Durante o encontro, Pútin (esq.) e o presidente ucraniano recém-eleito, Petrô Porochenko, reuniram-se pela primeira vez Foto: RIA Nóvosti
As recentes celebrações organizadas na Normandia, na França, foram a primeira oportunidade de reunir os líderes mundial após o início da crise ucraniana. Lá, eles tiveram a chance de iniciar o diálogo em busca de uma solução para o problema, além de promover o primeiro encontro oficial entre Vladimir Pútin e o presidente ucraniano recém-eleito, Petrô Porochenko.
A intenção de cessar fogo declarada pelos líderes russo e ucraniano não prevê o cancelamento definitivo das operações militares, mas indica que o processo de restabelecimento da paz entre os Estados saiu do ponto zero, garantem os observadores políticos da Rússia. No entanto, segundo eles, apesar da mesma intenção, Porochenko e Pútin buscam objetivos diferentes.
O presidente ucraniano prioriza a resolução rápida do conflito para dar início à liquidação da crise enfrentada pelo país, assim como tenta satisfazer as expectativas dos representantes da oposição. Mas, como os recentes acontecimentos no leste da Ucrânia não favorecem a imagem do país nem a do presidente, além de resolver o conflito, Porochenko precisa justificar as suas ações diante da mídia e parceiros internacionais, mantendo a integridade do Estado ucraniano.
“Já o governo russo considera o conflito no leste ucraniano uma continuação da luta pela Crimeia, porém, utiliza métodos diferentes que não preveem a intervenção aberta das forças armadas”, afirmou em entrevista à Gazeta Russa Pável Verkhniátski, chefe do Centro de Análise Estratégica da Ucrânia.
Segundo o cientista político, a Rússia tenta alcançar o seu principal objetivo geopolítico, isto é, impedir a propagação da Otan rumo às fronteiras da Rússia. A ameaça de a Ucrânia se juntar à União Europeia também preocupa o Kremlin. Durante o evento, Pútin falou sobre possíveis medidas de segurança caso o processo seja concluído – entre elas, a anulação de isenção das taxas de importação para os fabricantes ucranianos e alterações no regime de permanência dos cidadãos ucranianos em solo russo.
Europa no muro
Em entrevista à Gazeta Russa, o presidente do Instituto de Avaliação Estratégica, Aleksandr Konovalov, afirmou que as grandes corporações europeias estão tentando resistir à pressão dos Estados Unidos, pois não querem ter os seus negócios prejudicados pela crise ucraniana. “As sanções que têm por objetivo dificultar a vida dos ‘companheiros de Pútin’ não causam grandes prejuízos à economia do país e possuem caráter simbólico, além de demonstrarem a falta das intenções de ferir a economia russa por parte dos países ocidentais”, explica.
A participação de Pútin nas celebrações na França reflete, segundo o especialista, a vontade da Europa de estreitar a colaboração bilateral com a Rússia. “O governo francês não deixa de fornecer os porta-helicópteros conforme um acordo já assinado, enquanto a Alemanha não recusa o recebimento de gás russo. Em geral, a Europa não possui a mesma determinação dos Estados Unidos”, acrescenta.
O especialista garante que as exigências de abandonar as parcerias russo-europeias apresentadas pelo governo americano perseguem os próprios interesses do país ligados ao aumento brusco de produção do gás de xisto em território americano. O volume desse produto seria capaz de satisfazer a demanda interna e futuramente assegurar sua entrada para o mercado europeu.
Missão cumprida
A conversa mais prolongada de Pútin no evento se deu com a chanceler alemã Angela Merkel, que manifestou grande interesse no restabelecimento das relações entre a Rússia e os países ocidentais. A reunião entre os líderes russo e alemã aconteceu a portas fechadas, sem divulgação do conteúdo da conversa.
Iúri Uchakov, assessor de Pútin, apenas comunicou que “os principais assuntos abordados foram ligados à busca de soluções e não incluíram debates sobre as diferenças referentes à crise na Ucrânia”.
“O principal objetivo da participação russa na reunião na França consistia em retomar as relações entre o país e os Estados europeus. A participação de Pútin ao longo do evento permite afirmar que a meta foi atingida”, analisa Pável Sálin, diretor do Centro de Pesquisas Políticas da Universidade de Finanças, acrescentando que as fortes parcerias entre as grandes empresas russas e europeias impossibilita a saída da Rússia do mercado da União Europeia.
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