onde são mais fortes: a esfera econômica. A Rússia, por sua vez, atuara na área político-militar.
Aleksandr Konovalov, diretor do Instituto de Estudos Estratégicos
Os Estados Unidos e a Europa têm uma opinião diferente a respeito dos objetivos da ajuda humanitária. A Rússia diz que está tudo combinado com o CICV e com as autoridades ucranianas, mas nem essas autoridades nem os representantes do CICV confirmaram isso.
Quando se move uma coluna de várias centenas de caminhões que podem transportar até mil toneladas de carga, surgem motivos para os EUA e a Ucrânia temerem que ali possam estar sendo transportados não apenas bens humanitários, fazendo com que os americanos declarem que qualquer entrada não autorizada no território ucraniano será considerada uma agressão.
Também existe a possibilidade de esses mesmos caminhões não voltarem vazios. Circulam especulações de que eles poderão trazer pessoas, especialmente dirigentes das repúblicas autoproclamadas, para tirá-las do território do sudeste da Ucrânia. Se isso acontecesse teria a minha aprovação, porque se forem retiradas da região todas as pessoas que apenas desestabilizam a situação, ela só poderá ficar melhor.
Serguêi Mikheiev, cientista político independente
A tomada de posição dos EUA e da União Europeia tem caráter fanático. Eles querem impor novas sanções à Rússia não por esta ajudar os separatistas, mas por prestar assistência humanitária à população civil que está sendo morta sob o fogo das forças armadas.
As sanções e a pressão de Washington sobre Bruxelas destroem as relações entre a Rússia e a Europa. Punir Moscou por ter enviado medicamentos para os civis que estão morrendo será um golpe baixo da UE e vai significar a sua dependência política completa em relação aos Estados Unidos.
Além disso, se alguém quiser enviar armamento ao sudeste da Ucrânia não necessita simular um comboio humanitário. Quanto às especulações sobre a fuga dos líderes das repúblicas autoproclamadas, tenho a dizer o seguinte: não há nenhum problema em retirar a liderança política do local em caso de necessidade.
De acordo com a agência de notícias russa Itar-Tass, o comboio humanitário é formado por 280 caminhões que levam artigos de primeira necessidade para a Ucrânia, como alimentos, remédios e água potável, em um total de 2.000 toneladas de material.
Segundo informou a administração da região de Moscou, entre os artigos enviados estão alimentos, incluindo 400 toneladas de cereais, 100 toneladas de açúcar, 62 toneladas de comida para bebês, 54 toneladas de equipamentos médicos e medicamentos, 12 mil sacos de dormir e 69 geradores elétricos de diferentes potências.O Exército ucraniano organizou uma forte campanha para retomar o controle das regiões fronteiriças à Rússia nas repúblicas autoproclamadas, mas no final falhou em seu objetivo. O secretário do Conselho de Segurança Nacional da Ucrânia, Andri Parubi, foi forçado a se demitir, uma vez que era ele que estava no comando da operação para a retomada do controle da fronteira, que resultou na morte de cerca de 3.500 militares ucranianos. A Ucrânia ainda não tem controle sobre grandes áreas do país, por isso as especulações em torno da "retirada da liderança política das repúblicas sob o pretexto de ajuda humanitária" aumentam as tensões na região. Atualmente, as fontes manipuladoras de informação, os blogueiros amadores e a mídia desempenham um papel importante no país.
Viktor Litovkin, especialista militar independente
Apesar de a Rússia sofrer perdas econômicas e políticas sérias, ajudar a população do Donbass, que se encontra sob o fogo das Forças Armadas da Ucrânia, é um sinal de humanismo. A população civil está sob ataque de lança-foguetes, suas casas estão sendo destruídas, não estão mais podendo beber água potável nem atender às necessidades fisiológicas básicas. É um dever humano salvar vidas e prestar assistência humanitária a essas pessoas. Por isso é que nós aceitamos os refugiados da Ucrânia, que segundo várias estimativas já são entre 500 mil e 700 mil na Rússia. E aqueles que ainda permanecem na zona de conflito nós temos que ajudar com comida e medicamentos. É o nosso dever sagrado e vamos fazê-lo se tivermos oportunidade.
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