O que a imprensa russa comenta sobre a Ucrânia

Há um grande ceticismo sobre a possibilidade de Porochenko alcançar um cessar-fogo definitivo nos próximos dias Foto: AP

Há um grande ceticismo sobre a possibilidade de Porochenko alcançar um cessar-fogo definitivo nos próximos dias Foto: AP

Gazeta Russa comenta reportagens do jornal “Kommersant”, da revista “Expert” e da “Nezavissimaia Gazeta” sobre a situação no país vizinho.

O jornal “Kommersant” publicou um artigo afirmando que o presidente da Ucrânia, Petro Porochenko, pretende pôr fim à violência no leste do país ainda nesta semana. O jornal observou que pela primeira vez Kiev determinou um prazo sobre o término do confronto militar na região de Donbass, reconhecendo a situação como “inaceitável, porque a cada dia que morre um cidadão, a Ucrânia paga um preço muito elevado por isso”.

Segundo o jornal, a decisão foi apoiada pelo Kremlin, que deposita suas esperanças no grupo de trabalho formado pelo novo representante da Osce (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) na Ucrânia, Heidi Tagliavini. Por outro lado, o “Kommersant” enfatiza que os esforços talvez resultarão em apenas uma pequena pausa nas operações militares em curso na parte oriental do país e que elas ainda causarão mais vítimas.

Há um grande ceticismo sobre a possibilidade de Porochenko alcançar um cessar-fogo definitivo nos próximos dias, tendo em vista que “a liderança das novas repúblicas não concordam com essas declarações”. De qualquer forma, o jornal explica que as declarações de Kiev e Moscou demonstram que, “apesar da improbabilidade de uma rápida ‘desescalada’ dos conflitos naquela região, ambos os governos estão apostando em soluções políticas e não militares”.

A publicação,  por último, destaca que “o ponto mais baixo das relações bilaterais dos países que sobreviveram a esta crise –a queda do presidente Ianukovich e a anexação da Crimeia– já ficou no passado”.

“Tudo ou nada”

A revista “Expert” publicou um artigo intitulado “O reconhecimento de Porochenko é inevitável?”, no qual também consta a afirmação de que o novo presidente ucraniano promete em breve acabar com a “operação antiterrorista” em Donbass. Segundo a matéria, a operação já é considerada um fracasso e “as autoridades devem agora demonstrar coragem em reconhecer isso”.

Porochenko fez essa semana uma declaração sobre a estabilização na situação em Donbass e prometeu um cessar-fogo esta semana. No entanto, a publicação sugere que, devido à gravidade dos confrontos na região, as milícias atuantes são céticas quanto às declarações, “forçando, provavelmente, Porochenko partir para o tudo ou nada na repressão aos rebeldes”.

A matéria da “Expert" enfatiza que a “operação antiterrorista”, como iniciativa de Kiev, falhou por completo. Ocorre que ela não teve sucesso a partir do ponto de vista militar – talvez os únicos momentos bem-sucedidos do exército ucraniano foram a tomada do aeroporto de Donetsk e a batalha por Krasni Liman. Segundo a perspectiva econômica, a operação também se traduz em um fardo sério para o Estado ucraniano: ela tem custado milhões de dólares por dia e o país vive à espera de novos empréstimos do FMI e de outras instituições internacionais.  

Finalmente, a matéria da “Expert” afirma que a guerra está perdida em termos psicológicos: “a violência contra a população civil e a recusa obstinada de Vladímir Pútin a sucumbir às provocações conduziram a um sentimento entre a população de que a operação não tem por objetivo a defesa da pátria”.

Kiev se recusa a reconhecer os crimes de guerra e a mídia, “controlada pelos oligarcas locais, declara que em Slaviansk não são as tropas ucranianas que cometem violência contra a população civil, mas os próprios terroristas que lá se escondem”, escreve a revista.

Segundo o texto, talvez o problema maior seja “como Porochenko pode se dar o luxo de acabar com a operação, tendo em vista que há pouco assumiu o cargo de presidente e, por isso, não pode ser responsabilizado pelos crimes de guerra”.

Conversações

O jornal “Nezavissimaia Gazeta” também relata a seus leitores que Kiev inaugura as conversasões sobre a resolução da situação no leste do país. O presidente ucraniano, que faz parte das negociações, compôs um grupo de trabalho que tem por missão fazer de tudo para até o fim desta semana conseguir um cessar-fogo na zona de conflito. Para isso, reforçará, em primeiro lugar, a segurança das fronteiras, afirmou o jornal. Tal decisão, informa o jornal, é fruto de uma recomendação feita pela comissão americana, vinda do Pentágono à Kiev. Os EUA estão dispostos a dar ao país um adicional de US$ 48 milhões para o reforço das fronteiras ucranianas.

Mas não somente isso: o grupo de conselheiros militares americanos deverá partir em breve para Kiev com o objetivo de avaliar as necessidades de reformas na estrutura das forças armadas do país, principalmente no que concerne à realização de exercícios militares conjuntos e prestação de assitência técnica-militar.

O jornal também afirma que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) pretende aumetar suas atividades de parceria com a Ucrânia em um futuro próximo, relacionando as reformas no setor de defesa com o desenvolvimento e modernização das forças armadas ucranianas. Por outro lado, a publicação sugere que o novo governo não possui a intenção de abandonar a condição de não-alinhado instaurada pelo ex-presidente Victor Ianukovich. Porochenko dará início à construção de um novo instrumento internacional que garantirá a integridade territorial e a segurança da Ucrânia –isso não tem nada a ver com a adesão do país à Otan.

 

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