Representantes dos principais veículos impressos do mundo, incluindo a Folha de S.Paulo, se reuniram em Moscou nos dias 26 e 27 de junho Foto: Arkádi Kolibalov / RG
Mesmo durante a Guerra Fria, a retórica dos diferentes lados não era tão emocional e subjetiva como durante o conflito ucraniano, concluíram os especialistas presentes no evento. “Estamos nos confrontando com o problema da simplificação de sérias questões étnico-culturais e históricas da Ucrânia pela mídia russa e ocidental”, disse o presidente do Conselho de Política Externa e Defesa, Fiódor Lukianov.
Na opinião de Lukianov, as pessoas nem sempre conseguem ver a diferença entre os fatos e as declarações emocionadas na mídia, que levaram muitas vezes à distorção da realidade. Por outro lado, não há uma ideia clara de como exatamente o descontentamento das massas em relação aos políticos levou ao derramamento de sangue na Ucrânia.
“Agora surge na imprensa muita informação sobre a Ucrânia, demasiados fatos recaem sobre o leitor nesta ‘guerra da informação’. E na cabeça das pessoas nasce alguma confusão”, acrescentou Lukianov.
Imprensa em peso
Representantes dos principais veículos impressos do mundo, incluindo a Folha de S.Paulo, se reuniram em Moscou nos dias 26 e 27 de junho para o 5o Encontro Anual dos parceiros do projeto Russia Beyond the Headlines, do qual a Gazeta Russa faz parte.
O editor do jornal “Kommersant-Vlast”, Aleksandr Gabuiev, acredita, porém, que o conhecimento limitado do caráter étnico-cultural, histórico e político, não apenas por parte do leitor, mas também dos jornalistas, leva à promoção da propaganda e a uma visão distorcida da situação. “Apesar de todos os problemas do jornalismo, para melhorar a qualidade do trabalho desse tipo de correspondente, é necessário um contato regular com os líderes políticos responsáveis pela tomada das decisões em ambos os lados. Caso contrário, a informação se torna unilateral e assume um caráter propagandístico”, apontou.
Tal opinião foi compartilhada também pelo editor convidado do suplemento Russia Beyond the Headlines para o “The Wall Street Journal”, Greg Walters. Segundo ele, uma das razões pelas quais a Rússia perdeu a guerra da informação durante o conflito russo-georgiano, em agosto de 2008, foi o fechamento total dos altos representantes das autoridades russas em relação à mídia, que durou quase até o fim do conflito.
“Conseguíamos com facilidade obter comentários dos mais altos políticos e funcionários georgianos. Eu, pessoalmente, levantei o ministro da Defesa da Geórgia às três horas da madrugada para obter resposta às minhas perguntas. As autoridades de Tbilisi queriam que o mundo conhecesse o seu ponto de vista sobre os acontecimentos na região e eles conseguiram isso”, disse o jornalista. A Rússia, por sua vez, começou a se comunicar com a imprensa estrangeira somente quando o conflito chegava ao fim.
Ucrânia no muro
De acordo com Lukianov, Kiev tem mais chances de se tornar parte da “família europeia” do que Moscou 20 anos atrás. No entanto, não vai ser nada fácil para as atuais autoridades ucranianas. “Em termos de preparação para integrar a Europa, a Ucrânia está infinitamente longe de sua meta. Seria necessário aplicar sucessivas medidas draconianas para ajustar o país a alcançar os padrões da UE. Não sei até que ponto isso é realizável agora”, explicou.
“Os acontecimentos na Ucrânia foram muito inesperados para a União Europeia. Fomos encurralados: de um lado, o desejo acentuado e forte do povo em se aproximar da UE e, do outro, políticos que lutam para defender os seus interesses na região”, completou o consultor editorial do RBTH e ex-diretor da Associação Mundial de Jornais (WAN-IFRA), Timothy Balding.
Lukianov disse ainda que, em termos de mentalidade, a Europa ainda não acolhe Kiev como parte da sua “família” e que o interesse em relação ao país se manifesta principalmente devido às relações complexas e intrincadas com a Rússia. “A Ucrânia se tornou produto do complexo nó histórico das relações entre Moscou e a Europa. O conjunto dos acontecimentos históricos provoca grande celeuma por parte dos países ocidentais.”
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