O líder russo deu a entender que o fim da tensão na Ucrânia interessa também a Moscou e, por isso, o governo está disposto a firmar alguns compromissos – entre eles, reconhecer os resultados da eleição presidencial do domingo passado (25) Foto: Mikhail Klimentiev/RIA Nóvosti
“Hoje em dia, já estamos trabalhando com as pessoas que controlam o poder em Kiev e, após a eleição, é claro que vamos trabalhar com os grupos recém-eleitos”, disse o presidente durante o evento da semana passada.
Aleksêi Kudrin, ex-ministro das Finanças e conselheiro econômico do presidente russo, acredita que as palavras de Pútin a respeito da Ucrânia e das relações da Rússia com o Ocidente simbolizam o resultado mais importante do fórum. “Entendemos que isso é uma suposição, uma expectativa, um desejo, mas, apesar de tudo, há mais esperança de que a situação será resolvida e todos nós poderemos voltar ao curso normal de trabalho”, disse Kudrin.
O especialista do Centro de Análises da Academia de Ciências Russa, Serguêi Utkin, concorda se tratar de um “sinal bastante claro”, mas tem dúvidas sobre a forma como a declaração está sendo interpretada no Ocidente. “Há aqueles que acreditam ser mais um truque para confundir os observadores e reduzir a pressão sobre os políticos russos”, explicou ao portal Expert On-line.
Segundo ele, o mais provável é que a diferença de posições desses grupos seja mantida. Além disso, os eventos na Ucrânia têm a sua própria dinâmica e, para que um modelo eficaz de solução da crise possa ser elaborado, “já não basta mais continuar a injuriar a Rússia”, acredita Utkin.
“Está evidente que, mesmo se retirarmos a influência russa do quadro ucraniano, os eventos que estão ocorrendo no país não vão se dissipar por conta própria”, acrescentou o observador, ao explicar que é necessário um processo completo de gestão de crises, que não terá êxito sem a participação construtiva, porém não exclusiva, da Rússia.
À espera de sinais
Entre os observadores russos, acredita-se que existe esperança real de chegar a uma solução se o Ocidente enviar sinais nítidos de que não está sendo analisada a perspectiva da adesão da Ucrânia à Otan.
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Autoridades russas assumem "tom conciliador" diante de processo eleitoral na Ucrânia“O Ocidente pode acusar a Rússia de duplicidade de critérios, mas não pode deixar de reconhecer que uma guerra civil perto das fronteiras dos Estados europeus, incluindo a Rússia, traz consigo numerosas consequências negativas”, observou Utkin.
“A situação atual do conflito em lenta combustão precisa ser abafada e o processo de comunicação de Kiev com o sudeste do país deve ser transferido para um curso político. É precisamente esse que deve ser o foco dos esforços de todos os lados, e agora não é o melhor momento para ficar esclarecendo qual desses lados foi o culpado por essa situação.”
Confiança perdida
A declaração de Pútin também soou como uma resposta às críticas típicas do Ocidente sobre a falta de confiança. “O presidente quer enfatizar que, antes que tivessem perdido a confiança nele, foi ele quem perdera a confiança em seus parceiros internacionais, tanto em relação aos europeus, quanto aos americanos”, aponta Mikhail Remizov, presidente do Instituto de Estratégia Nacional.
De acordo com Remizov, Pútin deu a entender que, com a sua decisão referente à Crimeia, a Rússia respondeu à tentativa grotesca de “colocá-la em seu lugar”. “Mas isso também é um gesto de que a Rússia, em certa medida, lava as mãos em face da guerra civil na Ucrânia e não está prestando suporte às regiões do leste da Ucrânia”, continua.
Publicado originalmente pelo portal Expert On-line
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