Além do fundo de reservas, as partes concordaram na criação do Banco de Desenvolvimento dos Brics Foto: AP
O principal acontecimento da 6ª Cúpula do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), realizada em Fortaleza nos dias 15 e 16 de julho, foi a criação de um fundo de reservas cambiais, no valor de 100 bilhões de dólares americanos, a ser organizado em um formato análogo ao do FMI. O fundo terá a função de proteger os membros do Brics em caso de súbita falta de liquidez financeira.
Apesar de a Rússia ter defendido anteriormente a abertura da sede do fundo em seu próprio território, foi acordado pelos membros que a instituição será baseada na China, em Xangai. “Não creio isso gere qualquer temor, tendo em vista, principalmente, que a cota de participação da China será de 41%, enquanto a da Rússia se resumirá a 18%”, explicou à Gazeta Russa o vice-diretor do Setor de Controle de Projetos e Programas do Instituto de Serviço e Administração Pública, vinculado à Academia Russa de Ciências. As cotas do Brasil e da Índia também serão de 18% cada, e da África do Sul, de 5%.
Além do fundo de reservas, as partes concordaram na criação do Banco de Desenvolvimento dos Brics, com a missão de financiar projetos de infraestrutura para além das fronteiras nacionais de cada um dos países-membros. O presidente russo Vladímir Pútin afirmou durante o encontro que tanto o fundo monetário, quanto o banco de investimentos contribuirão de forma decisiva para a independência dos países do Brics perante a política financeira das nações ocidentais, diminuindo as possíveis influências nocivas das “potências do Ocidente”.
Pútin também chamou a atenção para o fortalecimento da cooperação comercial e de investimento perante a situação atual de deterioração das relações internacionais. Para tanto, a Rússia deu início a 37 projetos, divididos em diversas áreas, incluindo pesquisa e desenvolvimento e ajuda humanitária. A Rússia propôs a criação da Associação Energética dos Brics, pela qual serão lançadas as bases do Banco de Reservas para Combustíveis e do Instituto de Política Energética dos Brics.
Antes do encontro, os líderes assinaram outros documentos em matéria de cooperação nos setores de crédito à exportação e seguros destinados ao comércio internacional. “Outro resultado positivo da cúpula foi a assinatura entre Brasil e Rússia de um plano de ação para a cooperação econômica e comercial. As partes concordaram em atingir um volume de US$ 10 bilhões em trocas comerciais em médio prazo”, diz o analista-sênior do Wild Bear Capital, Viktor Neustroev.
A assinatura deste documento permitirá às empresas russas se integrarem rapidamente à economia brasileira, particularmente no setor de petróleo e gás. “Há um projeto em andamento onde a companhia ferroviária russa pretende se engajar na construção de ferrovias no Brasil.”
Reunião do contra?
De acordo com alguns especialistas, a cúpula ainda não produziu resultados econômicos significativos. “Precisamos ser realistas: atualmente o Brics é uma plataforma para o intercâmbio de opiniões e pontos de vista. É um clube social”, sugere Roman Andreeschev. Segundo ele, somente após a consolidação do status jurídico do Brics como organização internacional será possível falar sobre benefícios práticos de tais encontros periódicos.
“O presidente Vladímir Pútin viajou para a América Latina em uma tentativa de neutralizar os efeitos negativos das sanções ocidentais sobre a economia doméstica e intensificar a cooperação naquela região”, afirma o analista da ACS “Gradient Alfa”, Egor Dvinianoiv, acrescentando que a Rússia convidou os Brics e outras economias emergentes a se unirem para a defesa de seus interesses face aos Estados Unidos e outros países desenvolvidos.
Os diversos acordos econômicos aprovados na presente cúpula também demonstram a real intenção de fortalecer a amizade entre estes países, evitando o discurso vazio. “No entanto, trata-se de mais uma carta de intenções. É cedo falar sobre projetos reais”, continua Dvinianoiv. O Brics, de acordo com o especialista, tem toda a capacidade de se tornar um refúgio e centro de atenções para todos os países insatisfeitos com a política dos EUA.
O próximo encontro será realizado nos dias 9 e 10 de julho de 2015 na cidade russa de Ufa, a 1.350 km de Moscou. No próximo evento, os organizadores da cúpula de 2015 terão em mente as prioridades identificadas durante o encontro no Brasil.
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