Argentina não conseguiu encontrar uma solução para o problema da dívida que possui com os fundos credores Foto: AP
A Argentina está a um passo do calote, mas se ele realmente ocorrer não causará dano algum à sua economia. Esta é opinião de especialistas russos que partem do exemplo do país no final da década de 1990, quando a Rússia foi capaz de melhorar suas finanças após um calote e tornou-se a quinta maior economia do mundo.
Durante as últimas negociações ocorridas em Nova York, a Argentina não conseguiu encontrar uma solução para o problema da dívida que possui com os fundos credores, e muitos meios de comunicação, incluindo uma série de publicações russas, apressaram-se em declarar a falência do país latino-americano.
Há 14 anos, a Rússia estava em uma situação similar. “Depois da moratória russa em 1998, especialistas previam uma longa e dolorosa fase de recuperação. Isto não ocorreu, e a economia se recuperou em um tempo muito menor do que o previsto”, lembrou o chefe do Conselho Empresarial Russo para os Brics, Sergêi Katirin, em entrevista à Gazeta Russa. Segundo ele, a experiência da Rússia pode ser útil à Argentina. “Este país tem todas as possibilidades de sair bem dessa situação. É necessário realizar neste momento uma avaliação das ações subsequentes do governo argentino para que se identifiquem os pontos de contato entre os empresários argentinos e russos. Eu espero que isso ocorra em breve”, afirmou.
O representante comercial da Rússia na Argentina, Sergêi Derkach, expressou confiança no fato de que, mesmo sendo o calote um fato consumado, o comércio russo-argentino, bem como as relações econômicas mais amplas entre os dois países, não serão afetados negativamente. Derkach lembrou que nos dias 15 e 16 de setembro ocorrerá a 11ª sessão da Comissão Intergovernamental Russo-Argentina, durante a qual será discutida a situação e as perspectivas do desenvolvimento das relações econômicas e da colaboração técnico-científica entre os dois países.
Já Vladímir Juravel, analista do grupo empresarial Fibo, acredita que o calote pode piorar ainda mais a condição político-econômica da Argentina. Segundo ele, o estado atual das coisas levou o país a uma combinação de problemas econômicos e políticos, englobando recessão, alta inflação, desemprego, baixo volume de reservas cambiais e dificuldade para adquirir moedas fortes. Para Juravel, o calote irá somente agravar a situação, aprofundando a recessão e aumentando a inflação e o desemprego.
No entanto, o próprio especialista acredita que a Argentina tem chances de sair dessa situação, tendo em vista que possui uma considerável reserva cambial e não se esgotaram os meios de negociações com os credores. Juravel duvida, de qualquer forma, que a experiência russa da década de 1990 seja diretamente útil para a Argentina, pois a Rússia sofreu em 1998 uma forte desvalorização do rublo – de seis por dólar caiu para 21, e uma manobra neste sentido por parte do país latino-americano não traria nenhuma vantagem. “É difícil determinar quanto o anúncio do calote irá influenciar os principais títulos de dívida pública calculados em pesos, mas eu creio que não terá um efeito significativo.”
Juravel acredita também que os Brics não devem reduzir o ritmo dos diálogos com a Argentina, ainda que outros especialistas considerem os problemas surgidos nas negociações nos tribunais americanos fruto desta aproximação com o bloco. “A criação do Banco de Desenvolvimento dos Brics, com um capital inicial de US$ 100 bilhões, pode dar à Argentina a capacidade de financiamento para projetos necessários de infraestrutura”, frisou.
O diretor da empresa de consultoria FOC, Vitáli Derbedenev, acredita que esta crise não será tão grave quanto a de 2001. Segundo ele, os Brics ainda não possuem instituições conjuntas tão avançadas capazes de fornecer um apoio robusto à Argentina, mas os países do bloco podem participar da recontrução da economia e do sistema financeiro argentino em bases bilaterais. “Particularmente, refiro-me ao Brasil, que é um dos principais parceiros comerciais da Argentina, tendo em vista que a influência russa na economia do país latino-americano não é assim tão grande”, completou.
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