Importância da questão ucraniana é tanta que Kerry (esq.) desviou rota de voo para encontrar Lavrov (dir.) e discuti-la Foto: AP
A mudança de última hora de um voo do secretário de Estado dos EUA, John Kerry, para discutir a situação na Ucrânia com o chanceler russo, Serguêi Lavrov, não produziu resultado compatível com seus bruscos esforços. Mas, mesmo expressando pontos de vista opostos sobre as raízes da crise, Rússia e EUA concordaram em continuar buscando um terreno comum para resolver as tensões.
“Concordamos em trabalhar com o governo ucraniano, com o povo ucraniano em um sentido mais amplo, para alcançar a implementação de medidas prioritárias, como os direitos das minorias étnicas e linguísticas, o desarmamento dos agitadores, a implementação de reformas constitucionais e a organização de eleições livres e justas sob supervisão internacional”, disse Lavrov a jornalistas após quatro horas de negociações em Paris.
Em uma coletiva de imprensa independente, Kerry, que desviou um voo do Oriente Médio rumo aos EUA para a França para conduzir as negociações, reiterou a opinião de Washington de que as ações da Rússia foram “ilegítimas”. O secretário de Estado manifestou preocupação com as “forças russas que estão atualmente se juntando ao longo das fronteiras da Ucrânia”, apesar da ausência de provas concretas de atividades militares intensas na região.
Segundo Lavrov afirmara anteriormente ao Canal Um, o país não teria, entretanto, “nenhuma intenção ou interesse em cruzar a fronteira com a Ucrânia”. O ministro citou o presidente Pútin ao dizer que a Rússia iria proteger os direitos dos russos e russófonos na Ucrânia, utilizando todos os meios políticos, diplomáticos e legais a seu alcance.
Russofobia
Muitos russos étnicos e russófonos no leste da Ucrânia estão descontentes com os fortes tons nacionalistas e antirrussos em Kiev e no oeste do país. Carcóvia, Donetsk e Lugansk foram províncias russas até serem anexadas à Ucrânia pelos bolcheviques, em 1918, por razões políticas e ideológicas. Mas isso não quer dizer que há vontade de integração à Rússia. Em um referendo em 1991, a maioria dos ucranianos orientais votaram pela independência da União Soviética.
O leste industrial obteve certo grau de autonomia e laços mais estreitos com a
Rússia, que geraram empregos e capital para Kiev. Além disso, o russo
acabou sendo reconhecido como língua oficial da região, juntamente
com o ucraniano.
Mas a mudança violenta de liderança em Kiev em fevereiro passado mudou
o cenário. A tentativa imediata de revogar a lei da língua e a
substituição de governadores e prefeitos locais por nomeados pró-Ocidente levaram
à agitação, motivo de preocupação para Moscou.
Proteção
O presidente russo Vladímir Pútin expressou apreensão em discurso ao Parlamento russo. “Milhões de russos e russófonos vivem e continuarão vivendo na Ucrânia, e a Rússia sempre defenderá seus interesses por meios políticos, diplomáticos e legais.
“A Ucrânia é um Estado falido e, se os ultranacionalistas consolidarem seu controle sobre o poder e sangue for derramado no leste do país como consequência, a Rússia não poderá ficar observando de longe”, diz Ruslan Pukhov, diretor do Centro de Análise de Estratégias e Tecnologias.
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O presidente da consultoria Stratfor, George Friedman, acredita que uma possível escalada do conflito ainda está em aberto. “O governo de Kiev está muito fragmentado e, considerando que a hostilidade das facções pró-Rússia estão se aproximando do Ocidente, a probabilidade de protesto é alta”, diz.
Na opinião de Friedman, porém, a não intervenção militar do Ocidente é possível. “Tendo escolhido apoiar a criação de um regime anti-Rússia na Ucrânia, os EUA agora enfrentam consequências e decisões. A questão não é a implantação de forças, mas fornecer à Europa central, da Polônia à Romênia, tecnologia e materiais para desestimular a Rússia a entrar em aventuras perigosas.”
A Guerra Fria terminou muito melhor do que as guerras em que os Estados Unidos se envolveram diretamente, alega Friedman. “Na Europa, a guerra nunca se tornou ‘quente’. Pela lógica, em algum momento os EUA vão adotar essa estratégia”, continua. Segundo ele, esse movimento representaria uma guinada para longe da beligerância da década passada, marcada por hostilidades no Iraque eAfeganistão, entre outros países.
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