O Ocidente não quer um novo Tchernobil e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) já enviou especialistas ao país Foto: RIA Nóvosti
O atual governo ucraniano planeja comprar combustível nuclear da empresa americana Westinghouse. A decisão política envolve um grande risco de segurança, dizem especialistas, já que o combustível dos Estados Unidos não é compatível com as usinas da época soviética.
As usinas nucleares produzem de 45% a 50% da energia da Ucrânia. O governo decidiu garantir a "independência" da Rússia no setor energético, parou as compras de combustível russo e assinou um contrato com a americana Westinghouse.
Esse contrato é extremamente importante para os Estados Unidos, especialmente após a renúncia da Alemanha ao uso da energia nuclear. "Esse contrato aumentará o fornecimento de combustível para a Europa em 5% a 10%", diz o vice-presidente da Westinghouse, Mike Kirst.
No entanto, o combustível americano não é compatível com as usinas ucranianas. A Ucrânia já tentou usar este combustível em 2012 e 2013 e os testes falharam.
O fracasso ocorreu também por causa da baixa qualidade do produto americano, alertam especialistas.
"As novas autoridades, que não têm experiência no setor, acreditam que é muito fácil substituir um combustível nuclear por outro, como substituir o carvão extraído em Donbass por carvão polonês. Mas o combustível produzido pela Westinghouse é de qualidade inferior em comparação com o combustível russo", diz vice-diretor-geral do Instituto Físico-Técnico de Kharkov, Mikhail Umanets.
A instalação de cargas de combustível americanas em reatores nucleares soviéticos é uma prática perigosa, já um dispositivo simplesmente não coincide com o outro. Consequentemente, durante uma inspeção das áreas de atividade de várias cargas de combustível dos Estados Unidos, instaladas nos reatores das duas usinas ucranianas, foram detectados graves danos mecânicos e deformações.
"As características termomecânicas que causam estas deformações podem impedir a extração do combustível”, diz o vice-diretor do Instituto de Segurança no Desenvolvimento da Energia Nuclear da Academia de Ciências da Rússia, Rafael Arutunian.
“O mais importante é que cada uma das partes da usina (a zona ativa do reator, os sistemas de segurança nuclear etc.) esteja sempre sob controle e não produza uma reação em cadeia", diz o especialista.
Não se trata do fator humano ou da falta de profissionalismo de engenheiros ucranianos. A Eslovênia, a República Checa e a Finlândia, cujos reatores foram desenhados pelos especialistas soviéticos, já enfrentaram esse problema após a aquisição de combustível americano e voltaram à cooperação com fornecedores russos.
No entanto, o atual governo ucraniano, devido a razões políticas, decidiu experimentar de novo. Os representantes da Westinghouse afirmam que a qualidade de seu produto foi melhorado. No entanto, os especialistas em energia nuclear dizem que essas promessas não significam nada.
O presidente da Inspeção Estatal da Regulação Nuclear da Ucrânia, Elena Mikolaitchuk, declarou que é preciso realizar os procedimentos de adaptação e de licenciamento antes de importar combustível americano.
Em resposta, o governo, que não quer criar problemas para a Westinghouse ou atrasar a assinatura do contrato, demitiu Mikolaitchuk e nomeou uma pessoa mais flexível, Iúri Nedachkóvski, diretor da Energoatom. O novo presidente da Inspeção, em vez de falar sobre o licenciamento ou qualidade da produção, declarou que, em primeiro lugar, é necessário "se libertar da dependência da Rússia".
Invasões
Em 16 de maio, um grupo de cerca de 40 combatentes do Setor de Direita ucraniano tentou tomar pela força a usina nuclear Zaporójskaia. Eles declararam que só queriam proteger a usina de um possível ataque dos separatistas.
Os analistas não descartam novas tentativas de ocupar outras quarto usinas nucleares da Ucrânia.
O governo ucraniano já reconheceu que não é capaz de proteger suas instalações nucleares. Em 2 de março, a Rada Suprema solicitou ajuda internacional para protegê-las. O Ocidente não quer um novo Tchernobil e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) já enviou especialistas ao país.
Além disso, várias organizações europeias realizaram investimentos significativos nos serviços de segurança das usinas ucranianas. Por exemplo, a Agência Europeia para a Energia Nuclear transferiu cerca de US$ 300 milhões à empresa ucraniana Energoatom (operadora das quatro usinas ucranianas), e o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (Berd) emprestou a mesma quantidade de dinheiro à Ucrânia.
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