Autoridades definem plano para solução da crise ucraniana

Foto: Reuters

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Presidente ucraniano Petrô Porochenko anunciou a suspensão das ações militares no sudeste do país até a próxima sexta (27). Autoridades das repúblicas separatistas concordaram com a proposta de cessar-fogo e se sentar com as novas autoridades à mesa das negociações em Donetsk. Enquanto isso, Pútin pediu ao Conselho da Federação para revogar a permissão de usar Forças Armadas Russas na Ucrânia.

A Casa do Governo, em Donetsk, reuniu nos últimos dias representantes de todas as partes envolvidas no conflito da Ucrânia. Na mesa de negociação estiveram o premiê da República Popular de Donetsk, Aleksandr Borodai, o ex-presidente da Ucrânia, Leonid Kutchma, e o líder do movimento Escolha Ucraniana, Viktor Medvetchuk, assim como o embaixador russo na Ucrânia, Mikhail Zurabov, e a enviada especial do presidente da OSCE, Heidi Tagliavini.

De acordo com o jornal “Pravda Ucraniano”, Kutchma está participando das negociações na qualidade de enviado do Presidente da Ucrânia, uma vez que o ministro das Relações Exteriores do país, Pavlô Klimkin, está em Bruxelas preparando a assinatura de questões econômicas do Acordo de Associação entre a Ucrânia e a UE.

O plano das autoridades ucranianas prevê garantias de segurança para todos os participantes das negociações, bem como isenção de responsabilidade criminal daqueles que depuserem as armas e não tenham cometido crimes graves. Além disso, está prevista a criação de uma zona-tampão de 10 quilômetros na fronteira russo-ucraniana.

De acordo com as condições propostas, “os edifícios administrativos ocupados ilegalmente nas regiões de Donetsk e Lugansk devem ser libertados imediatamente”.

O ponto-chave para os representantes do sudeste é a “aceitação, por parte do presidente e dos parlamentos das repúblicas, de um projeto de lei constitucional que defina o estatuto das repúblicas populares”. O que isso significa – federalização, estatuto de autonomia das repúblicas, ou qualquer outra proposta – ainda não está claro.

Futuro das negociações

O presidente da Rússia, Vladímir Pútin, enviou nesta terça-feira (24) uma carta ao Conselho da Federação (Senado russo) na qual propôs “anular a resolução sobre o uso das Forças Armadas da Federação Russa no território da Ucrânia”, anunciou o assessor de imprensa do Kremlin, Dmítri Peskov.

De acordo com o chefe do Conselho da Política Externa e Defesa, Fiódor Lukianov, a Rússia estaria evidenciando que não existe mais qualquer necessidade em adotar medidas militares. “A permissão para o uso das forças tinha, como agora entendemos, um caráter simbólico, e a sua abolição também tem um caráter simbólico: a Rússia mostra, em primeiro lugar, que está comprometida com uma solução pacífica e, em segundo lugar, que acredita na sua viabilidade”, disse Lukianov à agência RIA Nóvosti.

Segundo o cientista político, essa é também uma prova de que as negociações de Donetsk são “um processo político sério, bem preparado e no qual existe pelo menos o nível básico de entendimento que as partes querem negociar”.

No entanto, outros especialistas estão céticos sobre as perspectivas das negociações em curso. “O principal objetivo das autoridades de Kiev é lançar o processo das negociações de paz no país. Elas precisam mostrar ao público estrangeiro que estão procurando estabelecer a paz no país, quando, na verdade, não estão prontas para negociar a paz com as milícias”, sugere o analista político russo Serguêi Mikheiev.

O plano de paz do presidente ucraniano teria sido, segundo Mikheiev, deliberadamente elaborado para que fosse impossível cumpri-lo do ponto de vista do sudeste. “No dia 27 de junho, o presidente vai dizer que fizeram todo o possível, mas que as milícias se recusaram a cumprir as condições estabelecidas e que será necessário retomar as hostilidades armadas”, diz o analista. “Na realidade, porém, os confrontos entre a guarda nacional e as milícias não cessaram.”

O analista político ucraniano Vadim Karasev acredita que a realização do encontro já é, por si só, um bom sinal. “Kiev pode integrar a ala política da República Popular de Donetsk (RPD) e da República Popular de Lugansk (RPL) em seu sistema político. A história da ‘grande máquina Soviética’ está chegando ao fim”, argumenta Karasev.

“Deixem esses movimentos políticos participar das eleições parlamentares e receber novo estatuto da região no âmbito de uma descentralização assimétrica”, arremata o especialista.

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